domingo, 26 de junho de 2011

ANS X Planos de Saúde

Eu não sabia disso. Você, leitor(a), que paga caro um plano de saúde, na ilusória sensação de estar com seu atendimento em saúde assegurado, caso algo lhe aconteça, sabia? Como se sente tendo conhecimento que o médico responsável pelo seu atendimento era pressionado para pedir o mínimo possível de exames laboratoriais e outros procedimentos diagnósticos, no sentido de aumentar os lucros dos planos?
Trago esta informação no intuito de ampliar os conhecimentos sobre o que realmente acontece nos bastidores do Sistema de Saúde em nosso país. Dá para imaginar que esta prática dos planos não começou ontem, e que diversas lutas devem ter acontecido para, só agora, a ANS ter “força” para fazer esta normatização.

Gilvan Almeida

Planos estão proibidos de oferecer prêmios para médicos
Agência Estado – 13.04.2011
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2011/04/13/planos-estao-proibidos-de-oferecer-premios-para-medicos.jhtm

Brasília - Planos de saúde estão proibidos de oferecer prêmios para médicos que respeitarem uma cota mínima para solicitação de exames ou outros procedimentos complementares. A prática, que de acordo com profissionais é adotada por boa parte das operadoras para reduzir os custos, agora é expressamente considerada uma infração, de acordo com instrução normativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicada hoje no Diário Oficial da União.
A pena para operadoras que descumprirem a norma da ANS vai de sanção a multa de R$ 35 mil. "É um avanço inegável. O que o País precisa, agora, é que a medida seja colocada em prática e, principalmente, que seja fiscalizada", afirmou o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Aluísio Tibiriçá. A instrução foi publicada dias depois da mobilização de médicos de todo o País por melhores condições de trabalho e de remuneração.
Por meio da assessoria de imprensa, a ANS informou que todas as recomendações de operadoras que interferem na liberdade do médico já são consideradas infrações. Mas, de acordo com a ANS, as empresas se valiam da ideia de que "gratificação" não poderia ser considerada como um interferência.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Paracelso, o Pai da Medicina Holística

Em 19 de dezembro de 2010, quando inteirei 30 anos de formatura em Medicina, surgiu-me a idéia de visitar minhas memórias e fazer um resgate daqueles que contribuíram com a minha formação médica, que me sensibilizaram com suas filosofias e práticas em saúde, e também com bons exemplos de vida pessoal, especialmente aqueles que lutaram contra o preconceito da própria medicina da época em que viveram, e contra o arbítrio político e religioso, e ainda por praticarem a solidariedade com os pobres.
É um resgate para uma maior valorização ainda, pois a necessidade do constante estudo se faz mais e mais presente, com o objetivo de melhor servir, reavivando a disposição de ser, um dia, um verdadeiro discípulo desses Mestres.
Já postei textos que abordaram um pouco do pensamento de dois desses Mestres: Samuel Hahnemann e Gudrun Burkhard. Hoje apresento-lhes Paracelso, pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (Einsiedeln, Suiça, 17 de dezembro de 1493 — Salzburgo, Áustria, 24 de setembro de 1541), médico, alquimista, físico e astrólogo suíço.


Gilvan Almeida

PS: Ressalto que não ouvi nenhuma citação a respeito de Hahnemann, Gudrun e Paracelso, na Faculdade de Medicina, onde, acreditem, só ouvi falar em Hipócrates, o Pai da Medicina Ocidental, na véspera da formatura, quando lemos o Juramento do Médico. Conheci-os durante a Especialização em Homeopatia.

PARACELSO
O pai da Medicina Holística


"Paracelso, sem dúvida alguma, era um grande biólogo e um médico total, que entendeu muito do esoterismo. Era esotérico porque falou muito sobre o interior do homem e também sobre a influência das estrelas sobre os seres humanos." Bernd A. Mertz

Breve biografia

Na aldeia de Einsiedeln, Suíça, em 17 de dezembro de 1493 (ou em 10 de novembro do mesmo ano), nasceu Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim. Filho de Wilhelm Bombast, médico e alquimista; e neto de Georg Bombast von Hohenheim, Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros de São João, o jovem de baixa estatura, gago e corcunda, aos três anos de idade, foi atacado por um porco que lhe mutilou o genital, fato que somado à sua aparência física, proporcionou-lhe um complexo de inferioridade que o seguiu por toda a vida.
Na infância, Theophrastus acompanhava seu pai viajando pelos povoados da terra natal, observando a manipulação das ervas usadas para curar enfermos daquela região. Dessa forma, passou a apreciar a atividade do pai, tendo recebido deste as primeiras noções sobre Teologia, Alquimia e Latim. Ainda muito jovem, foi enviado à Escola de Beneditinos do Mosteiro de Santo André. Lá, conheceu o bispo Eberhard Baumgartner, considerado um dos alquimistas mais notáveis do seu tempo.
Formou-se nos estudos tradicionais de sua época e seguiu o caminho profissional de seu pai, estudando medicina na cidade de Viena e concluindo em Ferrara.


