domingo, 14 de setembro de 2008

11. Filmes que assisti no Festival de Cinema de Gramado


Votos, comentários e indicações

Logo que se confirmou minha ida ao Festival a disposição para ver muitos filmes era grande. Fiquei um pouco decepcionado quando soube que seriam só onze filmes. Consegui ver quinze nos seis dias da Mostra Competitiva:

1. Dias e noites: Filme de abertura do Festival, não participante da mostra competitiva.

Elenco: Antônio Calloni, José de Abreu, Naura Scheneider e outros.

Sinopse: Atravessando três décadas, a história mostra a trajetória de uma mulher que, ao casar com um rico fazendeiro, enfrenta uma realidade conjugal quase insustentável. Clotilde foi uma mulher que viveu à frente de sua época e não se conformou com o tratamento que recebia do marido. Sofrendo agressões físicas e morais, ela sai de casa, tornando-se uma mulher “desquitada”, mal vista pela sociedade. Após perder todos seus direitos e a guarda dos filhos, Clô inicia uma longa luta para tentar recuperá-los, enfrentando e ajudando a quebrar toda a lógica de uma época em que a mulher era subjugada socialmente

2. Nome próprio

Elenco:Juliano Cazarré, Leandra Leal e outros

Sinopse: “Nome próprio” conta a história de uma jovem mulher que dedica a vida à sua paixão, escrever. Camila é intensa, complexa e corajosa. Para ela, o que interessa é construir uma trajetória como ato de afirmação. Sua vida é sua narrativa. Construir uma narrativa digna o suficiente para que escreva sobre ela. “Nome próprio” é um filme sobre a paixão de Camila. De sua busca por redenção. Quer a literatura como ato de revelação. Para tal, cria vínculos. Carente, os destrói. Por excesso. Por apego. Por paixão. “Nome próprio” é o olhar sobre uma personagem feminina que encara abismos e, disso, retira os amparos que necessita para existir. Para Camila, a vida floresce das cicatrizes de seu processo de entrega absoluta e vertiginosa.

3. Por sus propios ojos

Elenco: Ana Carabajal, Luisa Nuñez, Mara Santucho, Maximiliano Gallo e outros.

Sinopse: Uma estudante de cinema, Alicia, tenta fazer um documentário sobre um tema nada fácil: as mulheres dos presos. Em geral as mulheres resistem à filmagem por temor à condenação social. No meio dessa dificuldade, Alicia conhece Elsa, que tem um filho preso. Entre elas se estabelece um vínculo onde tudo flui como Alicia quer.

4. Vingança

Elenco: Erom Cordeiro, Branca Messina, José de Abreu e outros.

Sinopse: Em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, Camila, filha de um rico fazendeiro, é violentada e abandonada na beira de um rio. Meses depois, Miguel, um rapaz misterioso e solitário, chega ao Rio de Janeiro e passa a perseguir uma jovem carioca, Carol, com quem inicia um estranho relacionamento. Carol tem um irmão, Bruno, que mora na Austrália e que acabara de chegar ao Rio para passar alguns dias. Juntos eles vão a uma festa, onde Sazão, amigo de Bruno e Carol, é golpeado e quase morto. Sazão não identifica o agressor. Na mesma noite da festa, Camila chega ao Rio de Janeiro e faz revelações que conduzem a história para um novo e inesperado caminho.

5. Mãe de gay – curta metragem

Sinopse: A descoberta da posição sexual de um filho pode trazer surpresas. As reações de uma mãe ao descobrir que seu filho é gay e o modo como encara a situação variam muito. O documentário aborda as relações e conflitos de mães de filhos gays na sociedade atual. “Mãe de Gay” mostra a relação familiar de homossexuais, dando destaque para a mãe que é considerada o alicerce de toda família.

6. Mindelo – atrás de horizonte

Sinopse: O documentário “Mindelo – atrás de horizonte” é o retrato de uma pequena cidade-porto de Cabo Verde, situada no meio do Oceano Atlântico. A câmara segue a vida contemporânea da ilha procurando a cultura crioula de seu povo. Sem comentários, sem entrevistas, sem narração...

7. Netto e o domador de cavalos

Elenco: Werner Schünemann, Tarcísio Filho, Fernanda Carvalho Leite e outros.

Sinopse: “Netto e o domador de cavalos” reconta a mais popular lenda rio-grandense – O negrinho do pastoreio. No início da Guerra dos Farrapos, o General Netto descobre que um antigo parceiro das guerras do sul, o Sargento Torres, está preso. Para libertá-lo, busca a ajuda de escravos rebelados, entre eles, o negrinho, o melhor ginete da fronteira.

8. A encomenda do bicho medonho – curta metragem

Sinopse: David Ferreira, também conhecido como David Barbeiro, é um desses tipos que despertam a curiosidade e a admiração de quem tem a oportunidade de conhecer suas histórias e engenhocas intrigantes. Ainda menino, sonhou com “um bicho grande, feio e medonho” que o mandou construir a primeira das encomendas que receberia nos anos seguintes. A partir daí, vieram mais e mais tarefas, e David foi dando conta de todas.

9. O grão

Elenco: Leuda Bandeira, Nanego Lira e outros.

Sinopse: A velha Perpétua, sentindo a presença da morte, resolve preparar Zeca, seu querido neto, para a separação que se aproxima, contando-lhe a história de um rei e uma rainha, muito ricos e poderosos, que perderam o único filho e que querem trazê-lo de volta à vida. Enquanto Perpétua conta a história, Damião e Josefa trabalham para sustentar a família e preparar o casamento da filha Fátima. Ao final, a história contada por Perpétua e o destino daquela família se cruzam.

