quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Por que Cuba incomoda.

Millôr Fernandes, cartunista e escritor, escreveu uma frase, na época da ditadura militar, que me marcou pela síntese da esdrúxula situação em que vivíamos politicamente: “O cúmulo da distorção ideológica é o mendigo ter medo do comunismo.” Ainda naquele período, em que estávamos em plena efervescência estudantil e esquerdista, comecei a ler os teóricos socialistas e comunistas, além de manter a assinatura por mais de 5 anos de uma revista muito importante para a minha formação política e ideológica: “Cadernos do 3º mundo”. Assim pude começar a compreender melhor a realidade política brasileira e internacional e a não me deixar iludir pela ideologia anticomunista vigente, ditada pelos EUA.
Cuba, China, Albânia e posteriormente a Nicarágua me encantaram por estarem vivendo processos revolucionários onde o povo estava sendo o objetivo central de melhorias. Além de ler a respeito destes países, eu também ouvia frequentemente as rádios Moscou (URSS) e Tirana (Albânia).
Eu não sou um dinossauro comunista e stalinista, e já me desencantei com os regimes políticos destes países citados pela mídia como comunistas, na tendenciosa intenção de dizer que, com a queda do muro de Berlim, em 1989, e o esfacelamento da União Soviética, o comunismo foi derrotado. Na realidade, nenhum país, até hoje, chegou ao pleno estado de comunismo.
Não posso, no entanto, deixar de reconhecer os grandes avanços alcançados por eles no campo social, em especial Cuba, que apesar do criminoso bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA no início da década de 60, e que se mantém até hoje, conseguiu construir os ótimos padrões atuais em saúde e educação, sendo exemplo em Saúde Pública em nível mundial. E o que dá certo em Cuba incomoda o antigo patrão e o sistema capitalista.
É raro vermos boas notícias a respeito de Cuba, Irã, Coréia do Norte, Bolívia, Equador, Venezuela, países que se opõem ao hegemonismo da potência estadunidense, em especial divulgadas por um grande jornal como A folha de São Paulo. A mídia brasileira e internacional quando noticia algo sobre Cuba é sempre mostrando o que há de negativo, de carências, do baixo consumo, dos balseiros em viagens rumo à flórida, e até o tratamento dado a Fidel Castro quando era presidente – chamado de ditador – não era e nem é aplicado a chefes de Estado de alguns países que vivem claramente em regime ditatorial, porque estes são amigos dos EUA, ou seja, se submetem plenamente ao que este país ordena. Cuba, durante muitos anos explorada pelos EUA, ousou fazer uma revolução, trazendo uma nova ordem que modificou a geopolítica internacional, em especial na América Latina.
Neste dia em que a Revolução Cubana está inteirando 50 anos e pela raridade da boa notícia, é que resolvi divulgá-la no blog.
Gilvan Almeida
01.01.2009

Saúde e educação são os principais êxitos do regime cubano

Fernando Ravsberg da BBC, em Havana.

Os principais êxitos do regime implantado pela Revolução Cubana de 1959 estão na área social, onde a ilha apresenta indicadores superiores à maioria dos países do continente, incluindo aí os mais ricos.
Para muitos, apesar dos inúmeros problemas enfrentados pela população cubana, o maior sucesso da revolução liderada por Fidel Castro foi ter conseguido desenvolver uma poderosa rede de assistência social, que serviu para impedir que os 20% mais pobres da sociedade caíssem em uma situação de miséria e pobreza extrema.
Em Cuba, o Estado se encarrega dessas famílias, entregando-os dinheiro extra, alimentos, roupas e móveis.
Nos casos de pessoas com deficiências físicas ou mentais, o governo chega, inclusive, a pagar um salário para que elas recebam os cuidados necessários.
Medidas em benefício da parcela mais pobre da população cubana foram tomadas logo nos primeiros dias da revolução.
A reforma agrária, por exemplo, deu emprego a todos os camponeses do país. Alguns receberam terras, outros passaram a integrar cooperativas, e muitos se transformaram em trabalhadores de fazendas coletivas.
Já nas cidades, foi proibido o despejo de inquilinos e decretada a redução dos aluguéis. Finalmente, foi realizada uma reforma urbana que transformou 85% dos cubanos em proprietários de suas casas, uma realidade que se mantém até os dias atuais.

Educação

Não há no país nem mesmo meninos de rua. Os órfãos, filhos de pessoas com deficiências mentais ou de pessoas presas, vivem em instituições que lhes garantem alimentação, assistência médica e educação, incluindo os estudos superiores.
Mas eles não são exceção, já que 100% das crianças e adolescentes cubanos frequentam a escola, que é obrigatória por nove anos e segue sem custar um centavo até o nível universitário, onde até mesmo os livros são gratuitos.
A lei cubana obriga os pais a enviarem seus filhos à escola. Se for considerado que este direito da criança foi violado, a pena para eles pode ser até mesmo a perda da guarda do menor e outras medidas judiciais.
Nenhuma criança fica de fora da rede educacional. Os cerca de 60 mil menores de idade com limitações físicas ou psíquicas da ilha frequentam escolas especiais, onde, além de aulas, recebem tratamento fisioterápico e atendimento psicológico, uma combinação que permite com que eles desenvolvam ao máximo suas habilidades.