Viagens


Viajou para vários lugares do mundo, em busca de novos conhecimentos médicos, insatisfeito com o ensino tradicional que recebeu na Academia. Foi para o Egito, Terra Santa, Hungria, Tartária, Arábia, Polônia e Constantinopla, procurando alquimistas de quem pudesse aprender algo. Ao passar pela Tartária, Paracelso conseguiu curar o filho do líder Grande Khan.

Regresso à Europa

Em Salzburgo, Áustria, tentou estabelecer-se como médico, mas foi expulso da cidade porque simpatizou com agricultores rebeldes. Após vários conflitos com colegas médicos e farmacêuticos e o próprio conselho de medicina da cidade de Basel, Theophrastus recebeu uma ordem de prisão em 1528, forçando sua fuga.
Em Wurzburg, aprendeu com outros sábios a manipulação de produtos químicos, principalmente com Tritêmio, célebre abade e ocultista do Convento São Jorge.
Viajou pelo país como uma espécie de médico-cigano, e ficou conhecido como "o médico dos pobres" até voltar para Salzburgo em 1540, convidado pelo bispo da cidade. Faleceu em 24 de setembro de 1541, com apenas 47 anos. A causa de sua morte não foi esclarecida, e seu corpo foi velado na igreja de São Sebastião. Conforme seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.

Obras

Paracelso teria adotado (ou recebido de seu pai) este apelido por ser "superior a Celso", ou seja, melhor que Aulus Cornelius Celsus, o grande médico romano do século I, autor de De Medicine, a bíblia de todos os médicos da época.
Sua vida foi pautada pelas polêmicas e conturbações que sua personalidade, pouco adequada àqueles tempos, lhe infligia. Esta frase de sua autoria exemplifica: "Ponderei comigo mesmo que, se não existissem professores de Medicina neste mundo, como faria eu para aprender essa arte? Seria o caso de estudar no grande livro aberto da Natureza, escrito pelo dedo de Deus. Sou acusado e condenado por não ter entrado pela porta correta da Arte. Mas qual é a porta correta? Galeno, Avicena, Mesua, Rhazes ou a natureza honesta? Acredito ser esta última. Por esta porta eu entrei, pela luz da Natureza, e nenhuma lâmpada de boticário me iluminou no meu caminho".
Conta-se que certa vez, Paracelso queimou em público diversos livros de Galeno e Avicena, dizendo: "Que toda esta miséria possa ir pelos ares como fumaça".
Além da medicina, era versado em filosofia e política. Mas seus escritos estão relacionados principalmente com a sua profissão e chegam a mais de 8 mil páginas. Porém, apenas uma pequena parte é conhecida e estudada.
Em 1536, publicou Die Grosse Wundartzney (Cirurgia Maior), uma coleção de tratados médicos. Escreveu ainda trinta e dois artigos e ilustrações, com previsões de eventos até o ano 2106. Para que seus escritos tivessem uma penetração maior, redigiu todos em alemão, e não em latim, como era o costume.
A linguagem aplicada em sua obra é alegórica e passível de interpretação, um recurso utilizado para que não pudesse ser acusado de feitiçaria pelo implacável mecanismo inquisitório medieval.

