sábado, 21 de janeiro de 2012

Plantão

Nunca gostei de dar plantão, do ambiente “de guerra” dos atendimentos de emergências. Na faculdade aprendi o básico das urgências e emergências clínicas e cirúrgicas no Pronto-socorro, e depois passei a me dedicar ao que mais me identifico dentro da Medicina: o atendimento não só à “doença do paciente” e sim ao “ser humano com sua doença”. Pedia aos colegas do plantão que quando chegassem casos de distúrbios psicológicos e somatizações (denominados pitis, na época), que encaminhassem para eu atender. Gostava de escutar os dramas e conflitos existenciais , que quase sempre estão por trás de tais casos, e vibrava quando conseguia propiciar o espaço para a pessoa desabafar toda a dor, melhorar e poder ir para casa, sem lançar mão de medicamentos psicotrópicos, que eram feitos rotineiramente, sem qualquer conversa anterior ou posterior à medicação.

Somente quando comecei a trabalhar em um Hospital Psiquiátrico, em 2006, é que realmente me identifiquei com o público-alvo e o tipo de trabalho que lá desenvolvemos, e passei a gostar de dar plantão.
São muitos os aprendizados que vivencio a cada plantão, tanto como médico quanto, e especialmente, como ser humano, no convívio com a realidade tão dura e sofrida do paciente psiquiátrico e suas famílias, reflexo da falta de prioridade das políticas de saúde pública para a área da saúde mental.
Encontrei e gostei muito desta imagem, pois mesmo gostando do plantão, há dias em que o desgaste físico e emocional é imenso. Às vezes, sinto-me assim como ela mostra. Mas me recupero e no próximo plantão estou novinho em folha.


Gilvan Almeida

Um comentário:

Luciana Santa Rita disse...

Oi amigo,

Tudo bem? Gostei do seu post e me identifiquei muito, pois na atividade que exerço só me sinto melhor quando consigo resolver problemas. Não que exista a natureza de soberba, mas por ter feito algo que faça a diferença para alguém.

Fico feliz que a sua caminhada seja na ala que você mencionou à medida que existe um verdadeiro distanciamento das necessidades do outro na sua profissão. Além de não se uma das mais rentáveis e agradáveis aos olhos humanos.

Percebo que deve existir a solidão, a ausência e o abandono dos que chegam na ala, mas continue firme no propósito e na caminhada.

Estou contigo! Força aí.

Sua amiga,

Lu