sexta-feira, 17 de junho de 2011

Paracelso, o Pai da Medicina Holística

Em 19 de dezembro de 2010, quando inteirei 30 anos de formatura em Medicina, surgiu-me a idéia de visitar minhas memórias e fazer um resgate daqueles que contribuíram com a minha formação médica, que me sensibilizaram com suas filosofias e práticas em saúde, e também com bons exemplos de vida pessoal, especialmente aqueles que lutaram contra o preconceito da própria medicina da época em que viveram, e contra o arbítrio político e religioso, e ainda por praticarem a solidariedade com os pobres.
É um resgate para uma maior valorização ainda, pois a necessidade do constante estudo se faz mais e mais presente, com o objetivo de melhor servir, reavivando a disposição de ser, um dia, um verdadeiro discípulo desses Mestres.
Já postei textos que abordaram um pouco do pensamento de dois desses Mestres: Samuel Hahnemann e Gudrun Burkhard. Hoje apresento-lhes Paracelso, pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (Einsiedeln, Suiça, 17 de dezembro de 1493 — Salzburgo, Áustria, 24 de setembro de 1541), médico, alquimista, físico e astrólogo suíço.


Gilvan Almeida

PS: Ressalto que não ouvi nenhuma citação a respeito de Hahnemann, Gudrun e Paracelso, na Faculdade de Medicina, onde, acreditem, só ouvi falar em Hipócrates, o Pai da Medicina Ocidental, na véspera da formatura, quando lemos o Juramento do Médico. Conheci-os durante a Especialização em Homeopatia.

PARACELSO
O pai da Medicina Holística


"Paracelso, sem dúvida alguma, era um grande biólogo e um médico total, que entendeu muito do esoterismo. Era esotérico porque falou muito sobre o interior do homem e também sobre a influência das estrelas sobre os seres humanos." Bernd A. Mertz

Breve biografia

Na aldeia de Einsiedeln, Suíça, em 17 de dezembro de 1493 (ou em 10 de novembro do mesmo ano), nasceu Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim. Filho de Wilhelm Bombast, médico e alquimista; e neto de Georg Bombast von Hohenheim, Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros de São João, o jovem de baixa estatura, gago e corcunda, aos três anos de idade, foi atacado por um porco que lhe mutilou o genital, fato que somado à sua aparência física, proporcionou-lhe um complexo de inferioridade que o seguiu por toda a vida.
Na infância, Theophrastus acompanhava seu pai viajando pelos povoados da terra natal, observando a manipulação das ervas usadas para curar enfermos daquela região. Dessa forma, passou a apreciar a atividade do pai, tendo recebido deste as primeiras noções sobre Teologia, Alquimia e Latim. Ainda muito jovem, foi enviado à Escola de Beneditinos do Mosteiro de Santo André. Lá, conheceu o bispo Eberhard Baumgartner, considerado um dos alquimistas mais notáveis do seu tempo.
Formou-se nos estudos tradicionais de sua época e seguiu o caminho profissional de seu pai, estudando medicina na cidade de Viena e concluindo em Ferrara.


Viagens


Viajou para vários lugares do mundo, em busca de novos conhecimentos médicos, insatisfeito com o ensino tradicional que recebeu na Academia. Foi para o Egito, Terra Santa, Hungria, Tartária, Arábia, Polônia e Constantinopla, procurando alquimistas de quem pudesse aprender algo. Ao passar pela Tartária, Paracelso conseguiu curar o filho do líder Grande Khan.

Regresso à Europa

Em Salzburgo, Áustria, tentou estabelecer-se como médico, mas foi expulso da cidade porque simpatizou com agricultores rebeldes. Após vários conflitos com colegas médicos e farmacêuticos e o próprio conselho de medicina da cidade de Basel, Theophrastus recebeu uma ordem de prisão em 1528, forçando sua fuga.
Em Wurzburg, aprendeu com outros sábios a manipulação de produtos químicos, principalmente com Tritêmio, célebre abade e ocultista do Convento São Jorge.
Viajou pelo país como uma espécie de médico-cigano, e ficou conhecido como "o médico dos pobres" até voltar para Salzburgo em 1540, convidado pelo bispo da cidade. Faleceu em 24 de setembro de 1541, com apenas 47 anos. A causa de sua morte não foi esclarecida, e seu corpo foi velado na igreja de São Sebastião. Conforme seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.