Médico e Místico


A visão da saúde como o equilíbrio energético do corpo, a importância da fé na cura e a inter-relação entre o homem e tudo o que o cerca são apenas alguns dos conceitos elaborados por Paracelso, há 500 anos.
Até mesmo a forma de exercitar seu ofício era contestada. Acreditava ele, que a função de um médico ia além do diagnóstico e receituário convencional; era necessário um estudo do paciente e uma compreensão da doença em aspectos como a astrologia, alquimia, magia e outras variações esotéricas. Naquele tempo era impossível dedicar-se à Medicina, sem conhecer profundamente a Astrologia
A medicina daquele tempo, baseada no pensamento do filósofo Hipócrates, acreditava que as doenças eram causadas por mau funcionamento dos fluídos do corpo humano: sangue, catarro, bílis preta e bílis amarela. Paracelso contestou e simplificou este conceito. Segundo ele, os seres materiais têm origem em quatro elementos: terra, água, ar e fogo; e três substâncias: enxofre, mercúrio e sal. Os primeiros são realidades materiais compreendidas dinamicamente. Enquanto os outros são modalidades de comportamento da natureza. Ou seja, o enxofre é combustível, o mercúrio é volátil e o sal é resistente ao fogo. Portanto, a saúde é o equilíbrio, e a doença é o desequilíbrio de todas as energias presentes no ser humano, tanto no corpo físico como espiritual.
De acordo com Paracelso, a cura apóia-se em quatro bases distintas: filosofia, astronomia, alquimia e virtus. A filosofia significa: abrir-se ao conjunto das forças naturais, observar essas forças invisíveis na penetração da realidade total e perceber o invisível no visível. A astronomia explica as influências dos astros na saúde e nas enfermidades. A alquimia torna-se útil no preparo dos medicamentos. O termo virtus é uma alusão à honestidade do médico que, através do raciocínio de Paracelso, é uma pessoa em constante evolução e aperfeiçoamento, e deve reconhecer a ação da natureza invisível no doente ou, em se tratando do remédio, como atua no plano visível. Assim, o conhecimento médico tem menos a ver com conhecimento intelectual do que com a intuição.
Paracelso fazia freqüentes associações entre Magia e Imaginação. "O visível esconde o invisível, mas apesar disso conseguimos o invisível apenas através do visível", dizia. Nesse caso, magia significa a ação direta sobre as pessoas e todos os seres, sem ajuda da matéria. Ou seja, o mago é capaz de causar efeitos físicos sem ajuda física. No livro Paracelso - Alquimista, Químico, Pioneiro da Medicina, o historiador e filósofo Lucien Braun, cita: "toda natureza invisível se movimenta através da imaginação. Se a imaginação fosse forte o suficiente, nada seria impossível, porque ela é a origem de toda magia, de toda ação através da qual o invisível (de um ou outro modo) deixa seu rastro no visível. A energia da verdadeira imaginação pode transformar nossos corpos, e até influenciar no paraíso...".
Além disso, o médico suíço reconheceu que a fé fortalece a imaginação. Isso inclui as curas milagrosas atribuídas a ele e que não foram apenas resultado dos medicamentos, mas serviram para influenciar conscientemente a ação da imaginação do próprio paciente, de modo que agisse diretamente no desejo de ser curado. Atualmente, há na medicina, o chamado placebo, uma substância sem qualquer efeito farmacológico, prescrita para levar o doente a experimentar alívio dos sintomas pelo simples fato de acreditar nas propriedades terapêuticas do produto. De certa forma, pode-se entender que Paracelso já fazia uso deste recurso há mais de 500 anos. Outro fator interessante de seu raciocínio, é que ele também associava as características exteriores de uma planta à sua função medicinal (Lei das assinaturas). Por exemplo, folhas em forma de coração foram recomendadas para doenças cardíacas.

