sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Humilhação

Você que está aí, com mesa farta, casa bonita, familiares saudáveis, bom emprego e conta bancária com saldo positivo, responda-me, por favor: existe maior humilhação que se possa fazer a um ser humano, do que esta que é feita neste país a muitos pais e mães de família que estão desempregados ou subempregados, sendo obrigados a verem seus filhos com fome, sem escola, sem moradia adequada, sem um atendimento digno em segurança social e saúde, sofrendo todos os tipos de discriminação e sofrimentos? Coloque-se no lugar destes pais e avalie, se fosse você, que atitude tomaria? Cruzaria os braços e aceitaria placidamente? Fugiria, como muitos fazem, através das bebidas alcoólicas e outras drogas? Faria qualquer coisa, mesmo que fosse ilegal, para suprir as necessidades familiares? Aceitaria tudo como coisa do destino?
Na adolescência comecei a enxergar mais criticamente as desigualdades sociais, e ver que elas não acontecem por acaso. Mesmo sendo época da ditadura militar, já na faculdade, entrei em contato com a literatura política de esquerda, o que muito me auxiliou a definir o meu perfil político de cidadão e de profissional. Não consigo aceitar a corrupção, “o jeitinho brasileiro” de ser mais esperto e passar os outros para trás. É de causar indignação saber que alguém rouba a merenda escolar de crianças que têm praticamente como única refeição diária o lanche da escola; ou que desviam comida e roupas dos hospitais públicos; ou ainda que burocratas estatais, em todos os níveis governamentais, ostentam riquezas que ontem não tinham, usurpando recursos que eram destinados a obras vitais para a melhoria das condições de vida da população, especialmente a mais carente. Pensemos nisto.

Gilvan Almeida

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Abandono e injustiça no cotidiano psiquiátrico

Sabemos que a corrupção não tem nacionalidade e que nosso país é um dos campeões mundiais. São tantos os escândalos políticos e financeiros que a maioria das pessoas nem liga mais. O que é um perigo, pois a banalização do mal só o alimenta. Os Governos privilegiam cada vez mais os ricos, com incentivos fiscais, anistia de dívidas, créditos lesa-pátria, ausência de pagamento de imposto de renda em transações financeiras, e taxam mais e mais os pobres e a classe média. É um Estado a serviço dos poderosos, onde os recursos jurídicos dos crimes de colarinho branco são julgados em tempo recorde, e os ladrões de galinha, fumadores de maconha e outros pequenos transgressores, quase sempre negros e pobres, passam anos presos.
É difícil conter a indignação quando encontro uma situação como esta: uma senhora idosa, psiquiátrica, que vive só, abandonada pela família, e sobrevive graças a uma aposentadoria devido à patologia mental que sofre, durante uma consulta mostrou-me uma correspondência, onde é informada que sua aposentadoria foi cancelada em 1999 mas o órgão responsável “esqueceu” de suspender o pagamento e de comunicar a ela. Mesmo assim, reconhecendo a própria falha, informam que a senhora terá um mês para repor aos cofres públicos a quantia de R$ 24.000,00. Ainda têm o acinte cruel de dizer que deram alguns descontos. O que fazer para amenizar o desespero daquela senhora? Além de não ter com quê pagar, como viverá sem a aposentadoria, já que foi abandonada pela família? Enquanto isso os fraudadores de milhões de dólares da Previdência estão em prisões confortáveis, alguns nem presos estão, e o dinheiro sumido, ou melhor depositado em paraísos fiscais.

Gilvan Almeida

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A dor de ser

Valho-me de um trecho do livro Depressão e melancolia, de Urânia Tourinho Peres, para trazer um estímulo à reflexão sobre a Depressão, esta que já é considerada o mal do século: “...O que dizer da dor que não pode ser dita? Sem causa ou natureza definíveis, sem possibilidade de compreensão? Dor do nada, simplesmente do vazio de existir, indescritível, incomensurável, e que, por isso mesmo, chama em vão a palavra? Muitos falaram dela, para dizê-la, traduzi-la ou minorá-la: tristeza, trevas, sombras sem fim, sol negro, nevoeiro, tempestade em céu sereno, certeza infeliz, apatia, acedia, tédio... O desespero da alma encontra refúgio na criação, na permanente procura de sentido. Como transformar em doença a dor de existir?...”
Nem todas as pessoas que estão vivas vivem. Muitas vegetam interiormente. Sem esperanças, sem alegrias, a vida para elas é um peso, sem significado, por isso muitas preferem a morte. Elas não conseguem conduzir com equilíbrio as próprias dores e, com isso, deixam de ver que na vida delas também há momentos de paz e de harmonia. A existência se resume em sofrer.

