sexta-feira, 25 de maio de 2012

Rumi, o maior dos místicos islâmicos

Compartilho com vocês um pouco do estudo que fiz a respeito do pensamento e da vida do sábio Rumi. Acrescento alguns pensamentos dele e um texto de Leonardo Boff: Rumi, o místico do amor.

Gilvan Almeida
 
RUMI

Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī, também conhecido como Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Balkhī, ou ainda apenas Rumi ou Mevlana, (30 de Setembro de 120717 de setembro de 1273), foi um poeta, jurista e teólogo muçulmano persa do século XIII. Seu nome significa literalmente "Majestade da Religião"; Jalal significa "majestade" e Din significa "religião".Rumi é, também, um nome descritivo cujo significado é "o romano", pois ele viveu grande parte da sua vida na Anatólia, que era parte do Império Bizantino dois séculos antes. Ele nasceu na então província persa de Balkh, na aldeia de Wakhsh, atualmente na província de Khatlon do Tadjiquistão. A região estava, nessa époc a, sob a esfera de influência da região de Khorasan e era parte do Império Khwarezmio. Ele viveu a maior parte de sua vida sob o Sultanato de Rum, no que é hoje a Turquia, onde produziu a maior parte de seus trabalhos e morreu em 1273. Foi enterrado em Konya e seu túmulo tornou-se um lugar de peregrinação. Após sua morte, seus seguidores e seu filho Sultan Walad fundaram a Ordem Sufi Mawlawīyah, também conhecida como ordem dos dervishes girantes, famosos por sua dança sufi conhecida como cerimônia sema. Os trabalhos de Rumi foram escritos em novo persa. Uma renascença literária persa (séc. VIII/IX) começou nas regiões de Sistan, e por volta do século X/XI, ela substituiu o árabe e como língua literária e cultural no mundo islâmico persa. Embora os trabalhos de Rumi houvessem sido escritos em persa, a importância de Rumi transcendeu fronteiras étnicas e nacionais. Seus trabalhos originais são extensamente lidos em sua língua original em toda a região de fala persa. Traduções de seus trabalhos são bastante populares no sul da Ásia, em turco, árabe e nos países ocidentais. Sua poesia também tem influenciado a literatura persa bem como a literatura em urdu, bengali, árabe e turco. Seus poemas foram extensivamente traduzidos em várias das línguas do mundo e transpostos em vários formatos; A BBC o descreveu como o "poeta mais popular na América".  
Fonte: Wikipédia.
Alguns pensamentos de Rumi:

1. Por que você permanece na prisão quando a porta está completamente aberta ?

2. O anjo salva-se pelo conhecimento, o animal pela ignorância; entre os dois o homem permanece em litígio.


3. "Vem.
Conversemos através da alma.
Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.
Sem exibir os dentes,
sorri comigo, como um botão de rosa.
Entendamo-nos pelos pensamentos,
sem língua, sem lábios.
Sem abrir a boca,
contemo-nos todos os segredos do mundo,
como faria o intelecto divino.
Fujamos dos incrédulos
que só são capazes de entender
se escutam palavras e vêem rostos.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Como podes dizer à tua mão: "toca",
se todas as mãos são uma?
Vem, conversemos assim.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma.
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te."