Obras

Paracelso teria adotado (ou recebido de seu pai) este apelido por ser "superior a Celso", ou seja, melhor que Aulus Cornelius Celsus, o grande médico romano do século I, autor de De Medicine, a bíblia de todos os médicos da época.
Sua vida foi pautada pelas polêmicas e conturbações que sua personalidade, pouco adequada àqueles tempos, lhe infligia. Esta frase de sua autoria exemplifica: "Ponderei comigo mesmo que, se não existissem professores de Medicina neste mundo, como faria eu para aprender essa arte? Seria o caso de estudar no grande livro aberto da Natureza, escrito pelo dedo de Deus. Sou acusado e condenado por não ter entrado pela porta correta da Arte. Mas qual é a porta correta? Galeno, Avicena, Mesua, Rhazes ou a natureza honesta? Acredito ser esta última. Por esta porta eu entrei, pela luz da Natureza, e nenhuma lâmpada de boticário me iluminou no meu caminho".
Conta-se que certa vez, Paracelso queimou em público diversos livros de Galeno e Avicena, dizendo: "Que toda esta miséria possa ir pelos ares como fumaça".
Além da medicina, era versado em filosofia e política. Mas seus escritos estão relacionados principalmente com a sua profissão e chegam a mais de 8 mil páginas. Porém, apenas uma pequena parte é conhecida e estudada.
Em 1536, publicou Die Grosse Wundartzney (Cirurgia Maior), uma coleção de tratados médicos. Escreveu ainda trinta e dois artigos e ilustrações, com previsões de eventos até o ano 2106. Para que seus escritos tivessem uma penetração maior, redigiu todos em alemão, e não em latim, como era o costume.
A linguagem aplicada em sua obra é alegórica e passível de interpretação, um recurso utilizado para que não pudesse ser acusado de feitiçaria pelo implacável mecanismo inquisitório medieval.

Médico e Místico


A visão da saúde como o equilíbrio energético do corpo, a importância da fé na cura e a inter-relação entre o homem e tudo o que o cerca são apenas alguns dos conceitos elaborados por Paracelso, há 500 anos.
Até mesmo a forma de exercitar seu ofício era contestada. Acreditava ele, que a função de um médico ia além do diagnóstico e receituário convencional; era necessário um estudo do paciente e uma compreensão da doença em aspectos como a astrologia, alquimia, magia e outras variações esotéricas. Naquele tempo era impossível dedicar-se à Medicina, sem conhecer profundamente a Astrologia
A medicina daquele tempo, baseada no pensamento do filósofo Hipócrates, acreditava que as doenças eram causadas por mau funcionamento dos fluídos do corpo humano: sangue, catarro, bílis preta e bílis amarela. Paracelso contestou e simplificou este conceito. Segundo ele, os seres materiais têm origem em quatro elementos: terra, água, ar e fogo; e três substâncias: enxofre, mercúrio e sal. Os primeiros são realidades materiais compreendidas dinamicamente. Enquanto os outros são modalidades de comportamento da natureza. Ou seja, o enxofre é combustível, o mercúrio é volátil e o sal é resistente ao fogo. Portanto, a saúde é o equilíbrio, e a doença é o desequilíbrio de todas as energias presentes no ser humano, tanto no corpo físico como espiritual.
De acordo com Paracelso, a cura apóia-se em quatro bases distintas: filosofia, astronomia, alquimia e virtus. A filosofia significa: abrir-se ao conjunto das forças naturais, observar essas forças invisíveis na penetração da realidade total e perceber o invisível no visível. A astronomia explica as influências dos astros na saúde e nas enfermidades. A alquimia torna-se útil no preparo dos medicamentos. O termo virtus é uma alusão à honestidade do médico que, através do raciocínio de Paracelso, é uma pessoa em constante evolução e aperfeiçoamento, e deve reconhecer a ação da natureza invisível no doente ou, em se tratando do remédio, como atua no plano visível. Assim, o conhecimento médico tem menos a ver com conhecimento intelectual do que com a intuição.
Paracelso fazia freqüentes associações entre Magia e Imaginação. "O visível esconde o invisível, mas apesar disso conseguimos o invisível apenas através do visível", dizia. Nesse caso, magia significa a ação direta sobre as pessoas e todos os seres, sem ajuda da matéria. Ou seja, o mago é capaz de causar efeitos físicos sem ajuda física. No livro Paracelso - Alquimista, Químico, Pioneiro da Medicina, o historiador e filósofo Lucien Braun, cita: "toda natureza invisível se movimenta através da imaginação. Se a imaginação fosse forte o suficiente, nada seria impossível, porque ela é a origem de toda magia, de toda ação através da qual o invisível (de um ou outro modo) deixa seu rastro no visível. A energia da verdadeira imaginação pode transformar nossos corpos, e até influenciar no paraíso...".
Além disso, o médico suíço reconheceu que a fé fortalece a imaginação. Isso inclui as curas milagrosas atribuídas a ele e que não foram apenas resultado dos medicamentos, mas serviram para influenciar conscientemente a ação da imaginação do próprio paciente, de modo que agisse diretamente no desejo de ser curado. Atualmente, há na medicina, o chamado placebo, uma substância sem qualquer efeito farmacológico, prescrita para levar o doente a experimentar alívio dos sintomas pelo simples fato de acreditar nas propriedades terapêuticas do produto. De certa forma, pode-se entender que Paracelso já fazia uso deste recurso há mais de 500 anos. Outro fator interessante de seu raciocínio, é que ele também associava as características exteriores de uma planta à sua função medicinal (Lei das assinaturas). Por exemplo, folhas em forma de coração foram recomendadas para doenças cardíacas.

