quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A herança


A herança

Gilvan Almeida

Pais e mães: vocês já pensaram sobre a herança que estão deixando para seus filhos? Não, não estou falando de casas, fazendas, apartamentos, terrenos, carros e outros bens materiais. Estou falando no que está sendo construído no interior deles, em seus corações e mentes, através da criação que vocês estão dando.
A principal herança que recebi de minha mãe foi o gosto pela literatura. Com ela fiz muitas viagens através dos livros, conhecendo universos mágicos, distantes de nossa realidade de Rio Branco-Acre nas décadas de 60 e 70, paixões e segredos de heróis e heroínas, que alimentavam meus sonhos infantis e depois de adolescente. De meu pai recebi, e ainda venho recebendo, graças a Deus, grandes exemplos de solidariedade, dignidade, honestidade, trabalho, amor pela família e ao próximo, o que me dá o norte, a rota segura de minha vida.
Encontrei uma frase do terapeuta Karl Rogers que me fez pensar: “A criança precisa construir em si mesma uma imagem de que é amada, capaz, criativa e segura.” Voltei o meu exame inicialmente para a criança em mim, avaliando o quanto que já me sinto amado, capaz, criativo e seguro. Vi que preciso melhorar muito, amadurecer mais, continuar nessa caminhada de autoconhecimento, conscientização e transformações, e me ver cada vez mais sem máscaras, sem auto-enganos.
Em seguida, vendo o quanto que os pais tem importância nessa construção dos filhos, examinei o meu papel de pai através dos seguintes questionamentos: será que estou expressando na dosagem correta todo o meu sentimento de amor, de compreensão e de colocação de limites, para que eles se sintam verdadeiramente amados e seguros? Será que venho fortalecendo suas auto-estimas, reconhecendo e valorizando o que eles pensam e fazem, para que vejam que são capazes? Qual é o estímulo que venho dando para que eles percebam e acreditem em seus potenciais criativos?
Pude ver que é muito grande mesmo a responsabilidade de colocar um filho nesse mundo, e criá-lo com equilíbrio e firmeza, direcionando-o a ser um ser humano íntegro e feliz, em paz consigo mesmo e com seu próximo.
Li, há um tempo, que na França uma pessoa estava processando seus pais por má criação e a conseqüente geração de danos psiquiátricos e psicológicos severos, pedindo deles uma indenização para custear as despesas do tratamento que estava tendo que fazer. Não sei em que deu, mas achei coerente e justo o pedido.
(Escrito em 31.07.2006)

2 comentários:

Anônimo disse...

Gilvan,como dito por você,a familia nos transmite valores e independente de seu modelo,faz-se base de construção de cada individuo,com o afeto,a amizade,o respeito,a consideração e os limites que trasmitimos a eles.Como sabemos,para educa-los e ama-los não existe formula ou manual que se possa seguir,pois cada filho e cada pai e mãe são unicos em sua natureza,mas sim, impor com sabedoria e firmeza os limites,valores e habitos,sempre dosados por dialogo,acordo, carinho e dedicação de tempo e de cuidado.
Lembrar sempre(dificil!!)que não podemos esperar somente amor da parte deles,mas tambem suportar a frustração de ser "odiado" em um "dado momento" para o propio bem dele no futuro,ainda que isso possa custar muito caro aos corações de pais e mães.O Segredo:harmonizar amor e disciplina.
"Os filhos são herança do Senhor,são presentes"...SL 127.3
Abço
Faide

Anônimo disse...

Gilvan, assim como você e tantos outros da nossa "épica" fui educada à moda antiga. Bastava um olhar para eu entender que estava fazendo algo errado e que se não interrompesse ali o ato "infracional" depois viria a corrigenda. O “olhar” era uma espécie de código dos pais: tinha um tipo de olhar para cada recado. Hoje, pela correria do dia-a-dia nos tornamos mais permissivos com os filhos, como se quiséssemos recompensar a nossa ausência. Enxerguei isso um tempo atrás depois de ler um texto escrito por alguém que presta esse tipo de bom serviço aos pais e seres humanos, assim como você. Procuro dar limites aos meus filhos atualmente, apesar de ter a sorte de ter filhos bem compreensíveis, mas encontro algumas dificuldades. Educar demanda disposição (energia física, disciplina e vontade de fazer) e vigilância constante (ficar de olho na meninada e repetir a mesma lição dezenas de vezes). Percebo que não é tarefa fácil, mas é um exercício que tem resultados. Aprendi também que as minhas crianças gostam de limites. Parabéns pelo "Cabeça e Coração".