segunda-feira, 22 de agosto de 2011

2ª guerra mundial: dicas de filmes e livro

Dentre os assuntos que são de meu interesse desde a infância, destaco a História. Recebi bons estímulos dos professores de história do Acre, do Brasil e Geral, no período em que estudei no Colégio Acreano (primeiro ginasial ao segundo científico), as professoras Maria Martins e Ester Maia, e o Professor Manoel Lima (Neo).
Agosto é um mês em que, anualmente, lembro da II guerra mundial por causa das explosões das bombas atômicas em Hiroshima (dia 06) e Nagasaki
(dia 09), no Japão, em 1945, uma das maiores covardias que um poderio militar fez com um país já vencido militarmente. Ainda hoje fico indignado com tamanha falta de compaixão, farsescamente justificada como em nome da liberdade, quando na realidade foi para demonstrar para a União Soviética, quem é que mandaria no mundo a partir dali... E até hoje nenhum pedido de desculpas às famílias dos mais de 300.000 inocentes civis mortos. Foi como se tivessem eliminado vermes.
Meus estudos têm se dado principalmente através de livros e filmes, quase sempre abordados pelo ângulo dos aliados e, principalmente, dos judeus, proporcionando-me já alguns conhecimentos das visões histórica, econômica, política, cultural e médica do tema.


Tenho carência ainda de conhecer mais a forma como foi vivida aquela guerra, pelos povos orientais, russos, africanos e sul-americanos, além de ciganos, homossexuais, doentes mentais e outras minorias.
Recentemente encontrei estas três referências sobre a 2ª grande guerra, que indico para quem se interessa pelo assunto.


Gilvan Almeida

1.Cine-documentário: A arquitetura da destruição


Vi este filme por acaso, em um canal da Sky, e fiquei impressionado com a “requintada e detalhada” preparação da Alemanha para os “1.000 anos de glória do III Reich”, que Hitler sonhava. O arquiteto da destruição cercou-se de profissionais de diversas áreas, industriais, cientistas e artistas, para criar um novo padrão nos campos da arquitetura, do urbanismo, das artes, dos esportes, das ciências e tudo o que pudesse expressar a superioridade da raça ariana. Especial destaque ele deu à propaganda e ao marketing.
A seguir um resumo do filme:


A ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO
DIREÇÃO: Peter Cohen
NARRAÇÃO: Bruno Ganz
Suécia 1992 - 121 minutos


RESUMO
Este filme é considerado um dos melhores estudos sobre o Nazismo. Lembra que chamar Hitler de artista medíocre não elimina os estragos causados por sua estratégia de conquista universal. O arquiteto da destruição tinha grandes pretensões e queria dar uma dimensão absoluta à sua megalomania. O nazismo tinha como princípio fundamental embelezar o mundo, nem que para isso tivesse que destruí-lo.
Esse documentário traça a trajetória de Hitler e de alguns de seus mais próximos colaboradores, com a arte. Muito antes de chegar ao poder, o líder nazista sonhou em tornar-se artista, tendo produzido várias gravuras, que posteriormente foram utilizadas como modelo em obras arquitetônicas.
Destaca ainda a importância da arte na propaganda, que por sua vez teve papel fundamental no desenvolvimento do nazismo em toda a Alemanha.
Numa época de grave crise, no período entre guerras, a arte moderna foi apresentada como degenerada, relacionada ao bolchevismo e aos judeus. Para os nazistas, as obras modernas distorciam o valor humano e na verdade representavam as deformações genéticas existentes na sociedade; em oposição defende o ideal de beleza como sinônimo de saúde e conseqüentemente com a eliminação de todas as doenças que pudessem deformar o "corpo" do povo.
Nasce assim uma "medicina nazista" que valoriza o corpo, o belo e estará disposta a erradicar os males que possam afetar essa obra.
Do ponto de vista social, o embelezamento é vinculado diretamente à limpeza. A limpeza do local de trabalho e a limpeza do próprio trabalhador. Os nazistas consideram que ao garantir ao trabalhador a saúde e a limpeza, libertam-no de sua condição proletária e, garantem-lhe dignidade de burguês, eliminando portanto a luta de classes.
A Guerra é vista como uma arte. Com cenas de época, oficiais, mostra-nos a visita de Hitler à Paris logo após a ocupação: O Fuher chega de avião durante a madrugada, visita a Ópera, o Arco do Triunfo, alguns prédios imponentes. Volta para a Alemanha no mesmo dia.
O domínio sobre a França, Bélgica, Holanda possibilitaram aos nazistas a pilhagem de obras de arte. Em 1941 a conquista da Grécia; nova viagem de Hitler, que tinha na beleza da antigüidade um de seus modelos.
O filme dedica ainda um bom tempo à perseguição e eliminação dos judeus como parte do processo de purificação, não só da raça, mas de toda a cultura, mostrando o processo de extermínio. É interessante perceber que, durante toda a guerra, mesmo no período final com a proximidade da derrota, os projetos arquitetônicos do III Reich tiveram andamento, pretendendo construir a nova Berlim, capital do mundo.
Fonte: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=102

