sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Livro bom: Enigmas da culpa

Para crescer e amadurecer, o ser humano precisa assumir os erros que comete, em vez de ficar sempre procurando culpados para os próprios infortúnios. Observando esta característica quase generalizada, o escritor e cartunista Millôr Fernandes sabiamente diz que “Errar é humano. Botar a culpa nos outros, também.” A culpa é uma emoção dolorosa que tem relação direta com o reconhecimento do erro e a consciência, e a história da humanidade tem diversos acontecimentos em que ela está presente, sendo o exemplo mais conhecido no mundo ocidental, a culpa de Judas e seu posterior suicídio, após ver o que fizeram com Jesus. Ela também é motivo de estudos da filosofia, da religião, da ética, da política e outros campos da ciência. Visando sintetizar e ampliar estes olhares, o médico e escritor Moacir Scliar escreveu o excelente livro Enigmas da culpa. A seguir alguns trechos que considerei interessantes:

Gilvan Almeida

1. “Entre o ideal de quem você deveria ser e a realidade de quem você é, está a culpa...”
Ruth Ellenson
2. (Para aliviar o sentimento de culpa) É preciso:
-Diminuir a auto-exigência;
-Aceitar as próprias limitações e falhas;
-Apaziguar a tirania do superego. O superego é o conjunto de valores morais e de modelos de conduta, uma espécie de juiz severo do comportamento;
-Para proporcionar entendimento e reconciliação interior.
3. "Sou humano, e nada que é humano me é estranho.” Terêncio
4. Segundo um princípio ético judaico, “...ajudar os necessitados não é uma questão de caridade, mas de justiça...”
5. "O conhecimento libera-nos da tristeza, do desespero, da inveja, do terror e de outras malignas paixões.” Ética, de Spinoza.
6. Os deuses gregos celebravam os instintos; o Deus cristão mobilizaria a culpa.
7. A culpa tem conseqüências. Para Freud, ela gera melancolia (...)
8. (...)renunciar às potencialidades pessoais, fugir da raia, acarreta aquilo que Viktor Frankl chama de vazio existencial, e que também se manifesta por culpa e angústia.
9. Educando para a culpa: no processo educacional, na família ou na escola, culpa e castigo sempre tiveram papel destacado (...)
10. Freeman e Stean assim resumem os passos (colocarei somente alguns) que podem ajudar a entender e elaborar a culpa:
-Não negar a culpa;
-Aprender a diferenciar a culpa real da culpa neurótica, originária do inconsciente;
-Aceitar, sem se envergonhar ou se culpar, fantasias sexuais e desejos proibidos;
-Não projetar a culpa nos outros;
-Não deixar que a culpa nos torne manipuláveis – pelo cônjuge, pelos filhos, pelos amigos, pelos colegas de trabalho, pelo chefe, por líderes políticos, por quem quer que seja (...)
Enigmas da culpa
Moacir Scliar
Editora Objetiva

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os pecados do Haiti

Você sabia que o Haiti foi o primeiro país das Américas onde os escravos conquistaram a libertação – 1803, o que no Brasil só aconteceria em 1888? Por que então ele é hoje o país mais pobre do continente americano? Neste artigo – Os pecados do Haiti - o escritor uruguaio Eduardo Galeano coloca luz nesta história de racismo, opressão, exploração capitalista e bloqueios de todas as espécies, para que saibamos que não só o recente terremoto é o causador das desgraças do povo haitiano.
Artigo completo:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16342&boletim_id=637&componente_id=10620

Gilvan Almeida

Os pecados do Haiti

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental. Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros.

“... O Haiti fora a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro"...

“... A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação...”

Fonte: Agência Carta Maior

sábado, 16 de janeiro de 2010

Defesa do consumidor

Antigamente produto falsificado era pejorativa e preconceituosamente atribuído ao Paraguai. Vivemos, hoje, um tempo em que já não sabemos facilmente distinguir o que é falso e o que é verdadeiro, seja nos comportamentos humanos, no que a mídia nos mostra, como também nos produtos que adquirimos em nosso dia a dia, necessários ou não à nossa sobrevivência. A pirataria generalizou-se, e ninguém tem mais certeza do que é original. Até produtos vitais, como determinados medicamentos e alimentos, estão sendo falsificados e criminosamente vendidos à população. Por isto, é importante que busquemos nos certificar, através de informações idôneas, a origem e a composição do que estamos consumindo.
Há alguns anos assino a revista Proteste, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor que, além de orientar e defender seus leitores e associados sobre os direitos dos consumidores, realiza e divulga testes com diversos produtos – alimentícios, eletrodoméstico, eletrônicos, etc. Por exemplo, vejam o que o teste com protetores solares revelou, expondo o absurdo que é as pessoas acharem que usando qualquer um protetor estão protegidas dos raios ultra-violeta.
Leia mais no site da Associação:
http://www.proteste.org.br/

Gilvan Almeida

Pro Teste reprova oito entre dez protetores solares FPS 30
Do UOL Ciência e Saúde

Apenas dois entre dez protetores solares FPS 30 em loção avaliados pela Pro Teste Associação de Consumidores comprovaram eficiência na proteção solar. E apenas três não apresentaram na composição o benzophenone-3, um ingrediente que já é proibido em outros países, por ser potencialmente cancerígeno.
Quatro dos protetores têm baixa proteção UVA (cujos raios atingem as camadas mais profundas da pele, causando envelhecimento precoce), mas a legislação brasileira não exige um mínimo. E cinco deles não são resistentes à luz e ao calor, perdendo a eficiência.

