sábado, 8 de agosto de 2009

Adeus, Mariangeles!

Desde 1995 convivo diariamente com a internet. Milhares de e-mails, entre idas e vindas, conduzindo dores, saudades, orientações, alegrias, dúvidas, reencontros e tantas outras vivências que só o coração humano é capaz de nos fazer viver. Hoje ia fazer algo que já fiz diversas vezes, mas não consegui, pois fui impedido por um sentimento, que me alertou que eu não podia, naquele momento, simplesmente dar um delete. Vi, então, que, pela primeira vez, ia retirar um nome do catálogo de endereços porque a pessoa tinha morrido: minha amiga da Espanha, Mariangeles.
Semelhante aos demais seres humanos, pois somos todos iguais em carências, seja acreano, tailandês, russo, espanhol ou nigeriano, um dia ela chegou ao Acre, em busca de mais luz para seu interior. Iniciamos uma amizade, que sobreviveu à distância geográfica, alimentada por muitos e-mails.
Mariangeles lutou como uma guerreira em busca de se conhecer e poder transcender as dores de sua alma. Mulher corajosa que não teve medo e nem vergonha de se ver, e não fugiu de suas próprias fragilidades, assumindo-as com humildade e pelejando pela transformação alquímica do defeito em virtude, do espinho em flor. Mesmo diante do sofrimento que a doença lhe impôs, não se acomodou e continuava em busca de compreender mais e melhor os mistérios da vida.
Quantos de nós submetidos a uma dor profunda teríamos condições de sentir e dizer o que ela me disse em um e-mail:

“... Quiero contarte, con alegria, que llevo un tiempo ya, comprendiendo mi proceso de salud, como una bendicion... porque me esta trayendo, una gran belleza para el alma.... Es doloroso el estado fisico y solo Dios sabe si podra soportarlo mi cuerpo, mas puedo decirte, con alegria, que mi estado emocional esta siendo hermoso... Vivi siempre intensamente y buscando afinar mi discernimiento para saber ver de verdad... y en ese camino continuar andando, afinando cada vez mas el instrumento corazón...”
Dentre tantas coisas boas que ela me deu, uma é especial e ficará como sua maior recordação: a poesia Los portadores de sueños, de Gioconda Belli, que publiquei neste blog, no dia 22.05.2009.
Ao receber a notícia de sua morte, transmitida pela nossa amiga Zeneide, acreana que reside na Espanha, senti tristeza pela perda e, ao mesmo tempo, uma grande alegria em saber que, ao morrer, ela estava em paz, serena nos sentimentos e bem mais compreensiva sobre o real significado da vida.


Adeus, Mariangeles!

Gilvan Almeida

2 comentários:

Faide disse...

Gilvan,lembra daquela mensagem "A vida e a viagem de trem"?! Sua conclusão é assim:Façamos com que a nossa estada nesse trem seja tranquila,que tenha valido a pena e que quando chegar a hora de desembarcarmos,o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que continuam prosseguindo a viagem.
Não é fácil perder amigos(as) mas muito pior seria não tê-los conhecido.O trem continua a viagem e nós estamos nele....
Abço de fé
Faide

Anônimo disse...

Não conhecia sua amiga, mas pela mensagem deixada por ela posso ver que era uma pessoa especial. Que seu espírito siga em Paz. Fraterno abraço.
Cleide Elizabeth