sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Manoel de Barros: (Mais uma) Paixão literária

Quem gosta de ler sabe: a literatura é uma arte envolvente e apaixonante. Compartilho com vocês uma nova paixão literária que arranjei. Já tinha lido na internet (e gostado) de algumas poesias deste escritor. Ganhei de uma amiga um livro dele, achei tão bom que adquiri e li mais dois. É o poeta Manoel de Barros. Como não posso me apaixonar literariamente por quem me diz assim?

-"... Agora tenho saudade do que não fui..."
- (Quando criança) "... Em vez de peraltagem eu fazia solidão..."
-"... Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina..."
-"... Com pedaços de mim eu monto um ser atônito..."
-"... Logo apareceu um lírio pensativo de sol..."
-"... Bocó é sempre alguém acrescentado de criança... é um que gosta de conversar bobagens profundas com as águas... é aquele que fala sempre com um sotaque das suas origens... é um que descobriu que as tardes fazem parte de haver beleza nos pássaros... é aquele que olhando para o chão enxerga um verme sendo-o..."
-"... Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas eu sei menos..."
-"... a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós..."
-"... O cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma usina nuclear. Sem precisar medir o ânus da formiga..."
-"... Desfazer o normal há de ser uma norma..."
-"... Poesia é o mel das palavras..."
-"... O olhar reforça as palavras. O olhar segura a palavra na gente. O cheiro e o amor do lugar também participam..."
-"O filósofo Kierkegaard me ensinou que a cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia nada..."
-"... Ele podia conhecer todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos..."
-"... Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!"
-"... Quem se aproxima das origens se renova..."
(Trechos do livro Memórias inventadas - A segunda infância, de Manoel de Barros)

Uma amiga que encaminhei os trechos acima, teve esta bonita revelação, que também tive quando li o livro: “Ih! descobri que sou bocó... E acho que você também é! :) ”.

Gilvan Almeida

Breve histórico e bibliografia:
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.


1937 — Poemas concebidos sem pecado
1942 — Face imóvel
1956 — Poesias
1960 — Compêndio para uso dos pássaros
1966 — Gramática expositiva do chão
1974 — Matéria de poesia
1980 — Arranjos para assobio
1985 — Livro de pré-coisas
1989 — O guardador das águas
1990 — Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda
1993 — Concerto a céu aberto para solos de aves
1993 — O livro das ignorãças
1996 — Livro sobre nada
1996 — Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Akzente
1998 — Retrato do artista quando coisa
2000 — Ensaios fotográficos
2000 — Exercícios de ser criança
2000 — Encantador de palavras - Edição portuguesa
2001 — O fazedor de amanhecer
2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo
2001 — Águas
2003 — Para encontrar o azul eu uso pássaros
2003 — Cantigas para um passarinho à toa
2003 — Les paroles sans limite - Edição francesa
2003 — Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha
2004 — Poemas Rupestres
2005 — Riba del dessemblat. Antologia poètica — Edição catalã (2005, Lleonard Muntaner, Editor)
2005 — Memórias inventadas I
2006 — Memórias inventadas II
2007 — Memórias inventadas III
2010 — Menino do Mato
2010 — Poesias Completas

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

20 de janeiro: São Sebastião & Oxóssi


20 DE JANEIRO: SÃO SEBASTIÃO & OXÓSSI
História, fé, sincretismo, poesia e oração.

Acredito que os preconceitos estão entre os principais causadores de desunião entre os seres humanos, contribuindo decisivamente para dificultar a convivência harmônica entre as verdades relativas, próprias da condição humana. É meu propósito ser, um dia, uma pessoa livre de preconceitos, e considero que um princípio básico para concretizar esse processo de libertação é saber, e sempre lembrar, que não há verdade humana absoluta. Desta forma compreendo que a verdade não é posse exclusiva de nenhuma religião, filosofia ou de um povo e, com este pensamento, vou à busca dela, sem me importar se a fonte é budista, espírita, católica, protestante, islâmica, confuciana, ayahuasqueira ou de outras filosofias valiosas, que tanto bem fazem aos corações e auxiliam as pessoas a viverem melhor.
Neste trabalho, esforço-me no aprimoramento do discernimento, para perceber o que deve ser o real objeto de minhas buscas e crenças, e não ser ingênuo e tolo ao ponto de ir embarcando e acreditando em qualquer “canoa filosófica” que passe em minha frente.
Hoje, 20 de janeiro, é dia consagrado a um ser que deixou um marco na humanidade, sendo alvo de culto no catolicismo e em algumas religiões afro-brasileiras. A Ele também presto minhas homenagens.
Salve São Sebastião!!! Salve Oxóssi!!!