Rumi, o místico do amor
Leonardo Boff
 
Neste ano (2007) se celebram 800 anos de nascimento de Jalal ud-Din Rumi (1207-1273), o maior dos místicos islâmicos e extraordinário poeta do amor. Nasceu no Afeganistão, passou pelo Irã e viveu e morreu em Konia na Turquia. Era um erudito professor de teologia, zeloso nos exercícios espirituais. Tudo mudou quando se encontrou com a figura misteriosa e fascinante do monge errante Shams de Tabriz. Como se diz na tradição sufi, foi "um encontro entre dois oceanos". Esse mestre misterioso iniciou Rumi na experiência mística do amor. Seu reconhecimento foi tão grande que lhe dedicou todo um livro com 3.230 versos o Divan de Shams de Tabriz. Divan signfica coleção de poemas.
A efusão do amor em Rumi é tão avassaladora que abraça tudo, o universo, a natureza, as pessoas e principalmente Deus. No fundo trata-se do único movimento do amor que não conhece divisões, mas que enlaça todas as coisas numa unidade última e radical tão bem expressa no poema Eu sou Tu : "Tu, que conheces Jalal ud-Din (nome de Rumi). Tu, o Um em tudo, diz quem sou. Diz: eu sou Tu". Ou o outro:" De mim não resta senão um nome, tudo o resto é Ele".
Essa experiência de união amorosa foi tão inspiradora que fez Rumi produzir uma obra de 40.000 versos. Famosos são o Masnavi (poemas de cunho reflexivo-teológico), Rubai-yat (Canção de amor por Deus) e o já citado Divan de Tabriz.
Próprio da experiência místico-amorosa é a embriaguez do amor que faz do místico um "louco de Deus" como eram São Francisco de Assis, Santa Tereza d’Ávila, Santa Xênia da Rússia e também Rumi. Num poema do Rubai’yat diz: "hoje eu não estou ébrio, sou os milhares de ébrios da terra. Eu estou louco e amo todos os loucos, hoje".
Como expressão desta loucura divina inventou a sama a dança extática. Trata-se de dançar girando em torno de si e ao redor de um eixo que representa o sol. Cada dervixe girante, assim se chamam os dançantes, se sente como um planeta girando ao redor do sol que é Deus.
Dificilmente na história da mística universal encontramos poemas de amor com tal imediatez, sensibilidade e paixão que aqueles escritos pelo islâmico Rumi. É como uma fuga de mil motivos que vão e vêm sem cessar. Num poema de Rubai-yat canta: "Tu, único sol, vem! Sem Ti as flores murcham, vem!. Sem Ti o mundo não é senão pó e cinza. Este banquete e esta alegria, sem Ti, são totalmente vazios, vem!".
Um dos mais belos poemas, por sua densidade amorosa, me parece ser este, tirado do Rubai’yat: "O teu amor veio até meu coração e partiu feliz. Depois retornou, vestiu a veste do amor, mas mais uma vez foi embora. Timidamente lhe supliquei que ficasse comigo ao menos por alguns dias. Ele se sentou junto a mim e se esqueceu de partir".
A mística desafia a razão analítica. Ela a ultrapassa porque expressa a dimensão do espírito, aquele momento em que o ser humano se descobre a si mesmo como parte de um Todo, como projeto infinito e mistério abissal inexprimível. Bem notava o filósofo e matemático Ludwig Wittgenstein na proposição VI de seu Tractatus logico-philosophicus: "O inexprimível se mostra, é o místico". E termina na proposição VII com esta frase lapidar: "Sobre o que não podemos falar, devemos calar". É o que fazem os místicos. Guardam o nobre silêncio ou então cantam como fez Rumi, mas de um modo tal que a palavra nos conduz ao silêncio reverente.







domingo, 20 de maio de 2012

Grandes filósofos: René Descartes

Em sua obra O discurso do método (1637), o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) expõe o primeiro princípio da filosofia que procurava: “Penso, logo existo” ou ainda "Eu duvido, logo penso, logo existo".

“...Descartes pretendia fundamentar o conhecimento humano em bases sólidas e seguras (em comparação com as fundamentações do conhecimento medievais, cujas bases não eram claras e distintas). Para tanto, questionou e colocou em dúvida todo o conhecimento aceite como correto e verdadeiro (utilizando-se assim do ceticismo como método, sem, no entanto, assumir uma posição cética). Ao pôr em dúvida todo o conhecimento que, então, julgava ter, concluiu que apenas poderia ter certeza que duvidava. Se duvidava, necessariamente então também pensava, e se pensava necessariamente existia (sinteticamente: se duvido, penso; se penso, logo existo). Por meio de um complexo raciocínio baseado em premissas e conclusões logicamente necessárias, Descartes então concluiu que podia ter certeza de que existia porque pensava...” – Wikipédia

Concordo com esta síntese genial e revolucionária para a filosofia ocidental, mas ouso ir adiante, pois hoje tenho como parâmetro fundamental para a comprensão da vida, o exame e a avaliação dos sentimentos. Como estão meus sentimentos, assim está a minha vida, a minha existência. Portanto posso também concluir que é verdadeiro pensar: “sinto, logo existo.”
E assim vive o ser humano, como tão bem demonstra a ilustração do blog, em uma gangorra, sendo dominado pelo sentimento (coração) e pelo pensamento (cérebro). Hora um predomina, hora outro, exigindo-nos um trabalho constante de equilíbrio, para encontrar a harmonia e a paz interiores.
Para quem se interessar e quiser conhecer mais a vida e o pensamento de Descartes, além de seus livros, há o excelente filme Descartes, do diretor italiano Roberto Rosselinni, que fez uma série Grandes filósofos para uma TV italiana.
Registrei estas palavras do filme:
-“...O que fizermos aqui será um dulcíssimo mistério...” – Theóphile de La Viau
-“A verdade nova que surge assusta um pouco ...” - professor explica;
-“Utilizar a nova ciência e construir uma nova filosofia.”
-“Os antigos são a infância do mundo.”
-“Teoria da livre criação das verdades eternas.”
-“a ciência me impediu de viver.”
-“Eram falsas muitas das minhas certezas.”
-“A marca da humanidade em Descartes é o pensamento.”
-“Se pretendo saber do que a razão humana é capaz, preciso absolutamente me libertar de minha infância...”
-3º sonho de Descartes: “Que caminho escolherei para minha vida?”
-“...Só vencemos a natureza obedecendo-a...”