Saúde

É nestas escolas que se reúnem dois dos maiores sucessos da revolução cubana: a educação e a saúde pública.
Em relação a esta última, o regime de Fidel Castro desenvolveu um gigantesco sistema nacional de cobertura a todos os cidadãos, sem exceções de nenhum tipo.
O sistema de saúde de Cuba é composto por quatro níveis: o médico de família, que costuma viver a poucas quadras de seus pacientes; o clínico geral de bairro; os hospitais de zona e os institutos especializados.
Todo atendimento é gratuito, com exceção dos medicamentos, que são subsidiados pelo Estado.
Nenhuma doença fica de fora do sistema de saúde cubano, que oferece tratamentos a problemas que vão desde simples dores de cabeça a enfermidades relacionadas à Aids, passando por assistência odontológica e até mesmo cirurgias plásticas.
O resultado deste sistema de saúde tão amplo pode ser observado quando se comparam as estatísticas das Nações Unidas sobre esperança de vida. Cuba ocupa o terceiro lugar em todo continente americano, com expectativa de vida de 76 anos para os homens e 80 para mulheres.
Já em relação à mortalidade infantil, as estatísticas da ONU apontam que o índice de Cuba é de cinco mortes a cada 1.000 nascimentos, o que situa o país em um nível só comparável ao do Canadá no continente americano.

Ciclones

Da mesma forma que poucas pessoas morrem em Cuba por causa de doenças curáveis, o número de mortos pelos ciclones que atravessam o país todos os anos também é baixo.
O sistema de defesa civil criado pela revolução é capaz de evacuar milhões de cidadãos para lugares seguros antes da chegada das tempestades.
O ano de 2008 foi bastante ilustrativo neste sentido, quando três grandes ciclones atravessaram a ilha, destruindo meio milhão de casas, a maior parte das colheitas e derrubando centenas de torres do sistema elétrico. Apesar dos estragos, foram registradas apenas sete mortes.
Antes de 1959 e nos primeiros anos da revolução, os mortos eram contados às centenas e milhares cada vez que um desses fenômenos atingia o país. Isso sem contar as enormes perdas econômicas.
Agora, a Defesa Civil "toma o controle" dos territórios onde se prevê que as tempestades passarão. Dias antes da evacuação das áreas, as pessoas protegem seus animais e transportam alimentos, evitando mortes e salvando o que é possível.

Violência

Também são poucas as pessoas que morrem por causa da violência. Na verdade, a insegurança pública na ilha é ínfima.
Mesmo quando comparada aos países mais ricos da região, Cuba pode ser considerada uma das sociedades mais pacíficas do continente.
São raros os casos de assaltos com pistolas ou armas brancas. Os delitos mais comuns em Cuba são furtos de correntes, relógios ou de dinheiro.
Sem dúvida, este clima pacífico se deve à presença constante da polícia nas ruas. No entanto, alguns argumentam que os baixos níveis de violência também estão relacionados com o nível de educação da população, o acesso à saúde e ao controle da pobreza.

4 comentários:

Anônimo disse...

Gilvan,meu comentário é o que penso como alguém que quer o melhor para todos.Então sinceramente falando, sabemos que esse conjunto de princípios e opiniões, a teoria e prática da direção econômica e social dos países,digo essa tão disputada arte de governar,ou melhor,a política,se tornou em grande escala um meio de vida e sobrevivência(muito boas,diga-se)que certos "políticos" resolveram utilizar em proveito própio e de grupos.Saber que existem países com governantes que fazem e dão o melhor de si em benefício de todos,nos alegra,nos dá nova visão e nos induz a um esforço maior para conquistarmos mais direitos (sem esquecer nossos deveres,óbvio) como cidadãos e termos mais esperanças na construção de um mundo melhor para todos.Um bom nível de educação da população,acesso à saúde e controle da pobreza como foi citado, com certeza são primordias para a formação de uma sociedade mais saudável.Ainda assim suscitar novos argumentos e atitudes em uma cultura com padrões de comportamento tão conformistas exige muito esforço e ideologia.Parabéns aos que já estão fazendo acontecer.
Abço.
Faide.

Unknown disse...

Olá Gilvan, ótimo post para este começo de ano!! Nossos vizinhos estão dando uma lição de resistencia e luta para manter o governo que eles acreditam ser o melhor para todos e não só para um pequeno grupo (elite). Nossa imprensa não divulga os progressos destes paises, são sempre noticias enviesadas e muitas vezes manipuladas por interesses maiores. Indico um documentário muito interessante sobre este tema, o nome dele é "A Revolução não será televisionada" de Kim Bartley e Donnacha Ó Briain, que mostra os bastidores do golpe de 2002 na Venezuela.
Grande Abraço

Anônimo disse...

Gilvan, suas palavras são lúcidas que somadas ao relato de uma imprensa responsável da BBC ampliam a percepção dos que desconhecem e/ou denuncia aqueles que não querem ver os verdadeiros diferenciais que a sociedade e governo Cubano construiram ao longo desses 50 anos. Um país em que pode-se publicar e dizer frases como as que li ao caminhar pelas ruas de Havana:

"Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana”.

ou

A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana’

A pouco Eu e Karla Martins, na Aldeia FM fizemos um programa Aldeia Global dedicado aos 50 anos da Revolução Cubana: Cuba viva!

Nossas celebrações estão em harmonia.
Parabéns pelo ótimo espaço de compartilhar utopias concretas.
Um abraço
Dande

Anônimo disse...

Prezado Gilvan, penso que Cuba incomoda porque vive "heroicamente" sem o auxílio dos Estados Unidos, país considerado rico e poderoso. Isso incomoda muita gente. Compartilho com vocês fraseS que vi quando estive em Cuba em setembro de 2007:HAVANA LIVRE OU CUBA LIVRE.
" o fim da revolução cubana está tão longe assim como as estrelas " FIDEL CASTRO.Com todas as dificuldades existentes no país os cubanos são alegres, simpáticos, gentis e amam o seu país. Afinal, em qual país não existem dificuldades? Um abraço. Sandra Ortiz