Gilvan Almeida

1. São Sebastião no Catolicismo:

"São Sebastião nasceu na Itália, de acordo com Santo Ambrósio, por volta do século III. Pertencente a uma família cristã, foi batizado em criança. Mais tarde, tomou a decisão de engajar-se nas fileiras romanas e chegou a ser considerado um dos oficiais prediletos do Imperador Diocleciano.
Contudo, nunca deixou de ser um cristão convicto e ativo. Fazia de tudo para ajudar os irmãos na fé, procurando revelar o Deus verdadeiro aos soldados e aos prisioneiros. Secretamente, Sebastião conseguiu converter muitos pagãos ao cristianismo. Até mesmo o governador de Roma, Cromácio, e seu filho, Tibúrcio, foram convertidos por ele.
Em certa ocasião, Sebastião foi denunciado, pois estava contrariando o seu dever de oficial da lei. Teve, então, que comparecer ante o imperador para dar satisfações sobre o seu procedimento.
Diante do Imperador, Sebastião não negou a sua fé e foi condenado à morte, sem direito à apelação. Amarrado a um tronco, foi varado por flechas, na presença da guarda pretoriana. No entanto, uma viúva chamada Irene retirou as flechas do peito de Sebastião e o tratou.
Assim que se recuperou, demonstrando muita coragem, se apresentou novamente diante do Imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusando-o de inimigo do Estado. Perplexo com tamanha ousadia, Diocleciano ordenou que os guardas o açoitassem até a morte. O fato ocorreu no dia 20 de janeiro de 288.
São Sebastião é um santo muito popular e padroeiro do município do Rio de Janeiro, dando seu nome à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Reza a lenda que, na batalha final que expulsou os franceses que ocupavam o Rio, São Sebastião foi visto de espada na mão entre os portugueses, mamelucos e índios, lutando contra os franceses calvinistas.
Além disso, o dia da batalha coincidiu com o dia do santo, celebrado em 20 de janeiro. São Sebastião é o protetor da Humanidade contra a fome, a peste e a guerra."

São Sebastião
Autor: Rainer Maria Rilke

Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.
E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.
Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.
(Tradução: Augusto de Campos)

2. São Sebastião nas Religiões Afro-brasileiras:

"Na Umbanda, São Sebastião corresponde a Oxóssi.
No Brasil, o Orixá tem grande prestígio e força popular, além de um grande número de filhos, recebendo o título de Rei das Matas.
Oxóssi é o Orixá masculino iorubá responsável pela fundamental atividade da caça. Por isso na África é também cultuado como Odé, que significa caçador.
Seus símbolos são ligados à caça: no Candomblé, possui um ou dois chifres de búfalo dependurados na cintura. Na mão, usa o eruquerê (eiru), que são pelos de rabo de boi presos numa bainha de couro enfeitada com búzios.
Oxóssi é o caçador por excelência, mas sua busca visa o conhecimento. Logo, é o cientista e o doutrinador, que traz o alimento da fé e o saber aos espíritos fragilizados tanto nos aspectos da fé quanto do saber religioso.
O Orixá Oxóssi é tão conhecido que quase dispensa um comentário. Mas não podemos deixar de fazê-lo, pois falta o conhecimento superior que explica o campo de atuação das hierarquias deste Orixá regente do pólo positivo da linha do Conhecimento.
O fato é que o Trono do Conhecimento é uma divindade assentada na Coroa Divina, é uma individualização do Trono das Sete Encruzilhadas e em sua irradiação cria os dois pólos magnéticos da linha do Conhecimento. O Orixá Oxóssi rege o pólo positivo e a Orixá Obá rege o pólo negativo.
Oxóssi irradia o conhecimento e Obá o concentra.
Oxóssi estimula e Obá anula.
Oxóssi vibra conhecimento e Obá absorve as irradiações desordenadas dos seres regidos pelos mistérios do Conhecimento.
Oxóssi é vegetal e Obá é telúrica.
Oxóssi é de magnetismo irradiante e Obá é de magnetismo absorvente.
Oxóssi está nos vegetais e Obá está em sua raiz, como a terra fértil onde eles crescem e se multiplicam.
Oxóssi é o raciocínio hábil e Obá é o racional concentrador.
O filho de Oxóssi apresenta arquetipicamente as características atribuídas ao Orixá. Representa o homem impondo sua marca sobre o mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo. Oxóssi desconhece a agricultura, não muda o solo para ele plantar, apenas recolhe o que pode ser imediatamente consumido, a caça.
No tipo psicológico a ele identificado, o resultado dessa atividade é o conceito de forte independência e de extrema capacidade de ruptura, o afastar-se de casa e da aldeia para embrenhar-se na mata, a fim de caçar.
Geralmente Oxóssi é associado às pessoas joviais, rápidas e espertas, tanto mental como fisicamente. Tem, portanto, grande capacidade de concentração e de atenção, aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para agir. Buscam preferencialmente trabalhos e funções que possam ser desempenhados de maneira independente, sem ajuda nem participação de muita gente, não gostando do trabalho em equipe. Ao mesmo tempo é marcado por um forte sentido de dever e uma grande noção de responsabilidade. Afinal, é sobre ele que recai o peso do sustento da tribo."