Seu Legado

A distinta natureza da filosofia de Paracelso é consequência da visão cosmológica, teológica, da filosofia natural e da medicina à luz de analogias e correspondências entre macrocosmos e microcosmos. As especulações acerca dessas analogias tinham seriamente empenhado a mente humana desde o tempo pré-Socrático e Platônico e durante toda a Idade Média. Paracelso foi o primeiro a aplicá-las para o conhecimento sistemático da natureza.
Adepto do esoterismo, estava convencido de que o conhecimento dividia-se em cinco estádios: uma doutrina secreta, ou filosofia hermética; o misticismo; o conhecimento científico; a prática alquímica e da medicina; e a ars magna, ou arte maior, uma síntese dos quatro anteriores. Como conseqüência desse método, acreditava na existência de um princípio vital benéfico que talvez se possa comparar ao sistema imunológico. A ação de tal princípio, dizia Paracelso, devia ser preservada durante a doença, mantendo-se o doente no que chamava de expectativa higiênica. Por isso, opunha-se radicalmente aos vomitórios e sangrias usuais na época, que debilitavam o doente.
Trata, também, de filosofia e ocultismo. Sobre filosofia, escreve O livro dos prólogos e O livro das entidades, composto de quatro tratados pagãos e um teológico. Sobre ocultismo, Filosofia oculta e o Tratado das ninfas, silfos, duendes, salamandras e outros seres. Finalmente, um livro de profecias sobre o final dos tempos, com o título de Prognósticos, composto de 32 textos sobre gravuras alegóricas que recordam as do também médico e contemporâneo Nostradamus (1503-1566).
“Tudo o que digam os teólogos e sofistas contra mim não me atinge. Que me chamem de mago, feiticeiro ou sacrílego, que me tratem como os judeus ou os fariseus trataram a Cristo”, afirma Paracelso na obra Filosofia oculta.
Esse homem tem uma paixão natural, na mesma linha que outros grandes heterodoxos do Renascimento, como Giordano Bruno ou o espanhol Miguel Servet. Certamente é um gênio solitário, que tem consciência da importância de suas contribuições e da influência que exerceu sobre o establishment. “Pouco me importa que me acusem de apaixonado ou ignorante”, escreveu em O livro dos prólogos, “bem sei que dirão que minha física, minha cosmologia, minha teoria e minha prática são singulares, surpreendentes e até absurdas. Não me assustam, posso dizer-lhes, as multidões de seguidores, sejam de Aristóteles, de Ptolomeu ou de Avicena.”
O pensamento e a atitude do sábio suíço influenciaram não apenas as ciências e o ocultismo de sua época, mas até hoje são lembrados e utilizados como base de estudos modernos. Ele foi um homem além de seu tempo, e seu legado de obras escritas e ensinamentos compõem o que atualmente é chamado de Medicina Experimental. Formulou os primeiros conceitos da homeopatia, farmacologia, medicina psicossomática, psicologia e bioenergética.
"O que uma geração considera como o máximo de saber, é freqüentemente considerado como absurdo em gerações seguintes; e o que, num século, é considerado como superstição ou ilusão, pode formar a base da ciência nos séculos vindouros." Eis uma das grandes máximas que podemos extrair dos vários trabalhos de Paracelso. Neles se vê que uniu a teoria com a prática – aquela deve ter origem nesta, como ele defendeu. É por isso que na sua lápide tumular, em Salzburgo, na Áustria, se diz ter ele tratado doenças, consideradas incuráveis, por meio da Ciência Maravilhosa.


Texto elaborado com base em:


1.Spectrum: http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/paracelso.htm
2.Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paracelso
3.Fraternidade Rosa Cruz: http://www.fraternidaderosacruz.org/paracelso_medico_filosofo_profeta.htm
4. http://www.sca.org.br/biografias/Paracelso.pdf
5.As plantas mágicas-Botânica oculta-Paracelso-Editora Hemus
6. http://super.abril.com.br/superarquivo/1994/conteudo_114099.shtml

2 comentários:

Fátima Almeida disse...

Gilvan, lembro-me de um hino do Daime que fala assim: "as estrelas do astral que têm força pra curar, também nasce forte força nas profundezas do mar.." As pessoas antigas, contemporâneas de Irineu Serra costumavam dizer que o Daime cura tudo só não cura "sentença". A mesma coisa os Kashinauá dizem, ou seja, que o Cipó cura tudo.Parece assim que a cura depende de uma conjunção de fatores, inclusive de planetas..mas o mundo não mudou desde o tempo de Paracelso.

Ana Regina disse...

Bela lembrança Fátima querida!
Parabens pelos trinta anos de medicina Gilvan!!!
Ainda bem que seu caminho cruzou com a homeopatia no tempo que deveria ser o certo!
Grata pela sua dedicação a quem te solicita...