quinta-feira, 7 de junho de 2012

Medicina e(é) Arte

Sansão e Dalila (1609-1610). Peter Rubens. Óleo sobre madeira (185 cm x 205 cm). National Gallery (Londres).

Detalhes pictóricos:
1.Rubens pintou atrás de Dalila uma estátua da Vênus (deusa do amor) e do seu filho, Cupido, representando a causa do destino trágico de Sansão.
2.O filisteu que corta o cabelo de Sansão tem as mãos cruzadas, simbolizando a mentira e o engano.
3.A velha em pé atrás de Dalila, fornecendo mais luz para a cena, não aparece na narrativa bíblica. Acredita-se que seja uma alcoviteira, mas o perfil adjacente ao de Dalila parece simbolizar o passado da velha e/ou o futuro de Dalila.
Fonte: http://medicineisart.blogspot.com/

Estudando as relações da arte com a medicina, encontrei em um site este quadro e a história de Sansão e Dalila, relacionando a situação que ficou Sansão, após ter seus cabelos cortados, a uma doença. Chamou-me a atenção a beleza do quadro e os detalhes pictóricos da interpretação.
Encontrei este site através de informações do escritor e professor de História da Medicina, na Universidade Católica de Brasília (UCB), Armando J. C. Bezerra, um dos maiores estudiosos do país na ligação da medicina com a arte, tendo já publicados os livros Admirável mundo médico: a arte na história da Medicina; Medicando com arte e As belas artes da medicina. Ele estuda as doenças expressadas nas obras de arte, principalmente na pintura e na literatura. Quando professor do meu filho, ele fez um seminário, dando a cada aluno um autor ou pintor, para que fosse feito um estudo das doenças presentes na obra. Ao Leonardo coube o escritor brasileiro Monteiro Lobato e seu Jeca Tatu. Estudamos juntos e aprendi muitas coisas.
Logo que pude ir a Brasília li os três livros, emprestados da biblioteca da UCB. Ampliou o meu interesse pelo tema.
No site e nos livros do Professor Armando Bezerra, há estudo de quadros e a observação de doenças nos personagens pintados e até nos próprios pintores. Interessantes as explicações patológicas da razão de Van Gogh gostar tanto da cor amarela.
Encaminhei por e-mail a foto do quadro Sansão e Dalila e os detalhes pictóricos para alguns amigos e amigas, e alguns disseram suas impressões, que coloco a seguir.


Gilvan Almeida

1.De uma professora de História da Arte, no Acre:
“O quadro é maravilhoso. O abandono ou entrega de Sansão à mulher infiel, a anatomia perfeita, e também o forte contraste de luz e sombra, típico do barroco para causar mais impacto, dramaticidade e força expressiva. A expressão de Dalila, sem a menor sombra de arrependimento e denunciando, ao mesmo tempo, uma espécie de piedade fria é de arrepiar. Algumas mulheres são de fato serpentes, por isso que homens como Aristóteles, Newton e tantos outros cientistas modernos sempre desconfiaram delas. A misoginia não existe por acaso, nada existe por acaso; se existe um nome para algo é porque faz algum sentido...
Achei interessantíssimo esse blog sobre medicina e arte.
Mas ainda penso que a perda de forças de Sansão tenha sido temporária porque se deveu ao abalo emocional, à ferida na alma e por isso que ele se recuperou, porque foi capaz da entrega absoluta, daí foi possível restaurar a sua inteireza total e voltar mais forte, aniquilando, inclusive, milhares de filisteus...
O mais interessante de tudo é o fato de que os artistas sempre foram os maiores e melhores intérpretes da história, seus fatos e personagens do que mesmo os próprios historiadores....”
F.

2.Impressionante!!! Prendeu meu olhar por mais de 30 minutos. Fiquei tão impressionada com o nível de arte, que sonhei. Seus estudos são presentes inestimáveis.
D.

3.Sim ... uma verdadeira análise de si com o mundo, como historiadora e mulher. Fico impressionada com este poder que a arte tem de nos fazer mergulhar, algumas vezes sem licença, em territórios ainda não abertos ou não explorados. Muito especial o relato desta historiadora.
Meus sentimos ainda estão flutuando por obra da arte ... entrou aonde não pensei que pudesse. A escolha e a relação que estabeleço com os homens ... pensa em uma reflexo que estou buscando digerir.
D.

4.Impressionante o quadro, sou fascinada por essas pinturas antigas, com suas sombras e luzes; algumas são de um realismo incrível, sou capaz de passar horas admirando uma. Quando li esta história fiquei chocada com a falsidade da Dalila, da mesma forma que me chocou ver como Herodíades fez a filha Salomé pedir ao pai a cabeça de João Batista em uma bandeja de prata.
T

2 comentários:

Luciana Souza disse...

Oi Gilvan
Muito bom o post. Adorei saber mais profundamente sobre a história de Sansão e Dalila.
Bjão e ótimo resto de feriado.

Luciana Santa Rita disse...

Oi amigo,

Boa noite! Olhe que os seus textos são cada vez mais instigantes. Nunca pensei em Sansão e Dalila sob o enfoque da medicina, mas sempre sob a ótica da religião e no máximo no enfoque da mulher que mais uma vez, corrompe, tal como Eva.

Gostei da tarefa que o professor do Leonardo realizou, saiu do ensino ortodoxo, buscando um pensamento sistêmico. Poderia ser replicado como caso de sucesso na aprendizagem!

Parabéns pelo texto e pela análise da sua amiga!

Bom final de semana!

Lu