quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Diálogo sobre as crises

Faz parte de minha vida lidar com as crises, sejam aquelas que vivo, como ser humano, como também com as das pessoas que me procuram como profissional e/ou amigo. Frente a este desafio cotidiano, busco capacitar-me, técnica e filosoficamente, para melhor auxiliar as pessoas na condução, alívio e libertação de suas dores físicas e existenciais.
Costumo arquivar frases, textos e artigos que gosto e vejo que podem ampliar o conhecimento sobre o ser humano. Também guardo e-mails com temas interessantes, para que mais na frente possa relê-los, e até mesmo escrever algo para publicar no blog, como faço com estes sobre as crises, que tive com uma amiga da Bahia. Coloco a seguir alguns trechos.
V.
Peço-lhe que complemente este meu pensamento: “Quem verdadeiramente se olha, vive de crise em crise, com intervalos de tranqüilidade. Mas há os que entram e saem das crises sem entenderem o que viveram e nada aprendem. Não procuram e, conseqüentemente, não encontram significado no que aconteceu, e deixam de aprender lições valiosas para o amadurecimento. E o que é pior: lição não aprendida conduz à necessidade de repetição. É assim na Escola e é assim na Vida”. Que tal o desafio? risos.

Gilvan Almeida

Bom desafio...risos... Mas vou tentar... Primeiro vou lembrar como mergulhei em umas das minhas crises, que são freqüentes, diga-se de passagem, e como saí delas: de vez em quando volto a visitá-las (risos).
Primeiro, o mergulho nesse oceano que somos nós é desconhecido, assusta e muito! É preciso coragem, muita coragem, pra se ver e entender qual a mensagem que precisamos aprender, mesmo porque a gente conhece apenas a nossa superfície. A gente tem a vida inteira pra brincar de se esconder de si mesmo, evitando esse encontro consigo, e mesmo quando a vida marca, nem todos vão a esse encontro, que geralmente acontece nas crises. Encontro não para nos enquadrarmos no que é o esperado pelos outros, mas se apenas olharmos no que há por detrás das máscaras que utilizamos para sobreviver emocionalmente, já é de bom tamanho. Se a gente se olha, com certeza tem muito a conhecer, assusta, mas a cura chega exatamente assim: primeiro duvidamos de nós mesmos, será que vale a pena me ver? Pra quê? O que vou encontrar ? Não é melhor acomodar e culpar a própria vida em ser assim: do jeito que é? ou fantasiar um final feliz, um contrato assinado ou um projeto que nos garanta esse final feliz? ,Hoje acredito que "não vale a vida sem ser examinada", pois assim não há crescimento.
Aí eu penso: A nossa resposta fica num lugar sombrio, e "é precisamente a solidão que nos permite que nossa qualidade única se desenvolva." As respostas estão ali, a gente sempre sabe, mas o mais fácil é fugir (sou especialista nisso...rsss).
Quanto aos “intervalos de tranqüilidade”, adorei essa colocação, pois se não tivermos esse prêmio, a tranqüilidade, ainda que passageira, a gente pirava de vez. Mas, o que traz a tranqüilidade? É o doloroso mergulho no inferno interior, onde podemos conhecer as chamas das nossas fragilidades, ilusões e medos, fatores que propiciam as crises? Eu acho que sim, pois aí as certezas que encontraremos, nos trarão o sentido verdadeiro e, conseqüentemente, a consciência e a força necessárias para que possamos construir a cura, os novos sentimentos, a nova vida. É como uma viagem exaustiva, quando voltamos à tona, a sensação de bem estar acontece. Respira-se melhor, com mais consciência e auto-aceitação, vendo e se conformando com as próprias limitações, com a superação da fase de culpar os outros por nossos dramas.
Vou aprofundar mais esse assunto, tirar de meu coração e de minha experiência, pois ele é extenso demais, é o que move todo ser humano em busca do sentido da vida. Logo, é universal!