SINOPSE DO FILME: Descartes é um dos principais filmes do italiano Roberto Rossellini, que fez outros igualmente brilhantes sobre Santo Agostinho, Sócrates e Blaise Pascal. O nobre Descartes foi um menino mimado com impressionante capacidade reflexiva. Sua observação e compreensão do mundo físico são dignas de um grande gênio, o que justifica sua influência na filosofia moderna. A filosofia de Descartes, no entanto, não alcança a sabedoria contida nas obras dos grandes gregos nem nos escritos dos sábios Cristãos da Idade Média devido à sua superficialidade nos assuntos metafísicos. http://rarosdanet.blogspot.com.br/2011/02/descartes-roberto-rossellini-legendado.html   Pode ser comprado pela internet.

Algumas frases de Descartes encontradas na internet:
-Os homens que se emocionam com as paixões são capazes de ter mais doçura na vida.
-Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.
-Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.
-Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra.
-As paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos.
-Daria tudo que sei pela metade do que ignoro.
-A filosofia é a que nos distingue dos selvagens e bárbaros; as nações são tanto mais civilizadas e cultas quanto melhor filosofam seus homens.

sábado, 19 de maio de 2012

Sexta poética: Hoje - Renato Russo

Comecei a conhecer mais o Renato Russo depois que ele morreu. E cada vez gosto mais. Esta poesia dele - Hoje - diz muito do que penso e sinto. considero que o verdadeiro artista pode servir de antena e captar as belezas do alto e trazer até nós sob a forma de artes. Russo era um deles.

Gilvan Almeida

Hoje
Renato Russo

Deixa de lado essa pobreza
De quem insiste em julgar e explicar

Não vou poder calar meu coração
E essa saudade vem mansinha
Querendo me avisar
Acho que a gente é que é feliz

Deixa que falem
Eles não sabem
Não falo pelos outros
Só falo por mim

Ninguém vai me dizer o que senti
Acho que a gente é que é feliz

Queria ter a carta natal do universo
E ver se entendia alguma coisa
O que espero da minha vida
O que quero da minha vida

Bom tempo
Muito tempo
Acho que a gente é que é feliz
Deixa de lado essa tristeza...

Olhem e ouçam a bela vestimenta musical que a cantora Leila Pinheiro deu a Hoje.

http://www.youtube.com/watch?v=X0Dm9DDAonQ&feature=channel&list=UL

domingo, 13 de maio de 2012

Crônica de uma saudade

Não me despedi da minha mãe. Em abril de 2003 saí para trabalhar e, à tarde, como habitualmente fazia, ela e meu pai foram caminhar no Parque da Maternidade. Já voltando para casa, cada um com um saco de pipoca na mão, foram brutalmente atropelados por um rapaz em uma bicicleta. Meu pai sofreu algumas escoriações e ela traumatismo craniano. Nunca mais voltou para sua casa, seu lugar sagrado que tanto lutou para construir e manter.
Fui avisado e me dirigi ao Pronto-socorro, onde a encontrei em estado pré-comatoso. Percebi que ela estava balbuciando e aproximei meu ouvido da boca dela, e ouvi suas últimas palavras antes do coma: “quero voltar para casa, me leve para casa”. Dois dias depois faleceu no Fundação Hospitalar.
Não soubemos, até hoje, quem era o rapaz da bicicleta, e nem nos interessa. Já sabemos que não há acaso.
Em 09 de maio de 2009 publiquei no blog um post, onde relatei um acontecimento que vivi em casa, alguns dias após a morte dela. Denominei-o Memórias sentimentais. Reavivando o amor e a saudade que sinto, hoje republico com o título "Crônica de uma saudade".

