quinta-feira, 28 de julho de 2011

Conselho

A sabedoria popular diz que “Se conselho fosse bom não era dado e sim vendido”, enquanto um poeta escreveu assim “...conselho não se deve dar, a gente vive de aprender...” Sem uma avaliação mais profunda, podemos entender que conselho não é algo bom e nem deve ser dado.
Na verdade, penso que, quando o conselho é direcionado para o bem e para a orientação, e é seguido, pode ser uma luz na vida de uma pessoa, capaz de tirá-la, ou impedi-la de entrar, na escuridão dos sofrimentos. O bom conselho não pode ser uma imposição, uma invasão da privacidade, nem algo que se saia dando por aí, sem ser solicitado. O mais seguro e prudente, para quem tenha boas intenções de auxiliar o próximo, é não forçar a barra, ter paciência e aguardar o pedido do conselho, que chamo de “o abrir a porta”.
Esta abertura do coração para receber o conselho não acontece se não há uma relação de confiança, por isso considero a base na formação de um bom aconselhador tornar-se confiável para as pessoas, fazendo-as ver, na prática, que sabe guardar segredos; que tem cuidado com as palavras que fala e para quem fala; que sabe dosar a verdade de acordo com as condições de quem necessita recebê-la; que tem também disposição para ouvir, com respeito e paciência, as verdades dos outros.
Outro aspecto fundamental que considero para que haja um bom aconselhamento, é a escuta com atenção e sem interrupção, do que a pessoa necessitada do conselho tem a falar. Muitas vezes a pessoa só precisa desabafar e já fica bem, pois o falar é terapêutico.
Quanto sofrimento poderia ser prevenido ou amenizado, se tivesse chegado uma palavra amiga, um alerta, mas a maioria das pessoas está “sem tempo”, tecendo sua vidinha egoísta, muito ocupada em “... bordar de ouro seu umbigo engelhado...”, como diz o poeta Thiago de Mello, e não vê que a carência de quem nos ouça verdadeiramente, a solidão e o abandono são cada vez maiores.
Entendo que todos os seres humanos precisam de conselhos. Já a prática deles acontece de acordo com o grau de consciência de cada um. Quanta dor já senti, por não ter reconhecido um conselho, ou por não ter obedecido.
Por isso considero de grande importância o trabalho do aconselhador, cuja ação pode ser um reflexo do amor verdadeiro, originado na compaixão e na caridade.
Escrevi isto como uma introdução para lhes mostrar estas importantes orientações para a vivência de muitas famílias e dos profissionais que
trabalham na área de dependência química, elaboradas pela
Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina, quanto à abordagem geral do usuário de substâncias com potencial de abuso.
Observem que também podemos utilizar estas orientações para outros temas da vida.

Gilvan Almeida

Aconselhamento
(orientações da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina quanto à Abordagem geral do usuário de substâncias com potencial de abuso)

Aconselhar não é dizer o que deve ser feito. A mudança é do indivíduo. Aconselhar consiste em:
1.Chamar à reflexão: “Qual sua opinião sobre o seu consumo atual de drogas?”
2.Dar responsabilidade: “O que você pretende fazer com relação ao seu consumo?”
3.Opinar com honestidade: “Na minha opinião seu uso de álcool está absolutamente fora de controle.”
4.Dar opções de escolha: “Vamos discutir as alternativas que você tem para não chegar embriagado em seu emprego.”
5.Demonstrar interesse: “Conte mais sobre sua semana, como foram suas tentativas para se manter abstinente.”
6.Facilitar o acesso: “Vamos tentar encontrar um horário que se adapte bem a nós dois.”
7.Evitar o confronto: “Ao invés de encontrarmos culpados, podemos juntos buscar soluções para o seu problema.”

5 comentários:

Unknown disse...

Gilvan, amigo,
você é um Mago!...
Parafraseando Betinho:
Conselho (solidariedade)
não se agradece,
se alegra...
Muito grato!
Grande Abraço!
Como precisei!...

Anônimo disse...

O Mestre José Roberto de Campo Grande diz para se ouvir um conselho é preciso ter grau. Grau de amadurecimento, de conscientização e sensibilidade para entender que o amigo está querendo auxiliá-lo. Nessa mesma proporção, o conselheiro deve estar acessível para ouvir e aceitar uma correção para que haja reciprocidade.

SOCORRO BRAGA disse...

Gilvan, conselhos é sempre bem vindo, mas a pessoa tem que está aberta para ouvir e aceitar, porque às vezes a pessoa fala um conselho e a pessoa nem tchum. Ah!Se eu tivesse ouvido os conselhos dos meus pais,rsrsrsrs.Vejo que na adolescência é onde menos se ouvem os conselhos.Os jovens pensam que já sabem tudo e que os pais são "velhos" e "ultrapassados", mas lá na frente, com o amadurecimento, vão saber,como é bom seguir, ouvir e falar conselhos.

Grata!
Um abração,
Socorro Braga

Aécio Queiroz disse...

Boas palavras! Bons conselhos!
O assunto me fez refletir na "angústia" de quem quer aconselhar e de quem precisa do conselho e não sabe como abrir a porta! Lembrei também de meu pai quando chutava portas do hospital em busca de atendimento médico para os filhos! Será que em algum momento não é necessário forçar esta abertura de porta?!

Faide Veiga disse...

Diz uma máxima que:"Não dê conselhos:Os ignorantes não darão atenção a eles.E os mais sábios não necessitam deles."
Direcionando o olhar à certas situações concordo e exerço isso(comigo e com o outro).
Mas com certeza o que pode ser luz e solidariedade em nossos caminhos será muto bem vindo, necessário e um levantar do espírito e da vida!!
Não aceitar conselhos ao meu ver,não significa rebeldia,ingratidão ou super ego,mas como tudo na vida,o conselho precisa ser oferecido conforme a necessidade real de cada um e não como uma atitude(acontece mto),de como vc citou,imposição, e pior vir do outro como se ele fosse o detentor da verdade e da sabedoria!!Esse o problema de muitos se esquivarem de "conselhos" ...

Bjoo