Quando nos conhecemos eu estava em um período de leve melhora de uma crise existencial. Depois a coisa piorou novamente. Agora estou bem melhor, já vendo um pouco mais perto o túnel onde sei que há uma luz no fim. Ainda não entrei nele. Risos.
Muitas vezes vejo em mim estas palavras de Nietzsche, contidas no livro Assim falou Zaratustra: "Alguns não conseguem afrouxar suas próprias cadeias e, não obstante, conseguem libertar seus amigos."
Bom saber que você está com um domínio maior sobre os problemas. Nas crises este domínio é fragilizado e quase sempre perdido, e assim é que podemos exercitar o que aprendemos em teoria sobre como viver a vida, como encarar e superar os problemas e não submergir na tristeza paralisante, entregar-se e adoecer, morrer em vida, como muitos mortos-vivos que conheço.
Quanto ao que ainda está precisando melhorar experimente acrescentar isto: não lute contra o que está totalmente fora de sua governabilidade. Conforme-se e guarde suas energias e bem estar para transformar o que está sob a sua governabilidade, que você tem o poder de mudar.

Que bom saber dessa nova fase de encontro consigo mesmo, com mais honestidade e mais amor por você mesmo. A crise passa, não precisa lutar contra ela pois assim ela fica forte e resistente. Tenha o máximo de respeito por ela, para não cair em situações que a tornaria mais grave. Com certeza essa frase que você escreveu é uma brisa que vem do mar, como uma música que lhe leva além do horizonte. Lembre-se que é um compromisso de amor com você.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Gente estranha

Neste estranho planeta, há pessoas muito estranhas, umas conhecidas, que conseguem dizer com arte suas estranhezas, outras anônimas, e que também dizem com grande beleza o que vêem e sentem. Tenho o prazer de conviver com algumas delas, tanto real, quanto virtualmente. Aprendo muito com essa gente, que procura dizer e viver corajosamente a sua ideologia, seus sonhos e formas de ser e ver o mundo. Elas conseguem enxergar o belo e o essencial onde a maioria nada vê, mesmo nas dores, e têm coragem suficiente para assumirem a si mesmas, mesmo sabendo do peso social que são obrigadas a carregar. E como elas incomodam... Por isso são discriminadas e segregadas, porque revelam muito da hipocrisia social, do falso moralismo, das máscaras sociais, da cultura de manada que é imposta pela mídia a serviço da classe dominante, onde pouco cabem a autenticidade e a sinceridade. Ao longo dos séculos, alguns desses estranhos já chegaram a pagar com a vida, o preço pela ousadia de serem diferentes. A seguir alguns trechos do que pensam alguns destes ETs.

Gilvan almeida


1. “É, realmente você me conhece, me sinto uma estranha nesta terra que me faz reclusa de mim mesma, com medo até de falar, me expor, sinto muitas vezes e agora mais que nunca (pela idade chegando...) as pessoas me olham como se não me enxergassem, como se meu discurso fosse de doido mesmo! (risos). Minhas observações e forma de pensar são fora do bando... não têm aplausos do público porque estou fora da boiada.....um bezerro que se perdeu pra se achar (risos)...estou filosófica.
Mas na minha nova fase, e eu sempre me proponho a novas fases (nem sempre cumprindo esse projeto...), penso realmente em me expor menos, pois nem posso dar boas risadas porque incomoda sempre alguém... amigos que perderam a originalidade. Acho que é isso.
A saudade? Tenho de minha tribo. Sinto muita vontade de me sentar por longas horas e conversar sem preconceitos ou falsos discursos. Ser livre na forma de ser sem me preocupar com olhares inquisitórios. Saudades tenho do Fernão Capelo gaivota, me sinto como ele. Aí sim, meu retrato.. querendo fazer os outros verem o que eles não conseguem ver, e eu passo mesmo de doida diante dos atônitos olhares.....” Amiga

2. "O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade ... sei lá de quê". Frase da poetisa portuguesa Florbela Espanca.

3. “Meus pais se separaram quando eu tinha 14 anos, e a vida me convidou para novas posturas. Algo que me machucava muito na época era uma música que não saia da minha cabeça "...minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...". Não podia crer que meu futuro estava determinado a ser igual "àquilo". Vem então aos meus ouvidos o mestre Raul Seixas dizendo: "eu prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!" Ainda assim, a dualidade me acompanhou até os 30 anos! Nossa! Aos 30 "rasguei"as roupas e máscaras vestidas para me sentir aceita, especialmente por mim mesma! Penso que esta é a etapa mais dolorosa. Olhar para si mesmo - sem falsas desculpas e se encarar! Aos 32 - LIBERDADE! Aprendi a falar “não quero”, “não vou”, “se me pegar assim não dou”(risos), e neste momento estou em namoro comigo mesma. O período da culpa, da dor, da raiva, mandei, com carinho, "tomar no cu"!” Amiga