Seu Legado

A distinta natureza da filosofia de Paracelso é consequência da visão cosmológica, teológica, da filosofia natural e da medicina à luz de analogias e correspondências entre macrocosmos e microcosmos. As especulações acerca dessas analogias tinham seriamente empenhado a mente humana desde o tempo pré-Socrático e Platônico e durante toda a Idade Média. Paracelso foi o primeiro a aplicá-las para o conhecimento sistemático da natureza.
Adepto do esoterismo, estava convencido de que o conhecimento dividia-se em cinco estádios: uma doutrina secreta, ou filosofia hermética; o misticismo; o conhecimento científico; a prática alquímica e da medicina; e a ars magna, ou arte maior, uma síntese dos quatro anteriores. Como conseqüência desse método, acreditava na existência de um princípio vital benéfico que talvez se possa comparar ao sistema imunológico. A ação de tal princípio, dizia Paracelso, devia ser preservada durante a doença, mantendo-se o doente no que chamava de expectativa higiênica. Por isso, opunha-se radicalmente aos vomitórios e sangrias usuais na época, que debilitavam o doente.
Trata, também, de filosofia e ocultismo. Sobre filosofia, escreve O livro dos prólogos e O livro das entidades, composto de quatro tratados pagãos e um teológico. Sobre ocultismo, Filosofia oculta e o Tratado das ninfas, silfos, duendes, salamandras e outros seres. Finalmente, um livro de profecias sobre o final dos tempos, com o título de Prognósticos, composto de 32 textos sobre gravuras alegóricas que recordam as do também médico e contemporâneo Nostradamus (1503-1566).
“Tudo o que digam os teólogos e sofistas contra mim não me atinge. Que me chamem de mago, feiticeiro ou sacrílego, que me tratem como os judeus ou os fariseus trataram a Cristo”, afirma Paracelso na obra Filosofia oculta.
Esse homem tem uma paixão natural, na mesma linha que outros grandes heterodoxos do Renascimento, como Giordano Bruno ou o espanhol Miguel Servet. Certamente é um gênio solitário, que tem consciência da importância de suas contribuições e da influência que exerceu sobre o establishment. “Pouco me importa que me acusem de apaixonado ou ignorante”, escreveu em O livro dos prólogos, “bem sei que dirão que minha física, minha cosmologia, minha teoria e minha prática são singulares, surpreendentes e até absurdas. Não me assustam, posso dizer-lhes, as multidões de seguidores, sejam de Aristóteles, de Ptolomeu ou de Avicena.”
O pensamento e a atitude do sábio suíço influenciaram não apenas as ciências e o ocultismo de sua época, mas até hoje são lembrados e utilizados como base de estudos modernos. Ele foi um homem além de seu tempo, e seu legado de obras escritas e ensinamentos compõem o que atualmente é chamado de Medicina Experimental. Formulou os primeiros conceitos da homeopatia, farmacologia, medicina psicossomática, psicologia e bioenergética.
"O que uma geração considera como o máximo de saber, é freqüentemente considerado como absurdo em gerações seguintes; e o que, num século, é considerado como superstição ou ilusão, pode formar a base da ciência nos séculos vindouros." Eis uma das grandes máximas que podemos extrair dos vários trabalhos de Paracelso. Neles se vê que uniu a teoria com a prática – aquela deve ter origem nesta, como ele defendeu. É por isso que na sua lápide tumular, em Salzburgo, na Áustria, se diz ter ele tratado doenças, consideradas incuráveis, por meio da Ciência Maravilhosa.


Texto elaborado com base em:


1.Spectrum: http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/paracelso.htm
2.Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paracelso
3.Fraternidade Rosa Cruz: http://www.fraternidaderosacruz.org/paracelso_medico_filosofo_profeta.htm
4. http://www.sca.org.br/biografias/Paracelso.pdf
5.As plantas mágicas-Botânica oculta-Paracelso-Editora Hemus
6. http://super.abril.com.br/superarquivo/1994/conteudo_114099.shtml

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mentiras, fingimentos, máscaras, barbárie e civilização.

Compartilhei o artigo Mentiras, da Danuza Leão, com algumas amigas e, com uma delas mantive o diálogo que coloquei uns trechos em seguida ao texto.

Gilvan Almeida

MENTIRAS
Danuza Leão

Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.

Uma das mentiras:

É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.

É muito simples: não podemos.

Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante .

Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida “al dente”, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro. Tudo isso para que o casamento continue tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal e dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.

Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.

Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 comprimidos contra os radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.

É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito - não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver .
Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.

Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.

Parabéns para quem consegue fingir tudo isso....

Prezadas:
Olhem o que a Danuza Leão “descobriu”. Concordo com ela em muitos pontos. Texto lúcido, uma constatação mesmo. Não vejo que isso torne a mulher inferior. Acho até que há algumas que conseguem realizar (e bem) tudo isso, mas querer generalizar, e colocar como padrão de mulher atual, acho muito perigoso, pois é uma possível fonte de contínua insatisfação, que pode alimentar sofrimentos e doenças.

