sábado, 28 de fevereiro de 2009

Intelectuais lançam manifesto de repúdio ao jornal Folha de S.Paulo


Quando penso que os lobos-em-pele-de-cordeiro da mídia, que se aproveitaram de forma criminosa da ditadura militar no Brasil para formar grandes impérios, já estão respeitando mais o povo brasileiro, reaparece um dos beneficiados tentando maquiar as atrocidades acontecidas naquele período.
Todo brasileiro medianamente informado sabe que vivemos, entre 1964 e 1985, um período negro para a liberdade de expressão, os direitos humanos e a democracia. Além disso, no livro "Direito à Memória e à Verdade", produzido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, e lançado recentemente, o Estado brasileiro já assumiu que a repressão política decapitou, esquartejou, estuprou, torturou e ocultou cadáveres, entre outros atos cruéis, de opositores da ditadura que já estavam presos e que não tinham como reagir. Mesmo assim há os que querem “apagar” acontecimentos históricos, na tentativa de reescrevê-los sob a ótica dos vencedores, confirmando o que escreveu o escritor argentino Jorge Luiz Borges: "O passado é indestrutível. Mais cedo ou mais tarde as coisas retornam e uma delas é o plano de destruir o passado."
No papel de um cidadão que não aceita qualquer forma de restrição às liberdades democráticas já conquistadas pelo povo brasileiro, é que divulgo o artigo “Intelectuais lançam manifesto de repúdio à Folha de São Paulo”, publicado pela Agência Carta Maior, em 23 de fevereiro de 2009.
Gilvan Almeida

Intelectuais lançam manifesto de repúdio à Folha de S.Paulo

SÃO PAULO - Um grupo de intelectuais lançou sábado (21) um abaixo-assinado na internet em repúdio à Folha de S.Paulo. O manifesto protesta contra um editorial publicado quatro dias antes pelo jornal, que relativiza as atrocidades da ditadura militar (1964-1985) e classifica o período como "ditabranda".O texto condena "o estelionato semântico manifesto pelo neologismo 'ditabranda' e, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pos-1964". Segundo os signatários do manifesto, "a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do pais".
Outra motivação do abaixo-assinado foi prestar solidariedade aos professores acadêmicos Maria Victória de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato, cuja legítima indignação ao editorial foi tachada de "cínica" e "mentirosa" pela Folha. "Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro", diz o texto.

A íntegra do manifesto é a seguinte:

REPÚDIO E SOLIDARIEDADE

"Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repúdio à arbitrária e inverídica “revisão histórica” contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro último. Ao denominar “ditabranda” o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país.Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história política brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo “ditabranda” é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964. Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a “Nota de redação”, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta às cartas enviadas à seção “Painel do Leitor” pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis à atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante às insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal. Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro".

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Esopo e a língua

Gosto de aprender através da interpretação de ditados, provérbios, fábulas, parábolas e outras formas de sabedoria popular. Gostei muito desta.
Gilvan Almeida


Esopo e a língua

Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia.
Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que está falando? Como podes afirmar tal coisa?
- Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei a maior virtude da Terra.
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns minutos voltou carregando um pequeno embrulho.
Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se.
- Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos. Acaso podeis negar essas verdades, meu amo?
- Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.
- É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda terra.
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro.
Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente resposta:
- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo? Indagou Esopo.
Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos os senhores calaram-se, comovidos, e o velho chefe, no mesmo instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo, deu-lhe a liberdade.
Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas muito conhecido da antigüidade e cujas histórias até hoje se espalham por todo mundo.

***

Clareia e adoça tua palavra, para que o teu verbo não acuse nem fira, ainda mesmo na hora da consagração da verdade.
Fala pouco. Pensa muito.
Sobretudo, faze o bem. A palavra sem ação, não esclarece a ninguém.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em fábula de Esopo

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A herança


A herança

Gilvan Almeida

Pais e mães: vocês já pensaram sobre a herança que estão deixando para seus filhos? Não, não estou falando de casas, fazendas, apartamentos, terrenos, carros e outros bens materiais. Estou falando no que está sendo construído no interior deles, em seus corações e mentes, através da criação que vocês estão dando.
A principal herança que recebi de minha mãe foi o gosto pela literatura. Com ela fiz muitas viagens através dos livros, conhecendo universos mágicos, distantes de nossa realidade de Rio Branco-Acre nas décadas de 60 e 70, paixões e segredos de heróis e heroínas, que alimentavam meus sonhos infantis e depois de adolescente. De meu pai recebi, e ainda venho recebendo, graças a Deus, grandes exemplos de solidariedade, dignidade, honestidade, trabalho, amor pela família e ao próximo, o que me dá o norte, a rota segura de minha vida.
Encontrei uma frase do terapeuta Karl Rogers que me fez pensar: “A criança precisa construir em si mesma uma imagem de que é amada, capaz, criativa e segura.” Voltei o meu exame inicialmente para a criança em mim, avaliando o quanto que já me sinto amado, capaz, criativo e seguro. Vi que preciso melhorar muito, amadurecer mais, continuar nessa caminhada de autoconhecimento, conscientização e transformações, e me ver cada vez mais sem máscaras, sem auto-enganos.
Em seguida, vendo o quanto que os pais tem importância nessa construção dos filhos, examinei o meu papel de pai através dos seguintes questionamentos: será que estou expressando na dosagem correta todo o meu sentimento de amor, de compreensão e de colocação de limites, para que eles se sintam verdadeiramente amados e seguros? Será que venho fortalecendo suas auto-estimas, reconhecendo e valorizando o que eles pensam e fazem, para que vejam que são capazes? Qual é o estímulo que venho dando para que eles percebam e acreditem em seus potenciais criativos?
Pude ver que é muito grande mesmo a responsabilidade de colocar um filho nesse mundo, e criá-lo com equilíbrio e firmeza, direcionando-o a ser um ser humano íntegro e feliz, em paz consigo mesmo e com seu próximo.
Li, há um tempo, que na França uma pessoa estava processando seus pais por má criação e a conseqüente geração de danos psiquiátricos e psicológicos severos, pedindo deles uma indenização para custear as despesas do tratamento que estava tendo que fazer. Não sei em que deu, mas achei coerente e justo o pedido.
(Escrito em 31.07.2006)