10. Perro come perro

Elenco: Marlon Moreno, Oscar Borda e outros.

Sinopse: No mundo do crime da Colômbia há uma lei não oficial. Quando Victor e Eusébio, dois criminosos que trabalham extorquindo dinheiro, desrespeitam as regras, inconscientemente assinam suas próprias sentenças de morte.

11. Pachamama

Sinopse: O filme “Pachamama” título que significa para os indígenas andinos “mãe-terra” e designa a deusa agrária dos camponeses, narra a viagem de um cineasta, o próprio diretor, através da floresta brasileira em direção ao Peru e à Bolívia, onde encontra a realidade de povos historicamente excluídos do processo político de seus países e que pela primeira vez na história buscam uma participação efetiva na construção de seu próprio destino. É uma pequena odisséia de trinta dias pela realidade amazônica e andina, que revela um continente em ebulição, perpassado pela cultura milenar andina, que irradia pelo continente sul-americano substância primordial na constituição de novos paradigmas políticos.

12. A festa da menina morta:

Elenco: Daniel de Oliveira, Jackson Antunes, Juliano Cazarré, Cássia Kiss, Dira Paes, Paulo José (participação especial) e outros.

Sinopse: A Festa da Menina Morta conta a história de Santinho, alçado à condição de líder espiritual numa comunidade ribeirinha do alto Amazonas, a partir de um “milagre” realizado por ele após o suicídio de sua própria mãe. O filme procura ser o retrato íntimo dos envolvidos nesta seita e da capacidade infinita do homem em “criar” fé e buscar um sentido diante de seu horror à morte.

13. O mistério da estrada de Sintra

Elenco: Antônio Pedro Cerdeira, Bruna di Túlio e outros.

Sinopse: Verão de 1870. Dois escritores, Eça e Ramalho. Ramalho é raptado. O desafio está lançado. Escrever um policial a quatro mãos para O diário de Notícias. Será que a história que criaram como ficção é baseada num caso real? Esta é a pergunta que sustenta o conflito entre estes dois escritores, e os afasta num duelo quase mortal entre Sintra e Malta. O folhetim avança, e com ele ameaças, duelos, sexo e intrigas. Lisboa está em alvoroço. Todos se tomam pelo conde atraiçoado. Os crimes sucedem-se numa história onde o amor é mais forte que a tradição, a intriga escapa às evidências e tudo corre freneticamente, como num jogo. Baseado na obra de Eça de Queiroz, O mistério da estrada de Sintra desafia todas as convenções numa acutilante crítica de costumes à romântica sociedade portuguesa do século.

14. Cochochi

Elenco: Luis Antônio Lerma torres, Evaristo Corpus Lerma torres e outros.

Sinopse: Evaristo e Tony, irmãos indígenas do noroeste do México têm apenas o ensino fundamental concluído quando recebem uma tarefa do seu avô: entregar medicamento no outro extremo da Sierra Tarahumara. Tony e Evaristo, temendo a estrada pela frente, decidem pegar o cavalo do avô e partem em uma viagem mais longa do que o esperado.

15. Juventude

Elenco: Paulo José, domingos de Oliveira, Aderbal Freire Filho e outros.

Sinopse: David, Antônio e Ulisses foram amigos a vida toda. Desde sua reunião, ainda adolescentes, para a representação colegial de “A ceia dos cardeais” de Júlio Dantas, o clássico português. Passados 50 anos reúnem-se uma noite para comemorar seu encontro e efetuarem um balanço das suas vidas e, particularmente, seus amores. “Juventude”, título do filme, trata-se de um estudo da psicologia e problemática dos homens entre 65 e 70 anos. O trabalho conteve em sua gênese a intenção de resultar num filme belo e profundo, além de engraçado, que estude sem medo e francamente a situação psicológica e filosófica dos “Cardeais”. Homens inteiros, ainda sem os beneplácitos da senilidade, no entanto próximos e diante de seu próprio fim.

Comentários:

A mostra competitiva aconteceu entre os dias 10 e 15, sendo um filme na abertura e dois (um nacional e um estrangeiro) nas noites subseqüentes. Durante o dia participava dos debates sobre os filmes da noite anterior, reuniões, passeios na cidade e em duas tardes consegui ver dois curtas e um longa metragem.
Como disse anteriormente, o Júri Popular avaliava os filmes somente pelo aspecto afetivo, mas não me concentrei somente neste critério. Já não consigo ver um filme sem olhar e avaliar trilha sonora, direção, edição, interpretação dos atores, fotografia, figurino. Para mim, cinema não é só diversão e pipoca. Antes de ver qualquer filme pergunto-me: com base na sinopse, opinião de amigos, leitura de críticas especializadas e outras notícias da mídia, tenho real interesse e a necessária disposição para gastar duas horas do meu tempo para ver este filme? Acho que vai me trazer algo de útil, que possa contribuir para o meu crescimento? Com base nestas perguntas já descarto grande parte dos filmes atuais, xaropadas totalmente previsíveis, comédias sem graça, romances pueris, violências e terrores gratuitos. Alguns diretores e atores já me ganharam a credibilidade e vejo todos os filmes que encontro deles. Dos diretores destaco Akira Kurosawa, Fellini, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Pedro Almodóvar, Cacá Diegues, Sidney Lumet, Costa-Gravas, Fernando Meirelles, Ettore Scolla e outros. Dentre os atores e atrizes acompanho os filmes de Meryl Streep, Nicole Kidman, Jack Nicholson, Morgan Freeman, Dustin Hoffmann, Al Pacino, Johnny Deep, Robin Willians, Anthony Hopkins, Cate Blanchett, Daniel Day-Lewis, entre outros.
Após um filme procuro ver se a história me chamou e me prendeu a atenção; se o filme tocou o meu coração; se a interpretação dos atores e a direção me convenceram, e fizeram com que eu conseguisse realmente acreditar e entrar de cabeça e coração no filme. Nada mais frustrante do que ver que os atores estão somente representando, sem estar vivendo o personagem (sinto-me enganado); do que perceber falhas na continuidade e mudança das cenas, seja em cenários como no figurino, na maquiagem. Acho que estão querendo me fazer de bobo quando vejo o(a) ator/atriz carregando mala vazia em aeroportos ou boneca em lugar de um bebê.
Por esta minha forma de ver o cinema, considerei fracos grande parte dos filmes que vi. Gostei do primeiro filme da mostra competitiva, Nome próprio, pelo enredo atual (internet, cidade grande e relacionamento humano), pela direção que trabalhou de forma pouco usual com a iluminação e os ângulos das câmeras, e, especialmente, pela bela e forte interpretação da atriz Leandra Leal. Já neste dia vi que dificilmente ela perderia o troféu de melhor atriz, o que veio a se confirmar. Achei totalmente insossos, sem brilho e com pouca qualidade interpretativa e artística em geral os filmes Netto e o domador de cavalos, Vingança e Juventude. Todos estes com bons argumentos, atores e diretores, mas o conjunto do trabalho não me convenceu, não me tocou, especialmente Juventude, que me gerou uma boa expectativa quando li a sinopse e encontrei algumas semelhanças com o filme canadense As invasões bárbaras, Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004, que tenho em minha lista de melhores filmes que já vi, onde velhos amigos se reencontram, após saber que um deles está prestes a morrer, e relembram o passado. Fiquei decepcionado, achando que perderam a oportunidade de fazer um grande filme, e não entendi o entusiasmo da platéia após a exibição e depois a quantidade de prêmios recebidos. Pareceu-me que os prêmios foram mais voltados a homenagens pessoais do que pela qualidade artística da obra.
Quanto ao filme Pachamama, que também concorreu, não consegui colocá-lo no mesmo patamar dos outros, porque é um documentário e os outros ficção. O mesmo aconteceu com Mindelo – atrás de horizonte, que também é um documentário, na mostra de filmes estrangeiros. Ambos são bons documentários e deveriam concorrer em uma categoria própria e não junto com ficção.
Chegou a última noite da mostra e meu voto continuava com o filme Nome próprio, quando foi exibido o filme A festa da menina morta, que me conquistou a mente, o coração e o voto de melhor filme, porque encontrei nele uma completude que atendeu melhor que Nome próprio meus critérios do que deve ter um bom filme, especialmente pela competente abordagem de temas como religiosidade messiânica, incesto, meio ambiente, espiritualidade, transtorno mental, cultura amazônica, crenças populares, além de música e fotografia na medida certa.
Na mostra de filmes estrangeiros gostei muito do argentino Por sus propios ojos e do colombiano Perro come perro, dois filmes com enredos, interpretações e direções consistentes, que abordam com dramaticidade equilibrada a violência em nossa América Latina, mostrando algo que não soa estranho à realidade brasileira. O mexicano Cochochi e o luso-brasileiro O mistério da estrada de Sintra têm uma qualidade inferior, mas considerei-os melhores que os brasileiros Netto e o domador de cavalos, Vingança e Juventude, e que o filme Dias e Noites, que não concorreu na mostra competitiva. Votei em Perro come perro.
De todos os filmes que vi em Gramado o que mais me tocou o sentimento foi o nordestino “O grão” . Caso ele estivesse na mostra competitiva teria ganho meu voto de melhor filme. Acredito que muito tenha influenciado em minha receptividade a ele o ambiente em que o filme se passa – o nordeste árido e pobre, a vida de pessoas simples e trabalhadoras, realidade que imagino muito semelhante à que meus pais viveram lá antes de migrarem ainda jovens com suas famílias para o norte, na segunda guerra mundial. Outro aspecto que valorizei foi a inteligência e a sensibilidade do diretor em transpor uma lenda oriental para dentro da realidade sofrida do nordeste brasileiro, fazendo um casamento que considerei perfeito, como também a magistral interpretação, no papel da avó, feita pela atriz Leuda Bandeira. Veja trecho do filme: http://mais.uol.com.br/view/a56q6zv70hwb/18-cine-ceara--o-grao-040264DCC903C6?types=A&
Também gostei muito do curta “Mãe de gay”, direção de Carlos Xarão, colega do Júri Popular, que ganhou dois prêmios Galgo de ouro na categoria Vídeo Universitário Gaúcho, como melhor Documentário e prêmio do Júri Popular. De forma simples, direta e profunda o filme mostra as vítimas do preconceito e da discriminação social contra homossexuais, revelando o sentimento sob a pele tantas vezes massacrada de gays e suas mães. Veja o filme no site http://www.metodistadosul.edu.br/sites/universoipa/webjornalismo/geral/gramado/mae.html
Meus votos em A festa da menina morta e em Perro come perro coincidiram com os votos do Júri da crítica.