Fontes:
-Os Orixás, Editora Três.
-O código de Umbanda, de Rubens Saraceni.
-http://www.velhosamigos.com.br/datasespeciais

Trecho da Oração dos Orixás – Oxóssi
Oxóssi
Senhor poderoso das matas
seja piedoso
em minha vida
com meu coração.
Seja benevolente
em minha caminhada,
em minha vida,
na minha paixão.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

É o brasileiro um povo covarde?


O levante contra o “gasolinazo” na Bolívia

A cidade de El Alto viveu outro momento histórico ao protagonizar fortes protestos, desta vez contra uma proposta do governo Evo Morales. A mobilização foi contra o decreto 478 do presidente boliviano, apelidado de “gasolinazo” que, segundo os setores sociais mobilizados, afetava gravemente suas magras economias ao provocar um aumento de passagens de ônibus, de alimentos e outros produtos entre 100 e 150%. Diante dessa mobilização, na noite de 31 de dezembro de 2010, Evo Morales viu-se obrigado a revogar o decreto.
Pablo Mamani Ramirez - Sin Permiso

Identifico em mim sentimentos de inveja, quando vejo notícias como esta que indico para leitura: O “gasolinazo” na Bolívia. Acho que são os resquícios da rebeldia da adolescência que ainda me habitam, e espero que nunca morram.
Acompanho diariamente a conjuntura política internacional desde 1973, e considero importante saber o que está acontecendo neste mundo em que vivo, e, mundo para mim não é só a “minha aldeia” ou meu país.
Dentro deste acompanhamento da luta dos povos pela justiça e pela liberdade, preciso saber como está a situação das guerras no Iraque, no Afeganistão, na Chechênia, no Sudão, e em tantos outros países onde os direitos humanos estão sendo ultrajados, quase sempre com a autorização explícita dos “donos do mundo” aos poderosos locais ou por invasões militares imperialistas.
Quero ser um homem de opinião, de consciência, o que considero um verdadeiro cidadão, para que não aconteça comigo a manipulação ideológica que o povo é vítima diária. Digo frequentemente aos meus filhos: “Não quero que vocês sejam “Zé-manés”, massa de manobra dos poderosos, por isso, leiam, informem-se nas fontes confiáveis que existem e formem-se como cidadãos autônomos e conscientes, sabendo o que querem.”
Sei o quanto era difícil o acesso às informações políticas no período de censura da ditadura militar, a luta que era para saber o que de real acontecia no Brasil e no restante do mundo. Mas eu conseguia, correndo riscos mas conseguia.
A América Latina, tida como quintal e posse dos Estados Unidos da América é vítima histórica da opressão e da hipocrisia capitalista. Os inúmeros golpes militares e a exploração genocida de sua população e de suas riquezas naturais, no entanto, não mataram o poder de revolta de seus povos. Temos exemplos de levantes populares, sangrentos ou pacíficos, que derrubaram leis entreguistas e até presidentes da república, na Argentina, na Bolívia, para citar dois países. Admiro a consciência política de um agrupamento de pessoas que se une, em nome da liberdade e da justiça, e faz valer os direitos da maioria.
Vimos e ainda estamos vendo o processo de redemocratização de diversos países latinoamericanos serem uma real conquista do povo, e os tiranos sendo julgados e condenados por seus crimes (O Judiciário argentino condenou há poucos dias um ex-ditador à prisão perpétua). E o que vimos aqui no Brasil? Friamente avalio como uma “conquista permitida”, “uma abertura política comandada pelos golpistas, seguida de uma anistia meia-boca”. Observem o poder político civil, ainda hoje, quase pedindo licença aos militares para tocar no assunto, em busca de criar uma Comissão da Verdade, que mostre, de verdade, o que aconteceu em nosso país, de 1964 a 1985.
E agora me defronto, mais uma vez, com o povo boliviano dando exemplos de coragem, consciência política e união em defesa dos seus direitos. (Leia a matéria completa em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17287&boletim_id=800&componente_id=13243 .
