quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A relação médico-paciente está na UTI

Hipócrates (460 A.C.- 377 A.C.), médico grego, Pai da Medicina Ocidental, foi o primeiro médico, que conheço, a valorizar a relação médico-paciente dentro do processo de investigação, diagnóstico, prognóstico, tratamento e cura das doenças, além de dar ênfase, em sua filosofia e prática médica, à prevenção das doenças e manutenção da Saúde.
Ao longo dos séculos, especialmente com o advento do capitalismo, quando efetivou-se a mercantilização da doença e da saúde, com a criação e a consolidação do complexo industrial transnacional médico e farmacêutico, a relação médico-paciente foi perdendo espaço para a medicina tecnológica. Observemos, por exemplo, a mudança de valor dos exames diagnósticos dentro de uma consulta médica. Lembro que na faculdade, 1975 a 1980, havia uma máxima, dita por alguns professores, em que acreditei e continuo acreditando, que diz assim: “a clínica é soberana.”, ou seja, em caso de dúvida ou discordância, entre o quadro clínico do paciente e o resultado de um exame complementar, valorizar mais a clínica. Atualmente, os exames, que são denominados complementares, deixaram de ser complementares à investigação clínica, a uma boa anamnese; à criação, desenvolvimento e manutenção de uma boa relação médico-paciente, e adquiriram o papel de atores principais do ato médico, símbolos de status e modernidade médica. Para muitos pacientes, consulta boa é aquela em que são pedidos muitos exames e prescritos muitos medicamentos. O que a maioria não percebe, é que isso, muitas vezes, é uma compensação à consulta “estilo fast-food”, feita no ritmo apressado que o mundo moderno instalou em todas as atividades humanas, mas que revela na essência, ou melhor, desnuda, também, as nossas deficiências de formação profissional.Transferimos, ou nos fizeram transferir, já desde a formação universitária, a arte médica de Hipócrates, de Paracelso, de Samuel Hahnemann e tantos outros médicos notáveis, para a medicina das máquinas e dos medicamentos miraculosos.
Podemos culpar somente os médicos por essa transformação? por uma medicina que, paradoxalmente, vangloria-se de tanto desenvolvimento, mas que não vemos, na realidade do povo carente? Não; mas, por estarmos na linha de frente, junto à população, caem sobre os nossos ombros responsabilidades que deveriam ser cobradas dos distintos níveis da gestão governamental da Saúde Pública. E os lucros dos Planos de doenças, da indústria médica-farmacêutica e da mídia, que “vende a imagem da moderna medicina”, cada vez maiores.
Assim, o médico, hoje, tem somente um papel de intermediário entre o doente e os clarividentes exames diagnósticos e as drogas milagrosas. A relação médico-paciente está em extinção, pois ela não é construída se não houver o tempo necessário para a aproximação e o conhecimento mútuo entre o profissional e o paciente. A medicina está perdendo seu grande elo com o ser humano.
Samuel Hahnemann, na sistematização do modelo terapêutico homeopático colocou como fundamentos para a nova prática médica, uma filosofia homeopática, um estudo aprofundado dos medicamentos homeopáticos e restaurou, para o ato médico, a anamnese criteriosa e a relação médico-paciente.
Dentro deste princípio fiz um estudo, em diversos sites, sobre a visão de alguns autores sobre a relação médico-paciente. Selecionei alguns para vocês.

Gilvan Almeida

“A maior queixa das pessoas a respeito de seus médicos é de que eles não as ouvem. Ouvir significa não apenas quais os seus sintomas, mas também o que eles (os sintomas) significam para os pacientes.”
Eric Cassell (The Healer's Art)

“Enquanto seu papel como curadores de doença é bem conhecido, seu papel como cuidadores (de pessoas) permanece obscuro.”
Eric Cassell (The Healer's Art)

“Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença”.
William Osler

“A medicina não é apenas uma Ciência, mas também a Arte de deixar nossa individualidade interagir com a individualidade do paciente”.
Albert Schweitzer

“... Devemos todos ter em mente que o remédio mais usado em medicina é o próprio médico, o qual, como os demais medicamentos, precisa ser conhecido em sua posologia, reações adversas e toxicidade.”
Michael Balint (O médico, seu paciente e a doença)

“As ações da Medicina ligam essas duas pessoas (médico e paciente). É a natureza dessa ação na presença da relação de cura que dá à Medicina um caráter especial dentre as atividades humanas.”
Pellegrino & Thomasma (A Philosophical Basis of Medical Practice)

“... O tempo é fundamental na relação médico-paciente. Para o doente, é muito mais importante o tempo psicológico do que o tempo do relógio.”
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)

“A Medicina de hoje transforma o médico num especialista frio e impessoal, que recebe seus clientes transferidos, muitas vezes, daqueles com quem mantinham laços fraternais que uniam as famílias e as aconselhavam.”
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)

“Hoje já não vivemos a época em que a ciência médica era apenas uma arte pessoal e íntima, numa relação estreita entre médico e paciente. A sociedade interveio entre um e outro e a Medicina socializou-se.”
Genival Velloso de França (Flagrantes Médico-Legais)

“O paciente é reduzido ao papel de objeto que se conserta, mesmo que não tenha qualquer possibilidade de sair da oficina - esqueceram-se de que ele poderia ser uma pessoa a quem se ajudaria a curar, ou a capengar a seu modo na natureza.”
Ivan Illich (A Expropriação da Saúde)

“O médico que vê o seu papel apenas como curador de doenças ou lutador contra a morte fica, geralmente, sem esperanças. O médico que sabe ser sua função ajudar os enfermos ao limite de sua habilidade tem condições de oferecer algo ao paciente.”
Eric Cassell (The Healer's Art)

“Eu estou sugerindo que um paciente esclarecido é aquele no qual o processo consciente foi conectado com o processo corporal.”
Eric Cassell (The Healer's Art)

“Mas, para que a informação seja útil, o médico precisa compreender as preocupações do paciente - compreender não apenas qual é a questão, mas o que a questão significa.”
Eric Cassell (The Healer's Art)

Fonte: http://www.luizrobertolondres.com.br/ecos/busca.asp

Um comentário:

Anônimo disse...

Pai, concordo com as suas palavras. A relação médico-paciente, talvez, seja uma das mais importantes dentro da medicina que infelizmente perdeu o valor ao longo dos anos, devido sobretudo a influência do capitalismo, na minha opinião - é só fazer uma análise do sistema de saúde dos EUA, onde tudo é privado e o respeito ao paciente é mínimo. Ainda preciso aprender muito sobre esse assunto, mas pelo que já sei o modelo biomédico está sendo substituído pelo biopsicossocial, estou vendo esse assunto mais uma vez em Psicologia aplicada a saúde (já havia estudado em Saúde e Sociedade).
Assim, tenho esperanças que novos médicos que virão tenham novas concepções e passem a valorizar os ensinamentos de Hipócrates - valorizando o paciente -
Leonardo Kenzo