2.Literatura:


Triângulo rosa: Um homossexual no campo de concentração nazista


Autores: Jean-Luc Schwab
Rudolf Brazda


Este livro me trouxe informações sobre a preparação e a execução da perseguição de homossexuais, antes e durante a 2ª guerra, incluindo as bases jurídicas e ideológicas que os nazistas utilizaram para a prisão e extermínio de muitos. Escrito com base no relato biográfico de Rudolf Brazda e intensa pesquisa histórica que o autor fez em arquivos militares, bibliotecas e museus, especialmente na Alemanha, França e na antiga Tchecoslováquia.
Assim como os judeus eram identificados pela estrela amarela bordada no uniforme de prisioneiro, os homossexuais eram obrigados a usar um triângulo rosa, daí o título do livro.
Destaco alguns trechos:


“(...) Da aurora dos seus 97 anos, Rudolf Brazda nos deixa aqui um testemunho sem igual, raro, sustentado por um rigoroso trabalho de pesquisa histórica. Da ascensão do nazismo na Alemanha à invasão da Tchecoslováquia, da despreocupação no início dos anos 1930 ao horror do campo de concentração de Buchenwald, esta obra revela em detalhe, pela primeira vez, as investigações policiais que visaram inúmeros homossexuais no Estado nazista. Também aborda, com tato e sem tabu, a questão da sexualidade num campo de concentração. Esta é a história de um triângulo-rosa.”

-“...O que aconteceu (no nazismo) é testemunho de um prejuízo infinito para a esfera da solidariedade entre tudo aquilo que tenha uma face humana. Nesse desencadeamento extremo de elementos contrários às tradições do pensamento e ao funcionamento normal das sociedades, colocou-se de repente a questão da norma das relações sociais. A fronteira entre a normalidade e a anormalidade viu-se abolida. A diversidade da espécie humana tornou-se fator de incômodo. A consciência individual dissolveu-se no coletivo; a burocracia ambiente elevou o desprezo a norma de relacionamento, a irresponsabilidade a norma de consciência, a força a norma de ação e o crime a norma de saúde social e racial. (...) Marie-José Chombart de Lauwe – Presidente das Fundação pela Memória da Deportação.

-Fedem das seine – palavras do idioma alemão escritas no portão central de entrada do campo de concentração de Buchenwald, que significa “a cada um o que merece.”

3.Filme longa-metragem:


Chuva negra: a coragem de uma raça


Sou admirador de filmes orientais, especialmente japoneses e chineses. Desde que soube da existência do filme “Chuva negra, a coragem de uma raça”, do diretor japonês Shohei Imamura, há mais de 20 anos, comecei a procurá-lo, até recentemente adquiri-lo. O título do filme refere-se à chuva negra que caiu sobre Hiroshima, após a explosão da bomba atômica, decorrente da combinação de água, poeira e radiação.


Sinopse: Cinco anos depois da explosão da bomba atômica em Hiroshima, vários moradores de uma vila ainda sofrem os efeitos da radiação. Entre eles, estão o Sr. e Sra. Shizuma, tutores da sua sobrinha Yasuko. Aparentemente, ela não demonstra qualquer doença, embora tenha sido exposta à chuva negra (...). O filme acompanha não apenas os efeitos físicos, mas sobretudo os psicológicos que recaem sobre os sobreviventes, sabedores que, a qualquer momento, podem manifestar algum tipo de doença. Obra-prima indiscutível do cinema japonês.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cara, alma e coração

Já acreditei plenamente no ditado popular que diz assim: “Quem vê cara, não vê coração.” Hoje entendo que depende de quem olha, pois há diversas formas de se fazer uma “leitura” do coração e da alma do ser humano, como esta que estou aprendendo dentro da homeopatia: “É a linguagem corporal que revela a verdade. O paciente não a percebe e os sintomas objetivos perceptíveis pelo médico observador atento equivalem à apresentação do homem interior. James Tyler Kent (1849-1916), médico e filósofo homeopata, disse: “...O enfermo real é anterior ao organismo enfermo. (...) vontade e entendimento constituem o homem. Quando vontade e entendimento operam em ordem, temos o homem em saúde. (...) A vontade se expressa na face, seu resultado se enxerta na fisionomia (...) A fisionomia, assim, expressa o coração.””
Também o escritor russo Ivan Turguêniev (1818-1883), em sua obra prima Primeiro Amor, chega a esta mesma conclusão: “(...) não dá para disfarçar (...) o que está na alma está no rosto.”


