quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sexta feira poética

Copiei esta idéia do excelente blog Caquis Caídos - http://caquiscaidosblog.wordpress.com/ , infelizmente concluído em 28.01.2012. (mas ainda disponível para leitura), que aos sábados publicava poesias. Como gosto muito das sextas feiras, vou chamar Sexta feira Poética; um espaço onde compartilharei poesias e pequenos textos que gosto.
Inicio com o poeta Junqueira Freire (1832 – 1855), baiano de saúde frágil, que em seus breves 23 anos de vida, deixou-nos um belo legado poético.

Gilvan Almeida

Louco (Hora de Delírio)
Junqueira Freire

Não, não é louco.
O espírito somente é que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre,
aproxima-se mais à essência etérea.

Achou pequeno o cérebro que o tinha:
suas idéias não cabiam nele;
seu corpo é que lutou contra sua alma,
e nessa luta foi vencido aquele.

Foi uma repulsão de dois contrários,
foi um duelo, na verdade, insano,
foi um choque de agentes poderosos:
foi o divino a combater com o humano.

Agora está mais livre. Algum atilho
soltou-se-lhe o nó da inteligência;
quebrou-se o anel dessa prisão de carne,
entrou agora em sua própria essência.

Agora é mais espírito que corpo,
agora é mais um ente lá de cima;
é mais, é mais que um homem vão de barro:
é um anjo de Deus, que Deus anima.

Agora, sim — o espírito mais livre
pode subir às regiões supernas:
pode, ao descer, anunciar aos homens
as palavras de Deus, também eternas.

E vós, almas terrenas, que a matéria
os sufocou ou reduziu a pouco,
não lhe entendeis, por isso, as frases santas.
E zombando o chamais, portanto: - um louco!

Não, não é louco. O espírito somente
é que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa melhor que vós, pensa mais livre.
Aproxima-se mais à essência etérea.

Bibliografia - Obras:
Inspirações do claustro (1855); Elementos de retórica nacional (1869); Obras, edição crítica por Roberto Alvim, 3 vols. (1944); Junqueira Freire, org. por Antonio Carlos Vilaça (Coleção Nossos Clássicos, nº 66); Desespero na solidão, org. por Antonio Carlos Vilaça (1976); Obra poética de Junqueira Freire (1970).

3 comentários:

Olivia Maria Maia disse...

Aplaudindo de pé (viva! viva!): a idéia da sexta poética, e mais, ainda, o poema. Pura "buniteza"!!. Essa visão sensível toca fundo minha alma, por ter convivido tão de perto com a questão da "loucura" no consultório, e no âmbito pessoal/relacional.
Abraços, amigos. Que os deuses e deusas da poesia sussurem sempre a indicação desses pelos poemas. Desde já agradeço.

Luciana Souza disse...

Olá Gilvan
É sempre um prazer visitar seu blog, que modo mais poético de tratar a loucura. Gostei. De perto ninguém é normal mesmo (kkkkkk).
Bjos.

http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br/

Luciana Santa Rita disse...

Oi querido amigo,

Tudo bem? Não conhecia o texto, mas fiquei tocada, embora entenda muito pouco sobre a questão, sempre vejo a possibilidade que existe de anormalidade em cada um de nós. Tenho medo da mente, pois embora sempre se fale que o controle é nosso, não penso assim e por isso respeito muito a questão.

Quanto a sexta poética, é mais uma sensibilidade que possui e que permite o despertar o descansar de nossos sonhos.

Beijos e ótimo final de semana!

Lu