Aí volto a pensar em nós. Frente aos inúmeros escândalos políticos e econômicos ocorridos em nosso país nos últimos 510 anos, cito dois exemplos em que o povo brasileiro assistiu e aceitou placidamente os acontecimentos, e que eu gostaria de ver como o povo argentino ou o boliviano reagiria a semelhantes desmandos político-governamentais:
1.O confisco da poupança no governo Collor;
2.O recente aumento salarial que os parlamentares do Congresso Nacional se presentearam, de 61,8 % (agora ganharão R$ 26,7 mil mensais, mais as vantagens que recebem além do salário), e o reajuste previsto de 5,08 % para o salário mínimo (de R$ 510,00 para R$ 538,15) que o Governo Federal fará, valor inferior ao que as entidades de defesa dos trabalhadores defendiam, e muito aquém das reais necessidades do trabalhador brasileiro, conforme diz o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a respeito do valor que deveria ter o salário mínimo, neste trecho de um artigo publicado na folha.com, em 11.01.2011, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/858450-cesta-basica-sobe-acima-de-10-em-14-de-17-capitais-aponta-dieese.shtml : “(...) levantamento do Dieese sugere que o salário mínimo necessário para o trabalhador brasileiro cobrir despesas básicas em dezembro/2010 deveria ficar em R$ 2.227,53. O cálculo, feito com base no custo da cesta básica de São Paulo, considera gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O valor representa 4,37 vezes o mínimo vigente naquele mês, de R$ 510. (...)”
Não acredito nesta de “índole pacífica do povo brasileiro”. Acho que isso é mais um tema de marketing que pegou. Semelhante ao que é dito que “não há racismo no Brasil”. Verdades (?) que servem à manutenção do “orgulho de ser brasileiro, este povo ordeiro e trabalhador”, falácia ufanística que tanto bem faz às classes dominantes e mantém iludida e imatura a consciência política do povo.
Na verdade, acredito mesmo é que somos um povo covarde, alienado politicamente, egoísta e desagregado socialmente, vivendo em um dos países em que mais vejo ter dado certo a dominação estrangeira, que atribuo, principalmente, ao intencional e criminoso processo de destruição da nossa cultura, intensificado após a segunda guerra mundial, com o advento da TV e das redes de mídia, grandes e imprescindíveis aliadas das classes dominantes. Estas sabem que não basta só a dominação política, militar e econômica, e que a melhor forma de destruir a força de um povo é acabar com a sua cultura.

Gilvan Almeida

PS: Sou defensor de primeira hora de Evo Morales, porque observo nele coerência política e ideológica, já presente na época em que ele era um simples líder cocalero (acompanho sua vida pública desde então). Vejo o quanto que a Bolívia está crescendo, apesar dos boicotes e agressões das nações exploradoras (dentre elas o Brasil), pois está dando mau exemplo para as outras nações exploradas, de como se deve lutar pela soberania nacional. Quando a Bolívia anunciou o fim do analfabetismo, em 2008, publiquei um post colocando minhas impressões e homenagens ao louvável ato. http://gilvanalmeida.blogspot.com/2008/12/evo-morales-e-bolvia.html
Mas, ser defensor não quer dizer que estou “cego” para as incompetências, os desmandos e as atitudes incoerentes como esta que o Governo Evo tomou.

Parabéns povo boliviano!!! Que o povo brasileiro, um dia, possa ter garra semelhante à vossa.


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Quando Nietzsche chorou

Nada como começar o ano lendo um bom livro. Quando Nietzsche Chorou é daqueles livros que me conquistou desde o início, pois aborda temas que me interesso muito: história, filosofia, relacionamentos humanos reais, envolventes e identificáveis pelo coração do leitor.
Este primeiro romance de Irvin D. Yalom, psicoterapeuta e professor, mescla, em linguagem facilmente compreensível, elementos reais com a ficção, unindo em um mesmo contexto personagens históricos como Josef Breuer, um dos pais da psicanálise, o jovem Sigmund Freud e o filósofo Friedrich Nietzsche. Grifei alguns trechos que me tocaram o coração (leia a seguir).

