sexta-feira, 5 de setembro de 2008

10. Conclusão: Alguns comentários e reflexões





-Por tudo o que vivi naqueles dias, se antes eu já gostava muito de cinema, lazer que tenho desde criança, agora estou gostando muito mais. A convivência com pessoas que trabalham na área técnica do cinema (roteiristas, diretores, produtores, etc) e também com estudantes de cinema, ampliou minha visão e interesse por esta arte. Pude ver que o cinema é muito mais do que ver um filme, e o festival é bem mais que glamour, artistas deslumbrados, tietes buscando autógrafos e fotos com seus ídolos, busca de lucros, um mundo de ficção e fantasia. Pude ver também seriedade nos realizadores, na busca honesta da divulgação da cultura nacional e internacional; a luta para a aquisição de financiamentos; os anos de pesquisa sobre a história e a elaboração dos personagens de um filme, enfim, a grande luta que é fazer cinema no Brasil.
Muito interessante era assistir aos debates que aconteciam no dia seguinte às exibições dos filmes competidores, ocasião em que diretores, atores, roteiristas e produtores, perante a imprensa especializada, jurados, críticos, estudantes de cinema e público interessado, respondiam perguntas e explicavam tudo o que estava envolvido naquele filme, desde o surgimento da idéia, até as pesquisas históricas, formação do elenco, a intenção da colocação das músicas, a fotografia, como também a simbologia, o significado do que ocorre em cada cena, qual o pensamento e a intenção do diretor em cada tomada.
Um aspecto que também considerei valioso foi ver o cinema como fator de integração cultural com outros países (Argentina, México, Colômbia, Portugal e Cabo Verde), fazendo-nos ver, através dos filmes e dos realizadores que vieram, as vivências, alegrias, dificuldades cotidianas de outros povos, tão semelhantes ao que nosso povo vive.
Outro ponto importante que observei foi a presença da comunidade gramadense dentro do evento. Presenciei grupos de escolares nos locais do festival. Alunos das escolas municipais são envolvidos antes e durante o festival com o estudo e trabalhos sobre o cinema, e há um projeto de Educação Cinematográfica nas escolas de 1º grau de Gramado, destinado à formação de público para o cinema, na faixa etária de 9 a 14 anos, com aulas de como ver cinema – educação para ver cinema (Informação de José Carlos Avelar um dos curadores do Festival). Também vi durante o evento um grupo de surdos-mudos, que pediu à atriz Ingra Liberato uma intercessão, e ela, na entrega dos Kikitos, falou em nome deles, solicitando aos realizadores a colocação de legendas em filmes brasileiros. Também fez parte da programação a exibição de filmes em onze bairros da cidade, como também os filmes que passavam à noite para os júris e convidados eram reprisados pela manhã para o público.
As vivências e as informações recebidas durante o festival ampliaram a minha visão do cinema como importante divulgador da cultura nacional, através da valorização da história, da religiosidade, da política, das manifestações artísticas populares, dos conflitos e dramas humanos; sendo também fator gerador de intercâmbio cultural, além de gerador de empregos, rendas e negócios.
Durante o Festival aconteceu o “Café e Negócios de Cinema”, com uma programação voltada para o intercâmbio e o estímulo aos negócios no setor cinematográfico.
Hoje posso entender melhor as razões deste Festival ter se transformado, em 36 anos de existência, no maior festival de cinema do Brasil e da América Latina. A filosofia do Festival de Cinema de Gramado, segundo o curador Avelar, é que ele não é um campeonato onde um ganha e os outros perdem. Ser selecionado para participar já é uma vitória para todos os participantes. Ele é fruto de uma parceria da produção cinematográfica nacional, pública e privada, tendo à frente a Prefeitura Municipal de Gramado. Hoje o Rio Grande do Sul é o 3º mercado de cinema do país, sendo o 1º São Paulo e o 2º o Rio de Janeiro.

-A cultura cinematográfica brasileira não consegue se expressar nos meios convencionais de mídia. Anualmente são produzidos, em média, 70 filmes no Brasil, com 60 a 70% do público de cinema localizado em Rio de Janeiro e São Paulo, e estimativa de 90.000.000 de espectadores em todo o país. As redes de TV e os jornais escritos dão muito pouco espaço para a divulgação destes filmes e para a crítica cinematográfica, além da maioria das 2.200 salas de cinema existentes no país estarem sempre disponibilizadas para os filmes estrangeiros, especialmente os dos Estados Unidos. Por todas estas limitações aliadas aos altos preços dos ingressos, o povo está cada vez mais distante das salas cinematográficas, daí a importância dos festivais para ampliar a divulgação do cinema nacional.