É o que mostra a análise publicada na revista Pro Teste de dezembro e disponibilizada no site da entidade: www.proteste.org.br. O teste envolveu análise de rotulagem, composição, irritabilidade, hidratação, proteção, resistência à exposição solar, e teste em uso.

A associação reivindica que seja proibido o uso da substância benzophenone-3 na composição dos produtos, ingrediente proibido em outros países, por apresentar esterogenicidade, entrar na circulação sanguínea e ser potencialmente cancerígeno.
Também está pedindo à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passe a exigir o fator UVA de no mínimo um terço do FPS do produto, assim como ocorre na Europa, e que esta informação conste no rótulo. Assim como sejam obrigatórios testes de fotoestabilidade para verificar se eles são estáveis nas condições reais de uso, durante a exposição solar.
O FPS é responsável por bloquear os raios UVB, que são mais fortes entre 10 horas e 16 horas, período não recomendado para exposição prolongada ao sol. São os principais responsáveis por câncer de pele, queimaduras e vermelhidão.

Resultados

Os protetores L'Oréal Solar Expertise e o Cenoura & Bronze foram os que se saíram melhor na avaliação de eficiência do filtro solar.
No teste de fotoinstabilidade, o FPS dos produtos foi medido antes e depois da exposição a uma temperatura de 40ºC. As marcas Avon, La Roche-Posay, Nivea, Banana Boat e Sundown foram reprovadas.
Alguns produtos, como o da Nívea, perderam 50% do seu FPS. Todos os protetores analisados são de fator 30. Após uma hora de uso, eles caíam para FPS 15. O segundo pior foi o La Roche Posay, que manteve só 62% de sua proteção indicada no rótulo. Isso não quer dizer que os produtos não oferecem proteção aos raios UVB, e sim que têm pouca resistência à luz e ao calor, segundo a associação. Além de instável à exposição solar, o Coppertone declarou um fator de proteção (30), maior do que o medido (25).
Todas as embalagens mencionavam resistência à água, mas após imersão de meia hora, a proteção do produto da Natura caiu para 30% do FPS inicial, por exemplo. O Sundown caiu para 55%.
A presença de substâncias bloqueadoras dos raios UVA - que têm incidência constante durante o dia todo - é indicada nos rótulos dos 10 produtos. Mas só três embalagens mostram o grau de proteção: Cenoura & Bronze, L"Oréal Solar Expertise e Natura Fotoequilibrio. Não há regulamentação no Brasil que obrigue a presença de substâncias bloqueadoras dos raios UVA, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Os produtos que não apresentaram na composição o benzophenone-3, ingrediente que segundo a associação já é proibido em outros países, foram o L'Oréal Solar Expertise, o Cenoura & Bronze e o Hélioblock da La Roche-Posay.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/12/01/pro-teste-reprova-oito-entre-dez-protetores-solares-fsp-30.jhtm

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O espaço secreto

Gosto, cada vez mais, do estilo do escritor Rubem Alves. Ele consegue, de forma inteligente e sensível, unir a arte de bem escrever com sua boa compreensão sobre os sentimentos humanos, e tocar assim o coração do leitor. Neste texto, a seguir, ele, além de me fazer ficar indignado com a mãe da criança, colocou-me diante de mim mesmo, e me fez rever, em minhas memórias afetivas, que esconderijos utilizei para alimentar e guardar os meus sonhos e formatar a minha individualidade, longe dos olhares inquisitivos dos adultos. Lembrei de alguns. Foi muito bom.

Gilvan Almeida

O espaço secreto
Rubem Alves

Toda criança sonha com um espaço secreto, que seja só seu, longe do olhar controlador do pai e da mãe. Já contei sobre a menina que encontrou esse espaço debaixo de um taco solto do assoalho. Debaixo daquele taco – o único lugar que era só seu, em sua casa – ela sonhava guardar pedrinhas coloridas, seu tesouro. O importante não era o valor do tesouro. O importante era que aquele espaço era secreto. Nem seu pai e nem a sua mãe sabiam da sua existência. Só ela. Também a casa de madeira, no alto de uma árvore. Lá os adultos não podem chegar. Ou aquele livrinho chamado Diário...
Uma terapeuta contou-me de um paciente seu, um menino esquizofrênico. Ele tinha uma caixa onde guardava os seus tesouros. Numa sessão de terapia ele e ela fizeram um jogo num papel. Ele achou o jogo maravilhoso. Guardou-o no seu cofre. Na sessão seguinte ela lhe perguntou sobre o jogo. Ele respondeu: “Jogou fora” e não soube dar maiores explicações. Como ele só falasse na terceira pessoa, ela entendeu o “Jogou fora” como “Joguei fora”.
Conversando com a mãe do menino ela perguntou: “O que o Joãozinho (nome falso) fez com o jogo que fizemos?” Ela queria compreender as razões do comportamento do menino. A mãe não entendeu. A terapeuta explicou: “Ele havia guardado o jogo naquela caixa...” “Ah!”, sorriu a mãe, “aquela caixa de tranqueiras bobas e sujas? Limpei a caixa. Joguei tudo fora...”
Pobre mãe! Ela não sabia que havia jogado fora pedaços preciosos da alma do seu filho. Isso não é só bobeira de criança. A psicanálise descobriu que todos nós temos um espaço secreto onde guardamos coisas que nos são preciosas. Guardamos o dito espaço a sete chaves porque sabemos que, se os outros virem o que está lá dentro, eles vão dizer como a mãe insensível: “Tranqueiras...”
Talvez a nossa alma seja feita de tranqueiras que nos são preciosas. Na psicanálise esse lugar secreto tem o nome de inconsciente.

Fonte: http://www.rubemalves.com.br/quartodebadulaquesXXVIII.htm