Em resumo: Dos filmes que vi no Festival indico Nome próprio, A festa da menina morta, Por sus propios ojos, Perro come perro e O grão, além do curta Mãe de gay.

Observação: As sinopses dos filmes foram transcritas da revista oficial do Festival, sendo que a do filme Mãe de Gay foi retirada do site http://www.metodistadosul.edu.br/

sábado, 6 de setembro de 2008

1. Minha experiência no Festival de Cinema de Gramado-RS

1. Como fui escolhido para ir a Gramado:
Minha filha Mariana me informou que o Jornal A Gazeta havia lançado um concurso para escolher um acreano para ser membro do Júri Popular do Festival de Cinema de Gramado, que aconteceria entre 10 e 16.08.2008, e me incentivou a participar. Aceitei de imediato e fiz estas quatro frases:
1. “Cinema brasileiro: desde o pioneiro Humberto Mauro, a câmera, a luz, a idéia e o talento brasileiro revelando sonhos e cultura através da 7ª arte.”
2. “Sonho, realidade, fantasia, imaginação e arte, o cinema brasileiro alimenta o imaginário de nosso povo, unindo-nos em fé, esperança, cultura, cidadania, nacionalidade e consciência do nosso valor.”
3. “O cinema brasileiro embala os sonhos da infância; desperta a consciência revolucionária em nossos jovens; alimenta a força do coração dos adultos e reconhece a importância e o valor dos idosos. Arte a serviço do povo.”
4. "De norte a sul, o cinema brasileiro evidencia e une a diversidade cultural brasileira, conduzindo através da fantasia, do talento e da imaginação, as mentes e corações em direção à essência artística de nossa brasilidade."
No final de julho recebi um telefonema da editora de A Gazeta, Maíra Martinello, me dando a agradável notícia que minha frase - número 3 - havia vencido o concurso. Fiquei muito feliz e, em seguida liguei para a Mariana, que vibrou muito com minha vitória.
(Continua)

2. Origem do símbolo do Festival


KIKITO - "O DEUS DO BOM HUMOR"
Num dia cinzento, Elisabeth Rosenfeld teve a idéia de criar algo para dissipar o mau humor, algo que ajudasse a vencer as amarguras da vida. Surgiu, assim, uma figura risonha: o Kikito, o deus do bom humor. Esta estatueta, devido ao seu êxito imediato, passou a ser o símbolo da cidade de Gramado, e depois, o símbolo e prêmio máximo dos Festivais de Cinema Brasileiro que desde 1973, oficialmente, realizam-se nessa cidade. Como troféu do Festival, mede 33 cm de altura, foi confeccionado em madeira de imbuia até o ano de 1989. A partir de 1990 passou a ser feito de bronze. De símbolo de uma cidade a prêmio de Festival, foi um salto. Romeu Dutra, em fins de 1970, levou o exemplar do Kikito para Ricardo Cravo Albim, então presidente do Instituto Nacional do Cinema - INC. Ricardo se agradou da estatueta e sugeriu, na ocasião, que a tomassem como troféu máximo dos Festivais de cinema, ainda que alguns preferissem a Hortênsia de Ouro. Este encontro foi marcado pelo ator gaúcho José Lewgoy. Desde a criação do Kikito, por Elisabeth Rosenfeld, também a mãe do artesanato gramadense, esta estatueta tem sido confeccionada pelo escultor Orival da Silva Marques, o "Xixo", que trabalhava com Elisabeth nos primeiros anos do Festival. Elisabeth Rosenfeld faleceu em 24 de janeiro de 1980.
Texto extraído do livro "Festival de Cinema Brasileiro de Gramado",de Luis Carlos Carrion, pág, 23.

3. A organização do Festival, os júris e as premiações


O Festival de Cinema de Gramado é integrante do calendário internacional de festivais de cinema, consagrado pela imprensa nacional e internacional.Conforme o Parágrafo único, Artigo 1º, do Regulamento Geral, “o FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO é uma mostra internacional de cinema com atenção especial para o Cinema Brasileiro e para as cinematografias autorais e de produção independente, em particular, mas não exclusivamente, os cinemas da América Latina e dos países de língua latina.”
Acontecem, durante o Festival, quatro mostras de cinema:
3.1.Competição de filmes de longa-metragem de ficção e documentários estrangeiros;
3.2.Competição de Filmes de longa-metragem de Ficção e Documentários Brasileiros;
3.3.Competição Nacional de Filmes de Curta-metragem, e
3.4. Mostra de Filmes de Curta-metragem Gaúchos, coordenada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul em conjunto com as entidades de classe do Estado do Rio Grande do Sul.
Aos filmes brasileiros e estrangeiros de longa metragem são destinados os seguintes prêmios: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia. Os júris de premiação dos filmes de longa-metragem poderão ainda atribuir, a seu critério, um Prêmio Especial do Júri e um Prêmio Especial de Qualidade Artística.
Os prêmios destinados aos filmes brasileiros de curta metragem são: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia.
Em paralelo à premiação dos júris oficiais – Júri filmes longa-metragem brasileiros, Júri filmes longa-metragem estrangeiros, Júri filmes curta metragem e Júri filmes Mostra Gaúcha, todos com cinco membros cada - o 36º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO inclui em sua programação prêmios concedidos por um Júri da Crítica, um Júri Popular e um Júri de Estudantes de Cinema.
a) Júri da Crítica: Formado por críticos de cinema, coordenado pela Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, e com sete integrantes apresentados ao FESTIVAL antes de seu início, o Júri da Crítica irá entregar um prêmio ao melhor filme de longa-metragem brasileiro e ao melhor filme de longa-metragem estrangeiro.
b) Júri Popular: Formado por quatorze espectadores de diferentes estados do país, convidados pela Comissão Executiva do 36º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO a participar do evento, o Júri Popular irá entregar um prêmio ao melhor filme de longa-metragem brasileiro e ao melhor filme de longa-metragem estrangeiro.
c) Júri de Estudantes - Formado por até nove estudantes de Cinema convidados pela Comissão Executiva do 36º FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO a participar do evento, o Júri de Estudantes irá entregar prêmios a filmes de longa-metragem brasileiros, filmes de longa-metragem estrangeiros e filmes de curta-metragem brasileiros.
Art. 20º: Paralelamente às mostras competitivas, serão realizadas outras projeções e eventos de interesse do desenvolvimento cultural cinematográfico, como retrospectivas, homenagens, seminários e os três prêmios especiais que o FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO atribui a cada ano, o Troféu OSCARITO, o Troféu EDUARDO ABELIN e o KIKITO DE CRISTAL.
(Continua)