Gilvan Almeida

PS: O filme Quando Nietzsche chorou, já lançado em DVD, também é muito bom.


Quando Nietzsche chorou
Irvin D. Yalom

-O importante é a coragem de ser eu mesmo...
-(...) O sofrimento pessoal é uma benção: o campo de treinamento para encarar o sofrimento da existência. (...)
-Torna-te quem tu és...
-(...)a solidão é um solo fértil para a doença(...)
- (...)E se aquilo que sou ou que fui destinado a ser é servir, ajudar os outros, contribuir para a ciência médica e o alívio do sofrimento? (...)
-(...)Amo aquilo que nos torna mais do que somos.
-“Assim como ossos, carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados em uma pele que torna a visão do homem suportável, também as agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade; ela é a pele da alma.”
-“Tens em mim o maior defensor, mas também o mais impiedoso juiz! Exijo que julgues a ti mesma e que determines tua própria punição.”
-(...)Quero ajudá-lo a se expandir e crescer, não enfraquecê-lo pela confissão de suas falhas(...)
-(...)O desejo, o estímulo, a voluptuosidade...são os escravizadores! A ralé desperdiça a vida como os suínos alimentando a vala do desejo. (...)
-(...)Nossa responsabilidade para com a vida é criar o superior, não reproduzir o inferior. Nada deve interferir com o desenvolvimento do herói dentro de você. Se o desejo o impede, então também ele precisa ser superado. (...)
-(...)Cura filosófica consiste em aprender a escutar sua própria voz interna. (...)
-(...)Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um acidente(...)
-O que veria se não estivesse cego por trivialidades? (...) inteligente mas cego, sincero mas tortuoso. Saberá de sua própria insinceridade?
-(...)Eis um homem tão oprimido pela gravidade – sua cultura, sua posição, sua família – que jamais conheceu sua própria vontade. Tão preso à conformidade, que parece espantado quando falo de escolha, como se estivesse falando uma língua estrangeira. (...)
-(...)É curioso como ele teve o conceito ao seu alcance em uma idade precoce, mas nunca desenvolveu a visão para enxergá-lo (...) nunca entendeu a natureza de sua promissão. Ele nunca compreendeu que seu dever era aperfeiçoar a natureza, superar a si mesmo, sua cultura, sua família, seu desejo, sua natureza animalesca brutal, para se tornar quem ele foi, o que ele foi. Ele nunca cresceu, ele nunca se desvencilhou de sua primeira pele: ele confundiu a promissão com a realização de objetivos materiais e profissionais. E quando alcançou esses objetivos sem jamais ter aquietado a voz que dizia “torna-te quem tu és”, recaiu no desespero e invectivou a peça nele pregada. Mesmo agora ele não capta a verdade! Existe esperança para ele? Ele ao menos pensa sobre as questões corretas e não recorre a embustes religiosos. Mas é medroso demais. Como lhe ensinar a se tornar rijo? (...)Haverá uma receita para enrijecer a determinação? (...)Terei a habilidade de lhe ensinar a transmutar a “assim se deu” no “assim o quis”? (...)
-(...)Incapaz de amar, no afeto sempre doente(...)
-(...)personalidade do gato – o predador na pele de animal de estimação(...)
-(...)egoísmo infantil como resultado da atrofia e do atraso sexual(...)
-(...)As melhores verdades são as verdades sangrentas, extraídas da experiência de vida da própria pessoa.
-(...)É claro que você sofre, é o preço da visão. É claro que você sente medo, viver significa correr perigo. (...)
-(...)(Utilizar) tática diversionista por parte da mente, para evitar encarar as preocupações existenciais bem mais dolorosas que clamam por atenção(...)
-(...)Era estimulante desabafar-se, compartilhar todos os seus piores segredos, contar com a atenção exclusiva de alguém que, na maior parte do tempo, entendia, aceitava e parecia até perdoá-lo.
-(...)aprendeu a se tornar um doutor do desespero?
-(...)O importante não é eu lhe contar sobre meu caminho, e sim, ajudá-lo a encontrar o seu caminho a fim de crescer para fora do desespero.
-(...)Observar a si mesmo de uma grande distância – uma perspectiva cósmica sempre atenua a tragédia. Se subirmos bastante, atingiremos uma altura da qual a tragédia deixará de ser trágica. -(...)existe um fosso, um imenso fosso, entre saber algo intelectualmente e sabê-lo emocionalmente.
