sexta-feira, 22 de junho de 2012

A infância do mago

Faço parte de uma geração em que alguns voltados para a literatura se encantaram com o escritor alemão Herman Hesse (1877-1962), prêmio Nobel de Literatura de 1946, especialmente através da leitura de suas obras mais conhecidas: Demian, Sidarta e O lobo da estepe.
Fiquei feliz quando descobri  esta quase auto-biografia de sua infância, recentemente publicada no Brasil, “A infância do mago”. Nesta pequena, em quantidade de páginas, e, ao mesmo tempo grandiosa obra, Hesse faz uma das mais belas descrições que já li sobre o fim da infância. O autor descreve os desencantos de sua “aterrissagem” na vida real do planeta, de como o pensamento mágico, a genuína inocência, a pureza de coração, a imaginação sem limites e a plena criatividade, comuns à infância, foram irremediavelmente estilhaçados pela indiferença, insensibilidade e grosseria dos adultos que o rodeavam.
Ao concluir a leitura vi que semelhante processo – desencanto e desilusão, e conseqüente amadurecimento, se a pessoa souber conduzir para este objetivo - não acontece só nesse período de transição da vida, da infância para a adolescência. Ele é experimentado também em todo momento que o ser humano está em um processo de avaliação mais intensa de sua própria existência, compreendendo melhor o que é ilusão e o que é realidade, tanto em si quanto no mundo, ou seja, vivenciando assim a des-ilusão. Se des-iludindo, a pessoa cai na real, na realidade do que é mesmo, sem fantasias. É o que acontece quando há o desencanto com uma pessoa, um trabalho, uma religião, ou qualquer outra forte ligação que se tenha. Até consigo mesmo.
A  seguir um pouco do que Hesse descreve e que mais me tocou. Observem as metáforas que ele usa para dizer do triste fim.

Gilvan Almeida

(Na escola) (...) aprendi que a confiança e a franqueza podem causar problemas, aprendi com professores indiferentes os rudimentos da mentira e da dissimulação; (...) aos poucos murchava minha floração, aos poucos aprendi, sem notar, aquela falsa canção da vida, aprendi a me curvar diante da “realidade”, das leis dos adultos, aprendi a me acomodar ao mundo “como ele é”.”(...)

“(...) Mas então (meu sonho) começou a perder sua onipotência, encontrou inimigos, dava com obstáculos por toda parte – o real, o sério, o inegável. Pouco a pouco a flor murchou, pouco a pouco o mundo ilimitado ganhou formas limitadas – o mundo real, o mundo adulto. (...)

“(...) A floresta primordial da minha vida ia se transformando, o paraíso petrificava-se à minha volta. (...) Sem que notasse, a prisão se fechou. Sem que eu notasse, a magia se dissipou à minha volta. (...) Por todo lado, o mundo se desencantava; o que antes era vasto agora se estreitava, o que antes era precioso agora se empobrecia.”

Um comentário:

Luciana Santa Rita disse...

Oi amigo,

Tudo bem? A descrição da passagem pela infância me pareceu muito rica nos detalhes e nas lembranças. Acho um dom esse resgate, pois pode levar a cura de várias condutas negativas na fase adulta. Lembro pouco da minha infância, seja datas ou momentos especiais.

Bom texto, como sempre e me levou a tentar encontrar essa fase.

Bom domingo!
Lu