4. A viagem, a recepção e as primeiras observações

Nos preparativos para a viagem soube que o jornalista Cleber Borges, do Jornal A Gazeta, também iria a Gramado, fazer a cobertura jornalística do evento, o que muito aliviou a ansiedade em que eu estava. Chegamos ao aeroporto de Porto Alegre dia 09 de agosto, à noite, temperatura de 14º C, onde já nos aguardavam, e fomos direto para Gramado, cidade situada na serra gaúcha, a 850 metros acima do nível do mar, fundada por alemães e italianos, e uma população de 33.000 habitantes.Ao nos aproximarmos da cidade comecei a ver outdoors informando sobre o festival, sinais do grau de importância artística, turística e econômica do evento para o município, o que foi se confirmando quanto mais chegávamos à área urbana, através de cartazes, banners e estátuas do Kikito (símbolo do festival e prêmio destinado aos melhores) nos cruzamentos das ruas. Nos dias seguintes vi melhor como uma cidade, uma comunidade, se prepara para um evento cultural. Gramado “vivia” o cinema, “transpirava” cultura naqueles dias, no maior dos 300 eventos que acontecem anualmente, segundo o Prefeito Municipal. Admirável o empenho e a preparação das pessoas, moradores e alunos das escolas, para bem receber os visitantes e também vivenciar o que acontece no festival.Fomos levados ao Hotel e Pousada “Sossego do major”, onde ficaram hospedados os membros do Júri Popular. Temperatura no momento da chegada: 2º C.
(Continua)

5. O Júri Popular

O Júri Popular da 36ª edição do Festival era composto de 14 membros, todos selecionados através de concursos semelhantes ao que aconteceu em Rio Branco. Havia representantes do Acre(1), Pará(1), Rio Grande do Norte(1), Minas Gerais(1), Rio de Janeiro(1), São Paulo(1), Bahia(1), Pernambuco(1), Rio Grande do Sul(5) e Paraná(1). A atribuição deste júri era eleger os melhores filmes nacional e estrangeiro, por uma escolha afetiva e não técnica. Representávamos o olhar e o coração do público.
(Continua)

6.Inicia-se o Festival:

Dia 10 de agosto, pela manhã, fomos conduzidos ao Centro de Eventos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sede da organização administrativa do Festival, onde estavam a Secretaria; os estandes de exposição de empresas de cinemas e outras mídias; equipamentos eletrônicos e de telecomunicações; salas de entrevistas coletivas; salas de debates e exibição de curtas-metragens, e um local decorado com símbolos das tradições da cultura gaúcha, onde fui com freqüência tomar chimarrão.Fomos bem recebidos pelas secretárias e pelo Flávio Borges, responsável em atender todas as necessidades dos membros do Júri Popular. O material destinado a cada jurado já estava pronto e personalizado – crachá, bolsa, folders, programação do festival, folhetos com orientações sobre pontos turísticos, lista dos restaurantes onde poderíamos fazer as refeições. Em seguida tivemos uma reunião com Ana Mota e Sérgio Sanz, ela responsável pela Comunicação e ele um dos curadores do festival, ocasião em que recebemos as orientações necessárias para fazermos um bom trabalho, com os devidos cuidados para a preservação do sigilo quanto as nossas escolhas dos melhores filmes, que só poderiam ser revelados após a exibição do último filme da amostra competitiva.Às 17 horas de domingo, dia 10, na rua coberta, em frente ao Palácio dos Festivais, aconteceu a abertura do Festival, com a presença de autoridades municipais e estaduais, artistas, produtores, cineastas, e grande número de populares, tendo a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre apresentado diversas peças musicais.Em seguida os convidados caminharam sobre o tapete vermelho até o Palácio dos Festivais, onde aconteceram as exibições dos filmes concorrentes.
(Continua)

7.Os filmes

Segundo o curador José Carlos Avelar, a pré-seleção dos filmes foi feita por uma comissão de cinco membros. Foram inscritos 43 filmes nacionais e 12 internacionais. A seleção oficial de filmes para a amostra competitiva ficou assim constituída: Seis Filmes nacionais e cinco Filmes estrangeiros.