-(...)sempre que abandonamos a racionalidade e recorremos às faculdades inferiores para influenciar os homens, resulta um homem inferior e mais vulgar(...)
-(...)existe realidade em suas preocupações? (...)
-(...)algo em você, algum temor, alguma timidez, não lhe permite expressar sua raiva. Em vez disso, você se orgulha de sua mansidão. Você faz da necessidade uma virtude:soterra profundamente seus sentimentos e, depois, por não experimentar nenhum ressentimento, supõe-se um santo(...)acredita que seja bom demais para ter raiva. (...)o ressentimento enrustido torna a pessoa doente.
-(...)ele se apresenta como bom; não comete nenhum mal, a não ser contra si e a natureza! Preciso fazer com que deixe de ser um daqueles que se julgam bons porque não têm garras. (...)ele não sente raiva! Terá tanto medo de que alguém o magoe? Será por isso que não ousa ser ele próprio? Por que deseja somente pequenas felicidades? E ele denomina isso virtude. Seu nome real é covardia! Ele é civilizado, polido, um homem bem-educado. Ele domou sua natureza selvática, transformou seu lobo num cão de raça. E ele o denomina moderação. Seu nome real é mediocridade!
-(...)Sou facilmente capturado pela beleza.
-(...)odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia. (...)Por não prezarem as coisas que prezo!Às vezes, enxergo tão profundamente a vida que, de repente, olho ao redor e vejo que ninguém me acompanhou e que meu único companheiro é o tempo.
-Temos que nos voltar para o significado. O sintoma não passa de um mensageiro com a notícia de que a angústia existencial está irrompendo das profundezas do ser. (...) preocupações profundas trancafiadas por toda uma vida, agora rompem suas cadeias e batem às portas e janelas da mente. Elas demandam ser ouvidas. Não apenas ouvidas, mas vividas. (...) Sintomas – as tolas escaramuças superficiais, enquanto a batalha real, a luta mortal (está) por debaixo.
-(...)A consciência é apenas uma película translúcida que cobre a existência: o olho treinado enxerga através dela, vislumbrando forças primitivas, instintos, o verdadeiro motor da vontade de poder.
-(...)Montaigne...nos aconselha a morar em um quarto com vistas para um cemitério, pois isso aclara a nossa mente e mantém as prioridades da vida em perspectiva.
-(...)sonho com um amor que seja mais do que duas pessoas ansiando por possuir uma à outra (...) sonho com um amor em que duas pessoas compartilham uma paixão de buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez não devesse chamá-lo de amor. Talvez seu nome real seja amizade.
-(...)Morra no momento certo. (...)viva enquanto viver! A morte perde seu terror quando se morre depois de consumida a própria vida. Caso não se viva no tempo certo, então nunca se conseguirá morrer no momento certo. (...)Você viveu sua vida?Ou foi vivido por ela?
-Para formar crianças, você precisa primeiro estar formado. Senão, terá filhos por forças de necessidades animais, ou da solidão, ou para remendar seus buracos. Sua tarefa como pai não é produzir outro eu, mas algo mais elevado.
-Estarei desnudando antes de ensinar a tecer novas roupas?
-Assumir a responsabilidade dos outros...esse é o caminho para o aprisionamento, meu e deles.
-Quanto mais fértil o solo, mais imperdoável é o fracasso em cultivá-lo.
-Alguma vez ouviu falar de um visionário casado ou domesticado? Não, isso o arruinaria. Acho que o destino dele é ser um visionário solitário.
-(...) a relação conjugal só é ideal quando não é necessária para a sobrevivência de cada parceiro (...) para se relacionar plenamente com outro, você precisa primeiro relacionar-se consigo mesmo. Se não conseguimos abraçar nossa própria solidão, simplesmente usaremos o outro como um estudo contra o isolamento. Somente quando consegue viver como a águia, sem absolutamente qualquer público, você consegue se voltar para outra pessoa com amor; somente então é capaz de se preocupar com o engrandecimento do outro ser humano.
-(...)A chave para viver bem é primeiro desejar aquilo que é necessário e, depois, amar aquilo que é desejado.
-(...)Limites podem ser estendidos.
-(...)Ofereça a um amigo em sofrimento um lugar de repouso, mas cuide para que seja uma cama dura ou um leito de campanha.