Gilvan almeida

sábado, 6 de agosto de 2011

A praga do convencimento

Partindo do princípio de que somos iguais perante as leis dos homens e de Deus, considero uma ofensa aos direitos humanos toda forma de discriminação, preconceito, estigmatização ou qualquer outra manifestação que possa humilhar e causar sofrimento a um ser humano.
Encontrei muito do que penso neste texto, por isso resolvi divulgá-lo. Observem que foi publicado em 2.000 e, pelos temas que traz, parece que foi ontem.
Gilvan Almeida

A praga do convencimento
Por Nilton Bonder

Há poucos dias, o Papa tocou numa antiga ferida do mundo ocidental, pedindo perdão pelos crimes cometidos em "nome de Deus". Nunca ficou tão claro politicamente o significado do terceiro mandamento, "não tomarás o nome de teu Deus em vão". Em particular, foram lembrados os crimes cometidos a serviço da "verdade": a intolerância e violência contra dissidentes, guerras religiosas, violência e abusos dos Cruzados, e os métodos cruéis utilizados pela Inquisição.
Não há dúvida da importância deste gesto na luta fundamental contra o desejo de "convencer" e "converter". A idéia que norteia nossa civilização ocidental é que, para um lado ter razão, o outro tem que necessariamente estar errado.
Conta-se que um rabino foi certa vez consultado sobre um litígio. Uma das partes envolvidas apresentou seu caso e o rabino aquiesceu: "você tem razão". A outra parte também apresentou sua argumentação e o rabino reconheceu: "você também tem razão".
Atônito, o assistente que o acompanhava, questionou: "isto é um litígio, como pode ser que este tenha razão e aquele também?". O rabino concordou: "você também tem razão".
Exige sabedoria resgatar o rabino da patética condição de alguém que concorda com qualquer argumentação, e compreender o seu ensinamento acerca de uma "razão" que não é indivisível ou única. Para nossa dificuldade, a realidade é sempre composta de vários certos. A democratização do "certo" é talvez o mais importante ato de cidadania e espiritualidade de nossos tempos.
Mais importante do que a memória e o julgamento do passado, talvez seja a capacidade de identificar em nosso tempo as atitudes que ainda hoje representam as forças do convencimento. Elas estão por todas as partes, travestidas de intolerância, proliferando em todas as religiões, com as mais diversas formas de fundamentalismos, fazendo-se o uso da linguagem do "convencimento" ou do "auto-convencimento".
Por mais de uma década, as tradições afro-brasileiras enfrentaram uma guerra religiosa declarada, orquestrada por algumas denominações evangélicas. O resultado, tal qual um Brasil de índios catequizados, foi o abandono de origens e tradições, por conta de outras supostamente "mais civilizadas", mais próximas da "verdade absoluta". Somos contemporâneos de organizações internacionais missionárias, financiadas com a "missão" de evangelizar os judeus. No exterior e no Brasil, crescem cultos dissimulados de "judaicos", com o intuito de trazer judeus, em particular os desgarrados, para conhecer a "verdade", em pleno século XXI.
Talvez mais do que entre judeus, cristãos, muçulmanos ou outras tradições, o mundo no século XXI se divida entre os que "precisam convencer" e os que "não precisam convencer".
São estas as duas religiões que dividem o Ocidente e o Meio Oriente. Os que "precisam convencer" são aqueles que acreditam que a vida é uma caminhada que deve chegar a algum lugar, onde suas vivências e valores serão comparados às vivências e aos valores de outros. Os que "não precisam convencer" não percebem a vida como um mega- "vestibular". Não há primeiros colocados, ou aprovados e reprovados por parâmetros externos e excludentes. Não há salvos, nem perdidos. Mas sim a possibilidade de não sofrer de desespero para os que vivam suas vidas com reverência, integridade e intensidade.
Há neste mundo as pessoas que "vivem e deixam viver", e as que precisam afirmar suas certezas, provando e apontando o "outro" como errado. Um dia iremos concordar que só existe um parâmetro externo para definir o "certo" e o "errado". Certo é qualquer coisa que não queira convencer ou impor a vontade de um sobre o outro. Errado é a postura do convencimento.
Tanto o convencido quanto o que convence são perdedores. O julgamento da vida se baseia em duas listas de acusação: as ocasiões em que fomos convencidos e aquelas em que convencemos. Nossa identidade e nosso senso de presença são experimentados quando não estamos nem na condição de convencidos ou na de convencer. A própria alegria depende do quanto somos convencidos, e do quanto convencemos. Quanto mais convencemos ou somos convencidos, mais tristes e insatisfeitos nos tornamos, maior nosso senso de inadequação, maior nossa insegurança, e maior o nosso medo.
O convencimento nos rouba a vitalidade fundamental de nossa própria raiz, e nos faz dependentes do outro para definir a nós mesmos. O convencimento é uma inveja dissimulada. Hospedeiro do mal, ele se instala em todas as áreas estagnadas e alienadas de nossa vida, e lá deposita suas larvas. Podemos erradicar o "convencimento" do mundo com uma ação "sanitária", cuidadosa e organizada.
Podemos nos educar a ponto de termos "tolerância zero" com a intolerância. E as tradições religiosas têm um importante papel a desempenhar neste sentido, durante o século XXI. O reconhecimento dos erros do passado é um importante passo e, sem dúvida, demonstra maturidade. Mas, ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade. Isto porque a História julgará a todos não pela consciência do erro, mas pela capacidade de evitar repeti-lo.

Nilton Bonder é Rabino da Congregação Judaica do Brasil – Rio de Janeiro

O Globo - Primeiro caderno - Opinião - 23/MAR/2000
http://www.niltonbonder.com/port/port.htm