7.1. Mostra competitiva filmes brasileiros longa-metragem:

-A festa da menina morta, direção de Matheus Nachtergaele;
-Juventude, direção de Domingos de Oliveira;
-Netto e o domador de cavalos, direção de Tabajara Ruas;
-Nome próprio, direção de Murilo Salles;
-Pachamama, direção de Erik Rocha, e
-Vingança, direção de Paulo Pons.

7.2. Mostra competitiva filmes estrangeiros longa-metragem:

-Cochochi, direção Israel Cárdenas e Laura Guzman, México;
-Mindelo – atrás de horizonte, direção de Alexis Tsafas, Cabo Verde;
-O mistério da estrada de Sintra, direção de Jorge Paixão da Costa, Portugal;
-Perro come perro, direção de Carlos Moreno, Colômbia, e
-Por sus propios ojos, direção de Liliana Paolinelli, Argentina.

7.3. Mostra competitiva filmes brasileiros curta-metragem:

-Areia, de Caetano Gotardo;
-Blackout, de Daniel Rezende;
-Booker Pittman, de Rodrigo Grota;
-Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral;
-Espalhadas pelo ar, de Vera Egito;
-Hiato, de Vladimir Seixas;-Homens, de Lúcia Caus e Bertrand Lira;
-Noite de domingo, de Rodrigo Hinrichsen;
-O presidente dos Estados Unidos, de Camilo Cavalcante;
-Osório, de Heloísa Passos e Tina Hardy;
-Subsolo, de Jaime Lerner, e
-Um ridículo em Amsterdã.

7.4. Mostra Gaúcha – Prêmio Assembléia Legislativa de Cinema:

-Cortejo negro, de Diego Muller;
-DOC 8, de Christian Schneider;
-Dois coveiros, de Gilson Vargas;
-Fome de quê?, de Luiz Alberto Cassol;
-Impoliticamente correto, de Pedro Breitman e Maurício Gyboski;
-Mamãe, eu não queria!, Bibiana Mandagará;
-Mesa de bar, de Pedro Nora e Tiago Ribeiro;
-Mímesis, de Francisco Antunes;
-O sete trouxas, de Márcio Schoenardie;
-O vazio além da janela, de Bruno Polidoro;
-Os boçais, de Lufe Bollini;
-Primogênito complexo, de Tomás Creus e Lavínia Chianello;
-Rosário dos navegantes, de Éverson Godinho;
-Sótão, de Rogério Souza;
-Subsolo, de Jaime Lerner;
-Tradição, tradição, de André Wofchuk, e
-Um dia como hoje, de Eduardo Wannmacher.

Mostra Paralela:

A exibição destes filmes, que não concorriam aos Kikitos, aconteceu no Palácio dos Festivais, no Centro de Eventos da UFRGS, no Centro Municipal de Cultura e em 11 bairros da cidade.

1. Especiais Gramado 2008:

-Crítico, de Kleber Mendonça Filho;
-Manhã transfigurada, de Sérgio de Assis Brasil;
-O aborto dos outros, de Carla Gallo;
-O grão, de Petrus Cariry;
-O mistério do samba, de Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda, e
-O retorno, de Rodolfo Nanni.

2. Mostra Marrocos:

-Marock, de Laila Marrakchi, e
-Tenja, de Hassan Legzouli.

3. Mostra Paralela:

-A casa de Alice, de Chico Teixeira;
-Caixa dois, de Bruno Barreto;
-Doutores da alegria, de Mara Mourão;
-O banheiro do papa, de Enrique Fernández;
-Nossa Senhora de Caravaggio, de Fábio Barreto;
-O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hambúrguer;
-O mundo em duas voltas, de David Schürmann, e
-Saneamento básico, o filme, de Jorge Furtado.

4. Mostra Infantil:

-Turma da Mônica;
– uma aventura no tempo, de Maurício de Souza;
-O cavaleiro Didi e a princesa Lili, de Marcos Figueiredo;
-Os porralokinhas,
-Xuxa em sonho de menina, de Rudi Lagemann.

5. Revelando brasis:

-A encomenda do bicho medonho, documentário de André da Costa Pinto;
-De tempos em tempos, documentário de Ana Johann;
-Manã Bai, documentário de Zezinho Yube, e
-O grande balé de Damiana, ficção de João Loureiro Jr.

6. 32ª Mostra Competitiva de Cinema Super-8:

-15 concorrentes.
(Continua)

8. As homenagens

Receberam homenagens do 36º Festival de Cinema de Gramado e da cidade de Gramado as seguintes personalidades do cinema:

8.1. Troféu Oscarito: ator Walmor Chagas;

8.2. Troféu Eduardo Abelin: cineasta Júlio Bressane - Brasil;

8.3. Kikito de cristal: cineasta Julio Garcia Espinosa – Cuba, pelo conjunto da obra;

8.4. Homenagem especial da cidade de Gramado: ator Renato Aragão.
(Continua)

9. Os Vencedores do Prêmio Kikito


9.1. Longa-metragem brasileiro:
Melhor filme de longa-metragem: ‘Nome próprio’, de Murilo Salles
Melhor diretor: Domingos Oliveira, pelo filme ‘Juventude’
Melhor ator: Daniel de Oliveira, pelo filme ‘A festa da menina morta’
Melhor atriz: Leandra Leal, pelo filme ‘Nome próprio’
Melhor roteiro: Domingos Oliveira, pelo filme ‘Juventude’
Melhor fotografia: Lula Carvalho, pelo filme ‘A festa da menina morta’
Prêmio especial do júri: ‘A festa da menina morta’, de Matheus Nachtergaele
Prêmio de qualidade artística: para os Atores Aderbal Freire Filho, Domingos Oliveira e Paulo José, pelo filme ‘Juventude’
Melhor diretor de arte: Pedro Paulo de Souza, pelo filme ‘Nome próprio’
Melhor música: Matheus Nachtergale, pelo filme ‘A festa da menina morta’
Melhor montagem: Natara Ney, pelo filme ‘Juventude’
Prêmio da crítica: ‘A festa da menina morta’, de Matheus Nachtergale
Melhor filme do júri popular: ‘A festa da menina morta’, de Matheus Nachtergale
9.2. Longa-metragem estrangeiro:

Melhor filme: ‘Cochochi’, de Israel Cardenas e Laura Guzman
Melhor diretor: Carlos Moreno, pelo filme ‘Perro come perro’
Melhor ator: Marlon Moreno e Oscar Borda pelo filme ‘Perro come perro’
Melhor atriz: Ana Carabajal pelo filme ‘Por sus propios ojos’
Melhor roteiro: Liliana Paolinelli pelo filme ‘Por sus propios ojos’
Melhor fotografia: Juan Carlos Gil pelo filme ‘Perro come perro’
Prêmio especial do júri: para ‘Por sus propios ojos’
Prêmio de qualidade artística: para ‘Cochochi’
Excelência de linguagem técnica: ‘Cochochi’, de Israel Cardenas e Laura Guzman
Prêmio da crítica: ‘Perro come perro’, de Carlos Moreno
Melhor filme do júri popular: ‘Por sus propios ojos’, de Liliana Paolinelli
9.3. Curta-metragem:

Melhor filme: ‘Areia’, de Caetano Gotardo
Melhor diretor: Jaime Lerner, pelo filme ‘Subsolo’
Melhor ator: Augusto Madeira, pelos filmes ‘Blackout’ e ‘Noite de domingo’
Melhor atriz: Malu Galli, pelo filme ‘Areia’
Melhor roteiro: César Cabral e Leandro Maciel, por ‘Dossiê Rê Bordosa’
Melhor fotografia: Heloisa Passos, por ‘Areia’
Prêmio especial do júri: ‘Booker Pittman’, de Rodrigo Grota
Melhor diretor de arte: José de Aguiar, pelo filme ‘Booker Pittman’
Melhor música: Booker Pittman, pelo filme ‘Booker Pittman’
Melhor montagem: César Cabral e Leandro Maciel, pelo filme ‘Dossiê Rê Bordosa’
Prêmio da crítica: ‘Booker Pittman’, de Rodrigo Grota
9.4. Mostra gaúcha:

Melhor filme: ‘Um dia como hoje’, de Eduardo Wannmacher
Melhor direção: Diego Muller, por ‘Cortejo negro’
Melhor roteiro: Eduardo Wannmacher, por ‘Um dia como hoje’
Melhor fotografia: Fernando Vanelli, por ‘Cortejo negro’
Melhor direção de arte: Rita Faustini, por ‘Os sete trouxas’
Melhor música: Fausto Prado, por ‘Subsolo’
Melhor montagem: Fábio Lobanowsky, por ‘Um dia como hoje’
Melhor edição de som: Cristiano Scherer, por ‘Rosário dos navegantes’
Melhor produtor/ produtor executivo: Pablo Muller, por ‘Cortejo negro’
Melhor ator: Júlio Andrade, por ‘Um dia como hoje’
Melhor atriz: Carolina Sudat, por ‘Um dia como hoje’
(Continua)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

