sábado, 28 de março de 2009

Indicação de livro

Escrevi este texto em 2006 e postei no antigo blog. Ano passado foi lançado o filme com o mesmo nome, e muito bom também. Na Thenny vídeo tem.

Gilvan Almeida



Fazia tempo que eu não me apaixonava por um livro. Recentemente reencontrei-me com aquele sabor infanto-juvenil de viajar na história, dentro de uma temática que sempre gostei: a cultura árabe. Sentia a cada dia uma sede constante de ler, buscando um tempo entre minhas atividades cotidianas para prosseguir a leitura.
O livro é “O caçador de pipas”, de Khaled Hosseini, escritor nascido no Afeganistão, que, de forma cativante e envolvente, nos conduz, através da grande amizade de duas crianças, pela história de seu país, desde a queda da monarquia através de um golpe de Estado, passando pela invasão e posterior expulsão dos russos, pela tomada do poder pelos talibans, até a invasão do país pelos Estados Unidos, após os atentados do World Trade Center, e a situação atual.
Gostei muito de conhecer alguns detalhes da cultura do povo afegão que eu não conhecia, como seus valores morais, éticos e espirituais, de honra e honestidade, solidariedade, amizade e zelo pela família, detalhes estes que a imprensa ocidental, grande parte dela manipulada pelos Estados Unidos, deliberadamente não nos mostra, pois o que interessa é mostrar os povos árabes e mulçumanos como terroristas e bárbaros, pois assim, fazendo nossos corações e mentes, fica mais fácil para os “donos do mundo” continuarem fazendo as barbaridades e atrocidades que fazem atualmente no Líbano, Iraque, Palestina e no próprio Afeganistão.
Isabel Allende, escritor chilena que admiro, fez o seguinte comentário sobre esse livro: “Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido este romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção”.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Medicina - produto de consumo

“O sistema médico cria incessantemente novas necessidades terapêuticas. Mas quanto maior a oferta de saúde, mais as pessoas crêem que têm problemas, necessidades, doenças. Elas exigem que o progresso supere a velhice, a dor e a morte. Isso equivale à própria negação da condição humana”. Ivan Ilich

O capitalismo cria continuamente novos produtos e junto com eles a necessidade de consumi-los, colocada em nossas cabeças, desde a infância, através de maciças campanhas publicitárias. Assim surgem novos alimentos, produtos eletrônicos e de informática, carros, e também medicamentos, exames sofisticados, e outros, que nos fazem acreditar que para vivermos melhor e sermos mais felizes, precisamos comprá-los, tê-los, consumi-los.
É vergonhosa e criminosa a dominação que a indústria médico-farmacêutica multinacional submete os países, especialmente os mais pobres e os emergentes, associada às grandes redes da mídia, especialmente a televisiva, vendendo-nos produtos mágicos, soluções milagrosas, pílulas da felicidade, exames redentores, como se para ter mais saúde necessitemos apenas de meios diagnósticos sofisticados e drogas milagrosas, e esses "produtos" passam a fazer parte do sonho de consumo da população. Observem a quantidade de artigos e temas de capas sobre saúde curativa e novas terapêuticas que a revista Veja coloca semanalmente, bem como as reportagens que o Fantástico mostra todos os domingos sobre os mesmos temas. Raramente abordam a Medicina Preventiva e a Educação em Saúde, que efetivamente são as responsáveis, quando fazem parte da política Nacional de Saúde de uma nação, pela elevação dos níveis de saúde de um povo. Por que isto? Porque a medicina Preventiva não dá lucro para o capitalismo médico e nem rende votos aos políticos governantes como a medicina curativa com seus grandes hospitais e sofisticados centros de diagnósticos rende.
Beneficiam-se desse sistema tanto as multinacionais quanto as classes dominantes pois o povo que não tem consciência de seus direitos e do que realmente proporciona melhor qualidade de vida e saúde, como saneamento básico, água potável, educação, trabalho e salários dignos, moradia adequada, lazer, mais fácil é de ser dominado.
Concluo com este pensamento do filósofo Voltaire, que captou uma verdade já meio esquecida, pois também vejo que a medicina atual pouco tempo tem dado para a ação curativa da natureza, que Samuel Hahnemann, criador da Homeopatia, cita em seus escritos como a Vix medicatrix naturae:

“A arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a Natureza cuida da doença”. Voltaire

Gilvan Almeida

sábado, 14 de março de 2009

Estatuto do Homem

Para mim, o Estatuto do Homem é a obra prima de Thiago de Mello, um dos maiores poetas vivos, por quem tenho grande admiração.

Gilvan Almeida



Estatuto do homem - ato institucional permanente

por Thiago de Mello

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converterem-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrirem-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer o dia inteiro abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único

O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio, nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecido, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías. O lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável, fica estabelecido o reinado permanente da justiça, da claridade e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que, sobretudo, tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que, por isso, é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único

Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. Artigo final Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio e a sua morada será sempre o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964



quinta-feira, 5 de março de 2009

O Livro dos Livros - Kitab-Ul-Kutub

Georges Bourdoukan escreve na revista Caros Amigos, que considero a melhor revista brasileira da atualidade, por seu caráter independente e democrático, sem rabo preso a partidos, governos ou oposições. Ainda não havia ouvido falar ou lido nada a respeito do Kitab-Ul-Kutub, o Livro dos Livros, e achei muito interessante o artigo "O Gafanhoto", que Bourdoukan publicou em sua coluna na Caros Amigos, n.º 85, ano 2004. Procurei seu Blog e de lá trouxe o artigo "O sentido da Vida", também referente ao Livro.