Gilvan


Bom dia querido amigo,
Amei especialmente a afirmação: "Parabéns para quem consegue fingir tudo isso.." (...) na sociedade somos "convidado(a)s" a representar papéis ... fiz um longo estudo deste tema em minha monografia para alcançar o título de antropóloga. Logo, atualmente não considero um crime representar papéis (por que já pensei assim um dia), mas o verbo fingir, utilizado por ela é perfeito.
Se fossemos entrar numa reflexão entre "representar" e "fingir" certamente ficaríamos um bom tempo nos dedicando ao tema; no entanto, o fingir me fisgou especialmente porque me enquadro perfeitamente na descrição detalhada da mulher século XXI.
Como gosto de dizer .. minha avó é que era feliz! Pena que não sabíamos ...
Ouvi uma frase um dia de uma psiquiatra, durante uma reportagem no GNT: "...nós mulheres do século XXI estamos testando o que é ser este modelo de mulher proposto, com suas perdas e ganhos ..., logo, as gerações que vierem terão muito mais possibilidade de encontrar pontos de equilíbrio que ainda estamos tateando.."
É querido amigo, me encontro atualmente representando, fingindo, chorando, tendo alegrias, decepções e/ou frustrações, pelo nível que me cobro ... mas com uma única certeza ... quero mesmo é ser feliz ... como for possível!

D

Para mim não tem ninguém 100 % autêntico na sociedade humana. Antropologicamente falando vejo assim: se todos fossem autênticos e expressassem plena e constantemente seus reais pensamentos e sentimentos, seria a barbárie, a guerra total. Nós ainda não aguentamos toda a verdade, por isso precisamos das máscaras. Para mim, a civilização só é possível por causa delas (já abordei o tema no post "Quais são suas máscaras?" http://gilvanalmeida.blogspot.com/2009_04_01_archive.html). Só com elas é que podemos nos suportar e conviver (desculpe a minha insolência, falando isso para uma mestra da antropologia. risos).
"Titio" Jung já dizia: "Todos nascemos originais e morremos cópias". Compreendo isso assim: em uma fase da infância as crianças são naturalmente autênticas e, por esta característica, com suas verdades, às vezes inconvenientes para os adultos, causam transtornos aos pais, e estes, rapidamente, tratam, nem sempre de forma equilibrada e adequada, de desensiná-las, introduzindo-as em um mundo de representação, onde não se pode dizer tudo o que sente e pensa. Desta forma, ao longo da vida, aprendemos a cumprir papéis, com nossas inúmeras e muitas vezes inconscientes e desconhecidas máscaras, que, às vezes, são tão grudadas, parecendo ser tão reais, que até nós mesmos acreditamos que somos o que elas mostram.
Não vejo esta forma de pensar e observar a realidade como pessimista, amarga ou negativa. Considero-a realista, perfeitamente comprovável por qualquer um; só é ter um mínimo de sinceridade consigo mesmo que veremos isto em nós e em nossos semelhantes.
E assim chegamos à sociedade moderna e tecnológica de hoje, onde não sabemos mais o que é mentira e o que é verdade, quem está ou não com a razão, pois todos se dizem certos e os outros é que estão errados.
Mesmo assim, continuo acreditando na espécie humana, em evolução espiritual, na metamorfose de nossas imperfeições, para que a construção de um mundo melhor possa realmente acontecer, a partir de dentro de cada um.


Gilvan

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Noam Chomsky: "Minha reação ante a morte de Osama"

Procuro manter "vivo" o meu “olhar político-ideológico”, buscando me tornar um ser humano consciente do mundo em que vivo. Igual a muitos, acredito que a maior parte da história que temos como oficial foi/é farsa, e não deixei de passar por este crivo os acontecimentos referentes ao “assassinato” de Osama Bin Laden.

Há tempos acompanho e admiro o posicionamento de Noam Chomsky(*), quando ele expõe as entranhas da dominação imperialista dos Estados Unidos da América, como o faz, corajosamente, neste artigo.

Gilvan Almeida

Noam Chomsky: "Minha reação ante a morte de Osama"

Poderíamos perguntar como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.

Por Noam Chomsky, para o Guernica Magazine.

Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmaram, a da esposa de Osama Bin Laden, que se atirou contra eles.
Em sociedades que professam certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.
O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam oito meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantaneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Portanto, Obama simplesmente mentiu quando disse, em sua declaração na Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela Al-Qaeda".
Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.
O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exacerbará. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderíamos perguntar como reagiríamos se comandos iraquianos aterrissassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões" de invadir e ocupar o Iraque, quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: as centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórida, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem os Estados Unidos, destruírem o país e assassinarem seu presidente criminoso.
O mesmo se passa com o nome escolhido para a operação: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada em toda a sociedade ocidental que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência dos apaches frente aos invasores genocidas.
A mesma mentalidade imperial se repete quando batizamos nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar a seus caças nomes como "Judeu" ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares já são suficientes para nos dar o que pensar.

(*) Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

Tradução: Cubadebate