Memórias sentimentais

Tenho muitas pastas de papelão, cheias de documentos, fotos, cartões de antigos natais e aniversários, textos, frases e tudo o que leio e considero bonito, memórias que me fazem bem aos olhos e ao coração.
De tempos em tempos abro-as, uma a uma, sem algo específico a procurar, somente pelo prazer de encontrar algo que me faça bem e relembre amigos, acontecimentos familiares, às vezes até mesmo algumas dores, e as muitas alegrias já vividas.
Minha mãe tinha caixas, dessas de sapato, lindamente forradas com papéis estrelados e floridos, onde guardava também as suas lembranças, especialmente as que lhe diziam mais ao coração: fotos dos filhos e netos.
Poucos dias após a sua trágica morte em abril de 2003 (até hoje não descobrimos quem a atropelou de bicicleta, no parque da maternidade), minha irmã e meu pai estavam organizando as roupas, as bonecas (ela tinha muitas), os sapatos e outros objetos dela, para doarmos, quando encontraram uma caixa, forrada com um papel de cor azul e estrelas prateadas. Entregaram-me e eu abri, com um sentimento de profunda tristeza e saudade, e a sensação de estar entrando no universo sentimental dela, que há tão pouco tempo estava ali, com ela, ao nosso lado, e naquele momento era só o vazio e a dor.
Um pequeno livro me chamou a atenção. Peguei-o e encontrei na primeira página, escrita com a letra dela, a seguinte poesia:


Quando
Autora: Célia R. Steffens

Quando a saudade chegar,
Quando você sentir sua dor,
Lembre-se que eu estarei sentindo o mesmo.

Quando pensar em mim,
Num instante de solidão,
Lembre-se que de você,
Eu não esqueço por um segundo.

Quando sonhar comigo,
Ao acordar não esqueça,
Que você
É a minha realidade

Quando olhar triste para o mar,
Vendo o sol descer no horizonte,
Lembre-se que também estou aqui,
Vendo o sol se por.

Quando a chuva cair,
Num dia cinzento,
Não esqueça que estarei imaginando,
Você naquele instante.

Quando sentir frio ou medo
De uma tempestade,
Lembre-se que você é minha segurança,
Mesmo estando distante.

Quando sentir falta de meus carinhos,
Quando precisar do meu abraço,
Lembre-se que estarei esperando,
Porque eu também preciso de você.
30.09.1990


Tanto foi o choro que quase não consegui concluir a leitura, imaginando o que a teria impulsionado a copiar uma poesia que, de forma quase profética, descrevia o que estaríamos vivendo 13 anos depois. Meu sentimento foi de ela estar, de um outro plano, me dizendo, naquele momento, palavras de carinho, conforto e conformação.