Gilvan Almeida


O GAFANHOTO

Conta-se, mas Allah sabe mais, que há muitos e muitos anos vivia no oásis de Bukra um povo cuja bondade nem o tempo conseguia medir. Esse povo era guardião do Kitab-ul-Kutub (Livro dos Livros) que deveria servir de guia para a humanidade e de forma alguma poderia cair em mãos erradas, sob o risco de despertar o Incontrolável. Na capa, letras circundavam a figura de um gafanhoto onde se lia:

"Ser humano é entender que a

Diversidade leva à unidade,

Que a unidade leva à solidariedade,

Que a solidariedade leva à igualdade,

Que a igualdade leva à liberdade,

Que a liberdade leva à diversidade."

Nas páginas internas, desenhos de animais vinham acompanhados de parábolas. A do cavalo dizia: "Vivemos num eterno círculo, onde as retas não têm fim"; a do camelo apregoava: "Impossível e nunca são palavras que não devem ser pronunciadas porque a natureza humana não suporta limites"; a da gazela ensinava: "A sabedoria é como a água, quem não tem sede não sente prazer em beber"; a da águia alertava: "Nenhuma coisa pode ser vista se não se souber como vê-la"; a do touro lamentava: "Quem pensa somente no futuro é um insensato; afinal, o que o futuro lhe trouxe?"; a do escorpião instruía: "Fuja do hábito ou ele acabará anulando sua vida"; a da serpente proclamava: "Imortal, a humanidade jamais terá fim, pois Deus precisa do homem para existir".

Na página central, ao lado da imagem do gafanhoto, um texto esclarecia: "O gafanhoto reúne a natureza e a forma dos sete viventes primordiais. Tem a cabeça do cavalo, o pescoço do touro, as asas da águia, os pés do camelo, a cauda da serpente, o ventre do escorpião e os chifres da gazela. Se você chegou até aqui e não entendeu a mensagem, não prossiga. Observe e aprenda que os animais são mais generosos que os homens, pois nunca se viu um leão escravo de outro leão, nem cavalo de outro cavalo". Não se sabe o que aconteceu com o povo de Bukra nem com o livro. Beduínos da tribo dos Bani-Nujum deixaram relatos de que eles teriam se ocultado para proteger o livro do Al-Dajal, trazido pelo vento norte. E que um dia reapareceriam para que a humanidade pudesse entender o significado do círculo.

O SENTIDO DA VIDA

No Oásis de Bukra dizem que somos imortais. Que essa é a razão do sentido da vida. E quem tem dúvidas que consulte o Kitab-ul-Kutub. A cada linha do Livro dos Livros um novo mundo se abre.É um livro único, definitivo. Nenhuma palavra superficial, nenhuma linha inútil, nenhuma página dispensável. Até mesmo para a questão que sempre intrigou a humanidade a resposta é clara e concisa. “O sentido da vida é a liberdade plena. Que você só vai alcançá-la quando se libertar do invólucro. O invólucro é o seu corpo. À liberdade do invólucro dá-se erroneamente o nome de morte. São dois cordões umbilicais que acompanham o vivente. Quando ele chega e quando parte. Um é visível, o outro também é, mas poucos conseguem vê-lo. Não se esqueça que o pior cego é aquele que vê, mas não enxerga”. Não sei se todos concordam, mas o que posso dizer é que as três mil e seiscentas páginas que consultei (não consegui chegar ao final do livro, pois me pareceu que o número de páginas é infinito) me transportaram para lugares incríveis que jamais havia sequer imaginado. Espero um dia conseguir terminá-lo, mas creio que isso somente será possível quando atingir a imortalidade. Ao fechar o Livro uma página ficou dobrada. Ao reabri-lo uma frase saltou aos meus olhos:

“Um mudo sensato vale mais do que um tolo que fala”...

Georges Bourdoukan é jornalista e escritor, autor de A incrível e fascinante história do capitão mouro, O peregrino, Vozes do deserto e O apocalipse.

Blog: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Revista Caros Amigos: http://carosamigos.terra.com.br/

domingo, 1 de março de 2009

Fim do túnel


Vejo que o sofrer faz parte da condição de ser humano (assim como a possibilidade da Paz e do Amor). Alguns apenas adoecem, sofrem, e quando se curam, não tiram uma lição das dores que vivenciaram. Outros aprendem algo, crescem, transformam-se, amadurecem, afinam-se em sentimentos e percepções, enxergam as causas do adoecer e procuram uma nova forma de viver.
Quase sempre, durante a dor, precisamos de apoio, de ouvidos pacientes e compreensivos, aliados a uma palavra terna e amiga. É bom acreditar que tudo neste mundo passa e, como um Mestre disse, "pra tudo neste mundo há um jeito". Encontrei hoje esta imagem no site Varal de idéias, do amigo Marcos Afonso, que me fez pensar nisto que escrevi.
Saúde e felicidade a todos.
abs
Gilvan Almeida