4. “Há que ser religioso e profano. Reunir o misticismo de uma severa catedral gótica com a maravilha da Grécia pagã. Ver tudo, sentir tudo. Na eternidade teremos o prêmio por não haver tido horizontes.(...) Estamos num lago asfixiante de vulgaridade e sobre ele quero que minha caravela fantástica vá até o templo do Magnífico com as velas infladas de neve e de sol. Eu sou como uma ilusão antiga feita de carne e ainda que meu horizonte se perca em crepúsculos formidáveis de enamoramentos, tenho uma corrente como Prometeu e me custa muito trabalho arrastá-la...em vez de águia, uma coruja me rói o coração. (...)” Garcia Lorca, poeta espanhol.

5. Balada do louco
Composição: Arnaldo Baptista / Rita Lee

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

Caso queira, veja e ouça a Rita Lee cantando esta música: http://www.youtube.com/watch?v=bK3WnsAge9U

sábado, 16 de outubro de 2010

Dilma e a Fé Cristã


Por falta de consistência ideológica, ética e programática, a oposição lançou, em larga escala, a maledicência político-eletrônica como forma de conquistar o poder. Para isto, dentre outras estratégias, vem se utilizando de uma parcela da população que tem acesso à internet para reproduzir e divulgar dados inverídicos, preconceituosos e caluniosos contra determinados candidatos e partidos, especialmente Dilma Roussef e o PT. Se não acompanhasse a política brasileira desde a década de 70, por exemplo, era sujeito eu já estar acreditando que antes do Governo Lula não havia corrupção em nosso país.
Não sou filiado a nenhum partido político e também não estou aqui dizendo que a coligação política, liderada pelo PT, que governa o Brasil, é composta por uma legião de anjos celestiais, pois já sei que onde há ser humano, há a corrupção.
Acompanho a vida pública (religiosa e política) de Frei Betto desde a ditadura militar, quando li seu livro Batismo de Sangue. Ele merece muito mais a minha confiabilidade que qualquer outro religioso, de qualquer credo, quanto ao tema do artigo a seguir.


Gilvan Almeida


Dilma e a fé cristã

Escrito pelo Teólogo FREI BETTO
11-Out-2010

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.
Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de “marxista ateia”. Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte. Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos.
Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.
Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que a árvore se conhece pelos frutos, como acentua o Evangelho.
É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.
Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto.…Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.
Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.
Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.
A resposta de Jesus surpreendeu: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes…” (Mateus 25, 31-46).
Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcanc e de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.
Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

Toda família tem o direito de ser feliz.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A quem a Justiça está servindo?

Em alguns post abordei temas impulsionado por um forte sentimento de indignação. Novamente é assim que me sinto, ao ver esta decisão judicial, neste artigo publicado hoje pelo jornal A folha de São Paulo. Daí o título deste post. A resposta eu já tenho. Qual a sua?

Gilvan Almeida

Justiça derruba alertas e vetos em propaganda de alimento gorduroso
Vanessa Correa
Colaboração para a Folha

Uma decisão da Justiça Federal suspendeu a resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que restringia a publicidade em alimentos com altos teores e açúcar, sódio e gorduras trans e saturadas.
A medida da Anvisa, expedida em junho, também determinava que, dentro de seis meses, peças de publicidade desse tipo de produtos teriam de veicular alertas sobre possíveis problemas à saúde: doenças do coração, pressão alta, obesidade e cárie.
A liminar (decisão provisória) foi emitida em 17 de setembro pela juíza Gilda Sigmaringa Seixas, da 16ª Vara Federal de Brasília, e será publicada nos próximos dias. Ainda cabe recurso.
A juíza entendeu que a Anvisa extrapolou, com o ato, as suas competências e os limites legais. "Não existe uma lei que faça esse tipo de restrição", diz Seixas. Atendendo a pedido do mercado publicitário, a AGU (Advocacia-Geral da União) já havia recomendado em 13 de junho a suspensão da resolução da agência.
Em comunicado à imprensa sobre a suspensão, a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) afirma que alimentos e bebidas não alcoólicas não constam da lista de produtos sujeitos às advertências em propaganda comercial definida pela Constituição.
A Anvisa diz que ainda não foi comunicada sobre a decisão e, por esse motivo, não iria comentá-la.