quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quando o luxo vem sem etiqueta...

A humanidade vive, cada vez mais, em um mundo de aparências, onde a embalagem é o que importa, não o conteúdo, num estilo fast-food sem limites. Estamos em plena era do descartável. Na literatura, a auto-ajuda milagrosa de botequim; na música, a famosa eguinha pocotó e similares; na Medicina, as pílulas da felicidade e as promessas de beleza e vida quase eternas e sem dores; nos relacionamentos, paixões que mudam a cada lua, quando muito; na política, os eternos salvadores da Pátria, eleitos às custas de publicitários que enganam os eleitores desavisados (infelizmente a maioria, ainda) maquiando os candidatos de honestíssimos defensores do povo etc. Este texto que recebi pela internet mostra um ângulo desta realidade atual de forma bem interessante.

Gilvan Almeida



Quando o luxo vem sem etiqueta...

O cara desce na estação do metrô de Nova York vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1.000 dólares.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.
Conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife. Somente uma mulher reconheceu a música....


O vídeo da apresentação no metrô está no You Tube:http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

sábado, 8 de agosto de 2009

Adeus, Mariangeles!

Desde 1995 convivo diariamente com a internet. Milhares de e-mails, entre idas e vindas, conduzindo dores, saudades, orientações, alegrias, dúvidas, reencontros e tantas outras vivências que só o coração humano é capaz de nos fazer viver. Hoje ia fazer algo que já fiz diversas vezes, mas não consegui, pois fui impedido por um sentimento, que me alertou que eu não podia, naquele momento, simplesmente dar um delete. Vi, então, que, pela primeira vez, ia retirar um nome do catálogo de endereços porque a pessoa tinha morrido: minha amiga da Espanha, Mariangeles.
Semelhante aos demais seres humanos, pois somos todos iguais em carências, seja acreano, tailandês, russo, espanhol ou nigeriano, um dia ela chegou ao Acre, em busca de mais luz para seu interior. Iniciamos uma amizade, que sobreviveu à distância geográfica, alimentada por muitos e-mails.
Mariangeles lutou como uma guerreira em busca de se conhecer e poder transcender as dores de sua alma. Mulher corajosa que não teve medo e nem vergonha de se ver, e não fugiu de suas próprias fragilidades, assumindo-as com humildade e pelejando pela transformação alquímica do defeito em virtude, do espinho em flor. Mesmo diante do sofrimento que a doença lhe impôs, não se acomodou e continuava em busca de compreender mais e melhor os mistérios da vida.
Quantos de nós submetidos a uma dor profunda teríamos condições de sentir e dizer o que ela me disse em um e-mail:

“... Quiero contarte, con alegria, que llevo un tiempo ya, comprendiendo mi proceso de salud, como una bendicion... porque me esta trayendo, una gran belleza para el alma.... Es doloroso el estado fisico y solo Dios sabe si podra soportarlo mi cuerpo, mas puedo decirte, con alegria, que mi estado emocional esta siendo hermoso... Vivi siempre intensamente y buscando afinar mi discernimiento para saber ver de verdad... y en ese camino continuar andando, afinando cada vez mas el instrumento corazón...”
Dentre tantas coisas boas que ela me deu, uma é especial e ficará como sua maior recordação: a poesia Los portadores de sueños, de Gioconda Belli, que publiquei neste blog, no dia 22.05.2009.
Ao receber a notícia de sua morte, transmitida pela nossa amiga Zeneide, acreana que reside na Espanha, senti tristeza pela perda e, ao mesmo tempo, uma grande alegria em saber que, ao morrer, ela estava em paz, serena nos sentimentos e bem mais compreensiva sobre o real significado da vida.


Adeus, Mariangeles!

Gilvan Almeida