domingo, 8 de janeiro de 2012

A idade do arrependimento

“Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas amarras. Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.”
Mark Twain

“Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.”
Mário Quintana

Sinto-me no alvorecer desta idade, que neste texto denominei A IDADE DO ARREPENDIMENTO, pois já me pego, em alguns momentos, questionando-me a inércia, o pouco caso para com algumas coisas que eu queria e fui deixando para depois, ou não lutei com as forças que seriam necessárias para concretizar. Tantos limites auto-impostos, que de alguma forma talvez até me trouxeram menos sofrimento, mas que deixaram um sabor de frustração. Mas acredito que não haja adulto que chegue aos 50 anos e não sinta isso, e procuro entender como uma frustração natural e não como mais um drama para ficar curtindo. Reflexões da pré-3ª idade, como os poetas Mark Twain e Mário Quintana sintetizaram nestas frases acima. O primeiro alerta, previne, incentiva, mostrando que ainda há tempo, que é preciso fazer mais por si, sem se sentir egoísta. O segundo já se pega em pleno remorso de não ter vivido, de ver que já não há mais tempo para viver determinadas coisas, e é sincero e conformado com o próprio fracasso, reconhecendo que viu o tempo passar, a velhice chegar e deixou de viver algo que agora se arrepende.
Há um ano reencontrei-me com uma amiga da Faculdade. Aliás, ela me encontrou, através da internet. 30 anos se passaram e, neste reencontro, nossas conversas de atualização têm mostrado que algumas realidades esmagaram muitos dos nossos sonhos. Apesar de sabermos que não há pessoa que faça tudo o que sonha e o quer para si e para o seu próximo, não dá para esconder de nós mesmos que a amargura tomou um espaço indevido em nossos corações. E isso trouxe um preço a pagar: as dores do físico e do existencial.
Quando jovem pouco se sabe que a vida futura será composta de tanta luta, da abdicação de tantos desejos, do empenho de nossas forças em trabalhos nem sempre saudáveis ou alimentadores de bem-estar, de frustrações que adoecem. A maioria dos planos revolucionários de salvar o mundo, que efervesceram em nossa juventude, vão por água abaixo, e essa transição do idealismo juvenil para o realismo da maturidade é doloroso para a maioria, e nem sempre, ou melhor, quase nunca, há o equilíbrio suficiente para fazê-la de forma harmônica.
Uma amiga da Bahia mandou-me umas reflexões de um amigo, que gostei muito e encaminhei para esta amiga da Faculdade. Mantivemos um diálogo. Selecionei uns trechos para enriquecer esta minha reflexão.


Gilvan Almeida

“....A vida é definida de muitos modos. É também um funil. No início, no meu caso, havia uma família extensa, gigantesca. Criança na fazenda, corria entre dezenas de tios - assentados nos bancos era um sem fim de pernas. Minha mãe tinha 16 irmãos. Aquelas táboas largas no chão. Os primos eram 143. Depois os ciclos escolares, todos grupais. Os amigos da rua, a tchurma de adolescentes. A faculdade radical e festiva, ainda grupal. Depois disto começou (e começa para todos) o segundo ciclo da existência. Onde os amigos lentamente minguam. Uns vão para longe, outros tornam-se irreconhecíveis. Em consequência deixam de ser amigos. Há os que concluem que este tal sicrano é desinteressante. E a morte se manifesta; leva um de acidente. Beltrano parte antes da hora. Quase todos morrem de cancer, por comer agrotóxico a cada dia. As vezes novas amizades são cimentadas. Algumas ficam, outras são fugazes. E lá vamos nós ficando sozinhos. Não adianta espernear. O melhor é cultivar os amigos que perduram e não alimentar muitas ilusões. Há que bastar-se.Trabalhar para bem dormir. Alimentar o intelecto, ou, se prefere, a alma. Observar a natureza. Ter paz e força interior. Os amores chegam, se instalam e passam como os carnavais. Fazer o quê? Ficam lembranças e fotos. Ser sozinho é quase inevitável. Não sofro com isto. Na verdade moro só mas não me sinto sozinho..." O amigo de minha amiga

- É Gilvan, essa pessoa conseguiu verbalizar os sentimentos que muitas vezes assolam meus pensamentos. Saudades de um tempo que eu " Devia ter amado mais, Ter chorado mais, Ter visto o sol nascer. Devia ter arriscado mais, E até errado mais, Ter feito o que eu queria fazer...” Você como sempre tocando na ferida. Obrigada por ser sempre meu amigo, mesmo distante. Graças à internet, essa tecnologia com prós e contra.
H

-Acredito que chegamos à idade do arrependimento, só que agora é o arrependimento do que não fizemos, como bem diz a letra da música Epitáfio: "...devia ter ..." Tempo em que avaliamos o que valeu e o que não valeu a pena termos sacrificado nosso tempo, nossa saúde, nosso bem estar e até mesmo dos nossos sonhos. O aspecto mais importante que venho procurando me adequar é viver este "acerto de contas existencial", sem amargura, com o mínimo possível de drama, de tristeza, procurando ser justo não só com os outros, quanto à repartição das culpas pelo que não deu certo e das vitórias conseguidas, ao mesmo tempo em que vejo o que ainda posso fazer por mim, para mim, sem me sentir egoísta.
Lembrei agora, H, de um trecho da estória do Patinho feio, que ganhei em LP, no 1º ano primário, por ter sido o melhor aluno do colégio. Há um momento em que o patinho, já cisne, volta ao galinheiro, à procura da mãe, e em um diálogo, todo rimado, responde ao galo:
"...isso agora não importa,
pois o que passou passou,
eu aqui estou para ver,
a pata que me chocou."
É isso minha amiga, o patinho tinha entendido e superado as dificuldades e os sofrimentos que viveu, e é esse o aprendizado que devemos fazer para nos desvencilharmos do passado incômodo, tarefa muito difícil para alguns (muito para mim), transmutarmos o que tanto nos machucou e ainda insiste em se manter, através das mágoas, ressentimentos, amarguras e tristezas, abrindo espaço em nossos corações para os doces frutos gerados, a paz que o controle dos desejos alimenta. Não ficarmos na vida que ainda nos resta como um “museu de sofrimentos”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não é difícil encontrar pessoas que nos digam a verdade nua e crua. O difícil é encontrar pessoas com a sensibilidade de dizer a verdade levando em consideração a nossa forma de enxergar o mundo, a nossa maneira de sentir as emoções e principalmente compatível com o momento existencial que estamos vivenciando, sem vendar os nossos olhos ao inconformismo, à busca do auto-conhecimento e à alienação do pensamento. (Janaina Figueiredo)

Luciana Santa Rita disse...

Conheci o seu blog quando procurava sobre Anaïs Nin. Confesso que tive uma leitura agradabilíssima dos posts publicados.
Parabéns!

Luciana
http://lucianasantarita.blogspot.com/

Anônimo disse...

Eu acho que não conheço niguem que não tenha se arrependido de algo.Mas creio que nesse momento de minha vida estou vivendo com muito mais intensidade.Será isso é momento ou dura para sempre?