-Ver um filme me dá a oportunidade de me encontrar comigo mesmo, identificando-me com um ou mais personagens, vendo a minha própria história, obtendo muitas vezes alívio e força para continuar, ao ver como outros vivem, convivem e resolvem dramas semelhantes aos que estou sentindo. Por isto que o cinema é mágico, envolvente, porque mexe com o nosso interior, toca sentimentos nem sempre conscientes, investiga dores e amores, fazendo-nos algumas vezes vivenciar situações sofridas ou alegres, daí o choro, a tristeza, a alegria, o riso que eles nos despertam. Por isto que ele também pode ser terapêutico.
O cinema traz à tona as nossas raízes mais profundas, e a gente se vê em circunstâncias trazidas de uma maneira trágica, dramática, triste, ridícula ou cômica. É possível viver aquilo que não temos coragem, que fugimos em nossa vida cotidiana, através dos personagens, dos nossos heróis que fazem a trajetória que a gente gostaria de realizar.
Dos filmes guardamos uma lembrança afetiva, o que toca a nossa sensibilidade, pois eles despertam em nossa memória algo que já sentimos e vivenciamos, que identificamos também como nosso, tal qual o personagem representa. É bom observar, enquanto assistimos um filme, o que nos provoca impacto emocional, como fica nossa reação afetiva, o que desperta sentimentos, seja de raiva, antipatia, alegria, identificação, desprezo, pelos personagens da história. Pergunte-se o que este filme lhe diz? O quê e onde ele lhe toca? Por que gosta ou não gosta?

-Em muitos momentos sentia-me em Gramado como se estivesse em um outro país, pois é um lugar muito diferente da realidade cotidiana em que vivo. Procurei e não encontrei nas ruas mendigos, menores abandonados, guardadores de carro e cães vadios; não vi cercas elétricas nas residências – aliás, causou-me espanto ver que muitas casas nem cerca têm; nem esgoto a céu aberto ou lixo nas ruas.
Causou-me ótima impressão ouvir o Prefeito Municipal dizer que há 300 eventos por ano naquela cidade. Fiquei imaginando o fluxo de gente que circula por lá, fazendo crescer o volume dos negócios comerciais, financeiros e turísticos, ampliando e mantendo a geração de empregos, o que proporciona um alto padrão de qualidade de vida àquela comunidade.

Concluindo: tenho grande admiração pela arquitetura, em especial a estética das casas, prédios, templos religiosos e outras construções que expressam a cultura e a forma de vida e de convivência de um povo com a natureza. Gramado encheu-me os olhos de grande beleza pela influência européia, principalmente a germânica, em suas construções, conforme as fotos acima demonstram.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa Tarde Dr. Gilvan,

Tava lendo uma coluna de Jornal e me deparei com seu endereço de blog! Fiquei surpresa e animada, pensei, vai ter alguma coisa boa...
Ao abrir me deparei com a série de posts sobre o Festival de Gramado!!!
Que maravilha!!! Adorei os comentários detalhados e principalmente a reflexão final, pois me identifiquei muito com os sentimentos e sensações que o cinema te traz.
Eu participei uma vez de um Festival de Cinema em Fortaleza, o FEST RIO, que naquele ano da década de 90 se realizou lá, excepcionalmente,no Cine São Luiz , um dos ou o mais, bonito cinema que já vi - antigo e, à época, bem cuidado.
Pois bem, adoro cinema e participei de algumas mostras, apesar da profusão de imagens e informação é tudo muito bom. Imagino que participar de um desse porte e ainda mais da maneira como se deu deve ter sido mesmo maravilhoso.

Senti falta, ou me passou despercebido, os seus filmes preferidos do festival, qual vc amou, e quais vc recomendaria.

Um grande abraço,
qdo 'folgar' faço uma nova visita no consultório.

Patricia Azevedo

Anônimo disse...

Gilvan, gostei da exposição que fizeste do festival.Realmente o cinema é algo que nos encanta. Lembro da minha infância quando existia o Cine Rio Branco e Cine Acre. Gostava de ir ao matnê dia de domingo assitir filmes de Tarzan, Hércules, Zorro e muitos outros. Eu fazia coleção de gibís e levava p/vender. Lembro também das músicas do Roberto Carlos que tocava dentro do cinema. Tempo bom!
Gilvan, quais os filmes que vc votou. Quero assistir alguns ok? Um abraço! Jonas