Gilvan Almeida

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Arthur Rimbaud

Observo a minha vida e vejo que, em alguns aspectos, quase sempre andei na contramão da história, um pouco distante dos desejos do que os mais velhos queriam para mim. Ainda criança, apesar de brincar bastante, nas ruas enlameadas ou poeirentas, e às margens do rio Acre, havia momentos em que deixava de lado as brincadeiras e, a contra gosto dos amigos, ia ler. Vivíamos a Rio Branco da década de 60, provinciana e isolada do país. Poucos intelectuais, quase nenhuma livraria pública. Minha mãe me envolveu desde muito cedo na arte e na paixão pela literatura e, junto com minha madrinha, conseguiam livros e revistas para saciar minha sede.
Na faculdade a maioria dos alunos queria superespecializações, eu queria medicina social, generalista, ser médico de pobre. Muitos colegas acomodaram-se na ideologia política vigente, implantada pela ditadura militar, eu, autodidaticamente, mergulhei de cabeça nas vidas e nas teorias socialistas de Marx & Engels, Lênin, Mao-Tsé-Tung, Fidel Castro, Che Guevara, Ho Chi Minh e outros teóricos esquerdistas que encontrei. Concluindo a faculdade, após um ano de torturante trabalho (forçado) no Exército, em vez de procurar uma tradicional Residência Médica fui trabalhar em um barco, no Rio Juruá, entre Cruzeiro do Sul (Acre) e a foz, no rio Solimões (Amazonas). Passei todo o ano de 1982 em viagens entre os seringais, atendendo seringueiros, ribeirinhos e índios, período que considero minha verdadeira residência médica.
Cedo percebi que a Medicina Alopática não atendia às minhas aspirações de médico, não preenchia os parâmetros de abordagem, relação médico-paciente, tratamento e cura que eu já imaginava e queria, que tinha como base a medicina segundo Hipócrates e, mais tarde, conforme Samuel Hahnemann. Foi então que descobri, em 1986, uma ciência médica, a Homeopatia, que abracei vigorosamente, por me dizer o que acredito, que olha não só a doença física isolada e sim o doente e sua doença, o ser humano integral, em sua essência, tendências patológicas e interrelações, no que o faz ser saudável ou não. Não me importou a marginalização e a falta de conhecimento que a Homeopatia era tratada pelo meio médico e não médico. Mudei-me, junto com minha família, para São Paulo, com o principal objetivo de fazer a Especialização em Homeopatia.
Assim, percebo que em diversos campos faz parte da minha sina conviver e amar pessoas, temas, ciências e artes marginais. Dentre tantas vertentes, destaco hoje, na literatura, este que foi um dos poetas mais marginais que a França já produziu: Arthur Rimbaud (Charleville, 20 de outubro de 1854 - Marselha, 10 de novembro de 1891), um pária social, misto de genialidade com transtorno mental, que teve uma meteórica carreira literária cheia de conflitos e glória. Só o conheci há bem pouco tempo, ano de 2010, através de sua principal obra: Uma temporada no inferno. No decorrer da leitura senti estar acrescentando ao meu tesouro cultural uma jóia de especial valor, juntando-se aos especialíssimos Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Machado de Assis, Rilke, Erasmo de Roterdam e outro(a)s. Interessante, é que esta valiosa aquisição gerou em mim, como sempre que ganho o que considero um presente da natureza, uma intensa vontade de compartilhar, e tristemente vi que talvez fosse mais um prazer que tenho que usufruir quase solitariamente. Com quem posso compartilhar Rimbaud? A triste pergunta sem resposta.
Tal qual Fernando Pessoa, reconheço em Rimbaud um mestre da palavra escrita. Tem frase dele que preciso parar mais de uma vez para tentar compreender o que ele quer realmente dizer, o que abrange o universo de cada palavra, o que ele "brinca de esconder" nos mistérios das entrelinhas. Como por exemplo: "Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens." Ele dá um nó na racionalidade e é preciso que nos deixemos conduzir pela intencionalidade sentimental e existencial dele, para percebermos melhor “o que é” escrever silêncios, escrever noites, anotar o inexprimível, fixar vertigens. Teoricamente nada disso é possível. Mas para ele é, pois conseguia unir, ou melhor fundir, o objetivo com o subjetivo, o concreto com o abstrato, a razão com o sentimento. E isso ganha uma dimensão bem maior, quando sabemos que toda a sua obra foi escrita dos 15 aos 20 anos, sendo sua obra prima - Uma temporada no inferno, escrita aos 19 anos, como também ao sabermos de sua vida marginal, totalmente antissocial, desligado que sempre foi das normas e convenções sociais. Aos 15 anos já era um dos autores mais premiados da Europa. Infelizmente precoce e fugaz foi sua carreira.
Em 2011 encontrei um belo ensaio “Rimbaud, a vida dupla de um rebelde”, de Edmund White, que ampliou, ainda mais, minha admiração pelo “anjo rebelde”. Compartilho um trecho que me chamou a atenção. O que está em negro é do autor – Edmund – e em vermelho de Rimbaud: "...A fim de se tornar um verdadeiro poeta, escreve Rimbaud, o escritor precisa se transformar num vidente: "O Poeta se torna vidente por um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos". O poeta tem de se submeter a uma tortura autoinvestigativa; tem de padecer todas as agonias do amor, do sofrimento e da loucura. "Ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana, de modo a se tornar entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito - e o supremo Sábio! - pois ele chega ao desconhecido".

Gilvan Almeida

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ave Maria - Fernando Pessoa

Conheci recentemente este poema, que Fernando Pessoa dedicou “à minha mãe”, aos 13 anos de idade (não sei a qual mãe ele se referia, se a da terra ou a do céu):

“Ave-Maria”
Fernando Pessoa

Ave-Maria, tão pura,
Virgem nunca maculada
Ouvide a prece tirada
No meu peito da amargura.

Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
conduzi-me pela mão
por esta vida que passa.

O Senhor, que é vosso filho
Que seja sempre conosco,
assim como é convosco,
eternamente o seu brilho.

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da terra
E voss’alma só encerra
Doce imagem de alegria.

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Gloriosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus
Velai por nós cada dia.

Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.

Rogai, agora, oh mãe querida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.

Ave-Maria, tão pura,
Virgem nunca maculada,
Ouvide a prece tirada
No meu peito da amargura.

Gostei muito desta pintura de Ronaldo Mendes: Nossa Senhora da Paz.
Detalhes que admirei:
-Maria com cara de menina, próxima, de povo, e não aquela tradicional de Santa.
-Jesus de meias.
-Jesus já com os estigmas nas mãos.
-O aviãozinho e o pássaro de coroa, tal qual o Rei Jesus.

Gilvan Almeida
P.S.: Grato, Silmara, por mais esta participação especial, com a imagem.