sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sibutramina: a ilusão de mais uma pílula mágica.

O mundo está cheio de pessoas que querem vitória sem luta e sem esforço. Aliás, temos até o “jeitinho brasileiro”, onde tudo é válido para se alcançar os objetivos, com práticas repaginadas e atualizadas de uma máxima maquiavélica que diz “...os fins justificam os meios...”. Encontro cotidianamente alguns buscadores de pílulas mágicas, seres que não querem sacrifícios, disciplina, querem cura rápida e milagrosa, sem transformação de hábitos, pensamentos, sentimentos, sem buscar na essência de sua própria vida a raiz dos seus problemas de saúde.
Sabedora disto, a indústria farmacêutica capitalista coloca no mercado, de tempos em tempos, medicamentos que atendem a este público e prometem a ilusão da cura total e de uma vida sem dores. Tempos depois, após bilionários lucros, aparecem as bombas dos efeitos colaterais e das graves doenças geradas pelo uso destas drogas pouco estudadas e precipitadamente lançadas no mercado, e que muitas vezes, mesmo proibidas em diversos países, continuam sendo vendidas no mercado brasileiro.
Uma das “drogas da moda” é a Sibutramina, que, à base de muita propaganda, especialmente voltada para a classe médica, tornou-se “o remédio para emagrecimento mais popular do mundo.” Recentemente estudos científicos sobre a substância mostraram que os malefícios superam os benefícios, o que embasou a corajosa atitude da União Européia de proibir a venda em todos os países membros daquela comunidade. Frente a isto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) posicionou-se, trazendo um alerta aos profissionais, conforme diz o artigo abaixo.
Evidencia-se assim, mais uma vez, que os laboratórios farmacêuticos, apoiados pelas agências reguladoras do uso de medicamentos nos países ocidentais, especialmente Estados Unidos da América, lançam drogas sem os devidos estudos dos efeitos a médio e longo prazo, expondo a humanidade a graves riscos na saúde, como já aconteceu com diversas substâncias. O principal exemplo desta atitude criminosa, aconteceu com as grávidas que tomaram a talidomida e tiveram filhos deformados, conforme a foto ao lado. A droga era utilizada para combater os enjôos matinais na gravidez. No site da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida, verificamos que em “...1960: descobertos os efeitos teratogênicos provocados pela droga quando consumida por gestantes: durante os 3 primeiros meses de gestação interfere na formação do feto, provocando a Focomelia
(aproximação/encurtamento dos membros junto ao tronco, tornando-os semelhantes aos de focas). 1961: a droga é retirada de circulação em todos os países, à exceção do Brasil. Têm início processos indenizatórios em diversos países.” 1965: a droga é retirada de circulação (no Brasil), com pelo menos 4 anos de atraso.
Para conhecer um pouco mais do poder e da falta de ética da indústria farmacêutica, veja o filme “O jardineiro fiel”, do diretor brasileiro Fernando Meirelles.

Gilvan Almeida


O risco de desenvolver enfermidades cardiovasculares, como infarto do miocárdio, derrame e parada cardíaca aumentaram em 16% nos pacientes que utilizaram sibutramina, quando comparados àqueles tratados com placebo, de acordo com o estudo Sibutramine Cardiovascular Outcomes (Scout). Com os dados dessa pesquisa, o Comitê de Medicamentos para Uso Humano (CHMP) da Agência Europeia de Medicamentos (Emea) considerou que medidas adicionais de restrição ao uso do medicamento não seriam suficientes para controlar o risco e recomendou a suspensão da autorização de comercialização para o medicamento em toda a União Européia. Já nos Estados Unidos, não houve a proibição, mas o Food and Drug Administration (FDA) solicitou a inclusão de novas contraindicações na bula do produto informando que a sibutramina não deve ser prescrita a pacientes com histórico de doença cardiovascular. Com isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta aos profissionais de saúde sobre o uso da substância no Brasil. A entidade recomenda a contraindicação da sibutramina para pacientes com perfil semelhante aos incluídos no estudo Scout, ou seja, que apresentem obesidade associada à existência ou antecedentes de doenças cardio e cerebrovasculares. Também não indica que seja utilizado por portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, com sobrepeso ou obesidade e associado a mais um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. No Brasil, embora a bula do medicamento já mencione como possíveis eventos adversos a elevação da pressão arterial e arritmias cardíacas, a única contraindicação é para pessoas com histórico de anorexia. Para Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a sibutramina é a droga mais segura do mercado - já que as anfetaminas foram praticamente banidas -, desde que bem indicada. “Os resultados do novo estudo não invalidam a sua utilização. As pessoas que participaram do Scout já tinham fatores de risco cardiovascular e, normalmente, não deveriam receber o medicamento. O estudo foi feito para ver se esses pacientes poderiam ser beneficiados. Infelizmente, esses resultados preliminares mostram que isso não ocorreu”, diz. A Anvisa, por meio da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) fará nova avaliação do estudo para investigar os níveis de segurança do medicamento em pacientes com perfis distintos dos já estudados. A partir daí, analisará a possibilidade de adotar outras medidas restritivas ao uso do medicamento.


Fonte: Anvisa e Agência Estado

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