Nesta fase da vida, não tenho mais dúvida que viver dói, que a dor faz parte da vida de todos, sem exceção. Uns se anestesiam, adiando infantilmente este encontro.
A busca agora é o que fazer para tornar a vida menos dolorosa, desenvolver um meio de sofrer menos e aprender mais com o que foi vivido. Para isto, é importante que voltemos o olhar para dentro de nós mesmos, no sentido de perceber se estamos vivendo assim, distante dos nossos sonhos e buscas mais íntimas. Ter a coragem de se perguntar: eu sou feliz?
Entendo que a base da cura da depressão encontra-se no autoconhecimento, na procura de significados e razões do existir, trabalho que pode ser feito com auxílio da filosofia, da psicoterapia, da espiritualidade, da psicanálise e das religiões. Alguns precisam também de medicamentos.
Em um templo budista de São Paulo, encontrei uma frase, escrita na parede, que trago comigo como um objetivo que deve ser perseguido por todo aquele que quer ser feliz: “Vamos procurar o significado de ter nascido e a alegria de viver”.

Gilvan Almeida



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Consequências da demonificação da febre

O capitalismo utiliza-se, há décadas, de diversas formas para dominar e lucrar, nos principais campos de sua atuação. O segredo de todas elas é ter sempre um inimigo em foco. Na política internacional, por exemplo, já fizeram, ou ainda fazem parte deste foco, vietnamitas, comunistas, nicaragüenses, cubanos, muçulmanos, russos, iraquianos, afegãos, e tantos outros. Tudo isso tendo a mídia como grande aliada, para que a cabeça da população seja devidamente feita.
Na área da saúde, os laboratórios farmacêuticos, com o processo de demonificação da febre (que tornaram símbolo de doença e não a resposta da defesa orgânica que é), obtêm lucros astronômicos com as vendas de antitérmicos. Raros são os pais que não ficam apavorados, hoje em dia, com a mais leve alteração da temperatura de seu filho, como também são poucas as informações veiculadas à população, e até ao meio médico, que digam o que realmente a febre significa.
Li um artigo na revista Pesquisa Médica, em que uma pesquisa indica o comprometimento da resposta imunológica às vacinas estudadas e a própria eficácia delas. Coloco a seguir uns trechos que achei interessantes. Quem quiser ler o artigo completo visite o site da revista (http://www.revistapesquisamedica.com.br/PORTAL/textos.asp?codigo=11691).

Gilvan Almeida

Cautela com o uso profilático dos antitérmicos

A indicação desses fármacos para evitar a reação febril em lactentes, previamente à vacinação, pode comprometer a resposta imunológica à vacina e sua própria eficácia.

O aumento da temperatura corpórea é relatado na literatura como um mecanismo de defesa, pois ocorre em diversas espécies de vertebrados acometidos por processo infeccioso. Acredita-se que a febre contribua para o aumento do metabolismo, necessário em condições de infecção. (...)
A febre pós-vacinação, apesar de geralmente benigna e limitada, é motivo de preocupação de pais e cuidadores de crianças, bem como dos profissionais de saúde que temem seus eventos convulsivos. (...)
Com o intuito de tranquilizar os pais, muitos profissionais da saúde, inclusive, os pediatras, passaram a prescrever antitérmicos para crianças, após a vacinação. (...)
Estudos realizados na República Tcheca procuraram avaliar o efeito do uso do paracetamol profilático no momento da vacinação e dentro das 24 horas subsequentes na taxa de reações febris e na resposta vacinal em lactentes vacinados com a pneumocócica 10-valente conjugada à proteína D do Haemophilus influenzae não tipável (PHiD-CV), coadministrada com a vacina hexavalente difteriatétano- coqueluche acelular, a hepatite B, poliomielite inativada, H. influenzae tipo b (DTPa-HBVIPV/ Hib) e vacina oral contra rotavírus (HRV),
seguida pela dose de reforço de PHiD-CV mais DTPa-HBV-IPV/Hib. (...)
Os estudos realizados em dez centros da República Tcheca foram coordenados pelo professor Roman Prymula, da Universidade de Defesa, em Hradec Kralove. Ele randomizou um grupo de lactentes para receber três doses profiláticas de paracetamol, de 6 a 8 horas, durante as primeiras 24 horas após a vacinação com PHiD-CV, coadministrada com DTPa-HBV/Hib (n = 226), enquanto outro grupo não recebeu nada (n = 233). (...)
Com relação ao uso de um fármaco prescrito profilaticamente depois da vacinação e a imunogenicidade, a pesquisa trouxe um dado relevante: as respostas primárias dos anticorpos aos dez sorotipos de pneumococo contidos nas vacinas, e aos demais antígenos, diminuíram, consideravelmente, no grupo do paracetamol profilático. (...)
Segundo os autores, o antitérmico interferiu na resposta imune, ao bloquear as interações entre células dendríticas, linfócitos B e T, reduzindo, assim, a resposta inflamatória aguda desencadeada pela introdução dos antígenos no organismo, via vacinação. Quando o medicamento foi usado em presença de febre, o efeito sobre a imunogenicidade
não foi tão significativo em função de a resposta inflamatória já ter se instalada. A conclusão a que chegaram: a indicação de antitérmicos profiláticos em lactentes previamente à vacinação deve ser criteriosa, pois, além de não trazer benefícios, pode comprometer a resposta imunológica às vacinas.

Fonte:

Prymula R, Siegrist C, Chlibek R, et al. Effect of prophylactic
paracetamol administration at time of vaccination
on febrile reactions and antibody responses
in children: two open-label, randomized controlled
trials. L