quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

É o brasileiro um povo covarde?


O levante contra o “gasolinazo” na Bolívia

A cidade de El Alto viveu outro momento histórico ao protagonizar fortes protestos, desta vez contra uma proposta do governo Evo Morales. A mobilização foi contra o decreto 478 do presidente boliviano, apelidado de “gasolinazo” que, segundo os setores sociais mobilizados, afetava gravemente suas magras economias ao provocar um aumento de passagens de ônibus, de alimentos e outros produtos entre 100 e 150%. Diante dessa mobilização, na noite de 31 de dezembro de 2010, Evo Morales viu-se obrigado a revogar o decreto.
Pablo Mamani Ramirez - Sin Permiso

Identifico em mim sentimentos de inveja, quando vejo notícias como esta que indico para leitura: O “gasolinazo” na Bolívia. Acho que são os resquícios da rebeldia da adolescência que ainda me habitam, e espero que nunca morram.
Acompanho diariamente a conjuntura política internacional desde 1973, e considero importante saber o que está acontecendo neste mundo em que vivo, e, mundo para mim não é só a “minha aldeia” ou meu país.
Dentro deste acompanhamento da luta dos povos pela justiça e pela liberdade, preciso saber como está a situação das guerras no Iraque, no Afeganistão, na Chechênia, no Sudão, e em tantos outros países onde os direitos humanos estão sendo ultrajados, quase sempre com a autorização explícita dos “donos do mundo” aos poderosos locais ou por invasões militares imperialistas.
Quero ser um homem de opinião, de consciência, o que considero um verdadeiro cidadão, para que não aconteça comigo a manipulação ideológica que o povo é vítima diária. Digo frequentemente aos meus filhos: “Não quero que vocês sejam “Zé-manés”, massa de manobra dos poderosos, por isso, leiam, informem-se nas fontes confiáveis que existem e formem-se como cidadãos autônomos e conscientes, sabendo o que querem.”
Sei o quanto era difícil o acesso às informações políticas no período de censura da ditadura militar, a luta que era para saber o que de real acontecia no Brasil e no restante do mundo. Mas eu conseguia, correndo riscos mas conseguia.
A América Latina, tida como quintal e posse dos Estados Unidos da América é vítima histórica da opressão e da hipocrisia capitalista. Os inúmeros golpes militares e a exploração genocida de sua população e de suas riquezas naturais, no entanto, não mataram o poder de revolta de seus povos. Temos exemplos de levantes populares, sangrentos ou pacíficos, que derrubaram leis entreguistas e até presidentes da república, na Argentina, na Bolívia, para citar dois países. Admiro a consciência política de um agrupamento de pessoas que se une, em nome da liberdade e da justiça, e faz valer os direitos da maioria.
Vimos e ainda estamos vendo o processo de redemocratização de diversos países latinoamericanos serem uma real conquista do povo, e os tiranos sendo julgados e condenados por seus crimes (O Judiciário argentino condenou há poucos dias um ex-ditador à prisão perpétua). E o que vimos aqui no Brasil? Friamente avalio como uma “conquista permitida”, “uma abertura política comandada pelos golpistas, seguida de uma anistia meia-boca”. Observem o poder político civil, ainda hoje, quase pedindo licença aos militares para tocar no assunto, em busca de criar uma Comissão da Verdade, que mostre, de verdade, o que aconteceu em nosso país, de 1964 a 1985.
E agora me defronto, mais uma vez, com o povo boliviano dando exemplos de coragem, consciência política e união em defesa dos seus direitos. (Leia a matéria completa em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17287&boletim_id=800&componente_id=13243 .
Aí volto a pensar em nós. Frente aos inúmeros escândalos políticos e econômicos ocorridos em nosso país nos últimos 510 anos, cito dois exemplos em que o povo brasileiro assistiu e aceitou placidamente os acontecimentos, e que eu gostaria de ver como o povo argentino ou o boliviano reagiria a semelhantes desmandos político-governamentais:
1.O confisco da poupança no governo Collor;
2.O recente aumento salarial que os parlamentares do Congresso Nacional se presentearam, de 61,8 % (agora ganharão R$ 26,7 mil mensais, mais as vantagens que recebem além do salário), e o reajuste previsto de 5,08 % para o salário mínimo (de R$ 510,00 para R$ 538,15) que o Governo Federal fará, valor inferior ao que as entidades de defesa dos trabalhadores defendiam, e muito aquém das reais necessidades do trabalhador brasileiro, conforme diz o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) a respeito do valor que deveria ter o salário mínimo, neste trecho de um artigo publicado na folha.com, em 11.01.2011, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/858450-cesta-basica-sobe-acima-de-10-em-14-de-17-capitais-aponta-dieese.shtml : “(...) levantamento do Dieese sugere que o salário mínimo necessário para o trabalhador brasileiro cobrir despesas básicas em dezembro/2010 deveria ficar em R$ 2.227,53. O cálculo, feito com base no custo da cesta básica de São Paulo, considera gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O valor representa 4,37 vezes o mínimo vigente naquele mês, de R$ 510. (...)”
Não acredito nesta de “índole pacífica do povo brasileiro”. Acho que isso é mais um tema de marketing que pegou. Semelhante ao que é dito que “não há racismo no Brasil”. Verdades (?) que servem à manutenção do “orgulho de ser brasileiro, este povo ordeiro e trabalhador”, falácia ufanística que tanto bem faz às classes dominantes e mantém iludida e imatura a consciência política do povo.
Na verdade, acredito mesmo é que somos um povo covarde, alienado politicamente, egoísta e desagregado socialmente, vivendo em um dos países em que mais vejo ter dado certo a dominação estrangeira, que atribuo, principalmente, ao intencional e criminoso processo de destruição da nossa cultura, intensificado após a segunda guerra mundial, com o advento da TV e das redes de mídia, grandes e imprescindíveis aliadas das classes dominantes. Estas sabem que não basta só a dominação política, militar e econômica, e que a melhor forma de destruir a força de um povo é acabar com a sua cultura.