10. Conclusão: Alguns comentários e reflexões





-Por tudo o que vivi naqueles dias, se antes eu já gostava muito de cinema, lazer que tenho desde criança, agora estou gostando muito mais. A convivência com pessoas que trabalham na área técnica do cinema (roteiristas, diretores, produtores, etc) e também com estudantes de cinema, ampliou minha visão e interesse por esta arte. Pude ver que o cinema é muito mais do que ver um filme, e o festival é bem mais que glamour, artistas deslumbrados, tietes buscando autógrafos e fotos com seus ídolos, busca de lucros, um mundo de ficção e fantasia. Pude ver também seriedade nos realizadores, na busca honesta da divulgação da cultura nacional e internacional; a luta para a aquisição de financiamentos; os anos de pesquisa sobre a história e a elaboração dos personagens de um filme, enfim, a grande luta que é fazer cinema no Brasil.
Muito interessante era assistir aos debates que aconteciam no dia seguinte às exibições dos filmes competidores, ocasião em que diretores, atores, roteiristas e produtores, perante a imprensa especializada, jurados, críticos, estudantes de cinema e público interessado, respondiam perguntas e explicavam tudo o que estava envolvido naquele filme, desde o surgimento da idéia, até as pesquisas históricas, formação do elenco, a intenção da colocação das músicas, a fotografia, como também a simbologia, o significado do que ocorre em cada cena, qual o pensamento e a intenção do diretor em cada tomada.
Um aspecto que também considerei valioso foi ver o cinema como fator de integração cultural com outros países (Argentina, México, Colômbia, Portugal e Cabo Verde), fazendo-nos ver, através dos filmes e dos realizadores que vieram, as vivências, alegrias, dificuldades cotidianas de outros povos, tão semelhantes ao que nosso povo vive.
Outro ponto importante que observei foi a presença da comunidade gramadense dentro do evento. Presenciei grupos de escolares nos locais do festival. Alunos das escolas municipais são envolvidos antes e durante o festival com o estudo e trabalhos sobre o cinema, e há um projeto de Educação Cinematográfica nas escolas de 1º grau de Gramado, destinado à formação de público para o cinema, na faixa etária de 9 a 14 anos, com aulas de como ver cinema – educação para ver cinema (Informação de José Carlos Avelar um dos curadores do Festival). Também vi durante o evento um grupo de surdos-mudos, que pediu à atriz Ingra Liberato uma intercessão, e ela, na entrega dos Kikitos, falou em nome deles, solicitando aos realizadores a colocação de legendas em filmes brasileiros. Também fez parte da programação a exibição de filmes em onze bairros da cidade, como também os filmes que passavam à noite para os júris e convidados eram reprisados pela manhã para o público.
As vivências e as informações recebidas durante o festival ampliaram a minha visão do cinema como importante divulgador da cultura nacional, através da valorização da história, da religiosidade, da política, das manifestações artísticas populares, dos conflitos e dramas humanos; sendo também fator gerador de intercâmbio cultural, além de gerador de empregos, rendas e negócios.
Durante o Festival aconteceu o “Café e Negócios de Cinema”, com uma programação voltada para o intercâmbio e o estímulo aos negócios no setor cinematográfico.
Hoje posso entender melhor as razões deste Festival ter se transformado, em 36 anos de existência, no maior festival de cinema do Brasil e da América Latina. A filosofia do Festival de Cinema de Gramado, segundo o curador Avelar, é que ele não é um campeonato onde um ganha e os outros perdem. Ser selecionado para participar já é uma vitória para todos os participantes. Ele é fruto de uma parceria da produção cinematográfica nacional, pública e privada, tendo à frente a Prefeitura Municipal de Gramado. Hoje o Rio Grande do Sul é o 3º mercado de cinema do país, sendo o 1º São Paulo e o 2º o Rio de Janeiro.

-A cultura cinematográfica brasileira não consegue se expressar nos meios convencionais de mídia. Anualmente são produzidos, em média, 70 filmes no Brasil, com 60 a 70% do público de cinema localizado em Rio de Janeiro e São Paulo, e estimativa de 90.000.000 de espectadores em todo o país. As redes de TV e os jornais escritos dão muito pouco espaço para a divulgação destes filmes e para a crítica cinematográfica, além da maioria das 2.200 salas de cinema existentes no país estarem sempre disponibilizadas para os filmes estrangeiros, especialmente os dos Estados Unidos. Por todas estas limitações aliadas aos altos preços dos ingressos, o povo está cada vez mais distante das salas cinematográficas, daí a importância dos festivais para ampliar a divulgação do cinema nacional.

-Ver um filme me dá a oportunidade de me encontrar comigo mesmo, identificando-me com um ou mais personagens, vendo a minha própria história, obtendo muitas vezes alívio e força para continuar, ao ver como outros vivem, convivem e resolvem dramas semelhantes aos que estou sentindo. Por isto que o cinema é mágico, envolvente, porque mexe com o nosso interior, toca sentimentos nem sempre conscientes, investiga dores e amores, fazendo-nos algumas vezes vivenciar situações sofridas ou alegres, daí o choro, a tristeza, a alegria, o riso que eles nos despertam. Por isto que ele também pode ser terapêutico.
O cinema traz à tona as nossas raízes mais profundas, e a gente se vê em circunstâncias trazidas de uma maneira trágica, dramática, triste, ridícula ou cômica. É possível viver aquilo que não temos coragem, que fugimos em nossa vida cotidiana, através dos personagens, dos nossos heróis que fazem a trajetória que a gente gostaria de realizar.
Dos filmes guardamos uma lembrança afetiva, o que toca a nossa sensibilidade, pois eles despertam em nossa memória algo que já sentimos e vivenciamos, que identificamos também como nosso, tal qual o personagem representa. É bom observar, enquanto assistimos um filme, o que nos provoca impacto emocional, como fica nossa reação afetiva, o que desperta sentimentos, seja de raiva, antipatia, alegria, identificação, desprezo, pelos personagens da história. Pergunte-se o que este filme lhe diz? O quê e onde ele lhe toca? Por que gosta ou não gosta?

-Em muitos momentos sentia-me em Gramado como se estivesse em um outro país, pois é um lugar muito diferente da realidade cotidiana em que vivo. Procurei e não encontrei nas ruas mendigos, menores abandonados, guardadores de carro e cães vadios; não vi cercas elétricas nas residências – aliás, causou-me espanto ver que muitas casas nem cerca têm; nem esgoto a céu aberto ou lixo nas ruas.
Causou-me ótima impressão ouvir o Prefeito Municipal dizer que há 300 eventos por ano naquela cidade. Fiquei imaginando o fluxo de gente que circula por lá, fazendo crescer o volume dos negócios comerciais, financeiros e turísticos, ampliando e mantendo a geração de empregos, o que proporciona um alto padrão de qualidade de vida àquela comunidade.

Concluindo: tenho grande admiração pela arquitetura, em especial a estética das casas, prédios, templos religiosos e outras construções que expressam a cultura e a forma de vida e de convivência de um povo com a natureza. Gramado encheu-me os olhos de grande beleza pela influência européia, principalmente a germânica, em suas construções, conforme as fotos acima demonstram.