Gilvan Almeida

PS: Sou defensor de primeira hora de Evo Morales, porque observo nele coerência política e ideológica, já presente na época em que ele era um simples líder cocalero (acompanho sua vida pública desde então). Vejo o quanto que a Bolívia está crescendo, apesar dos boicotes e agressões das nações exploradoras (dentre elas o Brasil), pois está dando mau exemplo para as outras nações exploradas, de como se deve lutar pela soberania nacional. Quando a Bolívia anunciou o fim do analfabetismo, em 2008, publiquei um post colocando minhas impressões e homenagens ao louvável ato. http://gilvanalmeida.blogspot.com/2008/12/evo-morales-e-bolvia.html
Mas, ser defensor não quer dizer que estou “cego” para as incompetências, os desmandos e as atitudes incoerentes como esta que o Governo Evo tomou.

Parabéns povo boliviano!!! Que o povo brasileiro, um dia, possa ter garra semelhante à vossa.


Um comentário:

Faide disse...

Gilvan,
Acredito que estamos sim vivenciando sintomas inequívocos da covardia político-social em nosso país.A omissão,a inércia e o silêncio,são três deles...
O brasileiro está esquecendo de exercer o direito de escolha com responsabilidade e com análise na realidade em favor do excesso de propagandas(na maioria das vzs enganosas),que turvam a consciência,induzindo-os à opções errôneas,está portanto deixando de cumprir um dever cívico,colocando em risco o futuro própio e o das próximas gerações,nas quais,as decisões de agora se refletirão de todas as formas ...
Está faltando cautela e coragem aos brasileiros na hora de escolher a maior parte dos representantes e exigir o fim da estupenda diferença salarial que define o Brasil...começando pelos políticos...

Namastê!
f@ide:)